Krakkenspit - Krakkenspit I

NOTA DO CRÍTICO
Nota do Público 5 (1 Votos)

Quebrando o jejum de sete anos sem lançar um material inédito, o quarteto goianiense Krakkenspit retoma as atividades em estúdio e lança Krakkenspit I, seu primeiro EP e sucessor da demo Fear My Name.


Uma guitarra ácida e azeda entra em cena, solitária. Quase como um aviso de que algo perigoso está a caminho, ela, sob domínio de Aldo Guilherme, logo é acompanhada por uma bateria precisa que soa firme nas mãos de Bruno Dias. Curiosamente exalando toques de uma dramaticidade chorosa, Lava Pit tem uma ampliação no quesito sombrio no instante em que inicia seu primeiro verso. De melodia linear e regida pelo vocal de timbre mediano de Márcio Cruvinel, quando assume certa maturidade sonora Lava Pit passa a comunicar a fusão de agonia com súplica. Um desespero honesto que sobressai da interpretação lírica de Cruvinel, que narra a aceitação do personagem para com o estado falsamente reconfortante da depressão. Algo que, inclusive, é associado com a relação com os demônios existentes dentro de si, cujo embate é sempre constante. A fúria, os desejos insanos e o instinto. Enfrentá-los e seguir com a vida é o principal mote de Lava Pit.


Oferecendo uma breve fusão de power metal com o heavy metal já bem estruturado, Fear My Name oferece, somente na introdução, flertes com outros subgêneros. Entre eles estão metal alternativo e raspas de doom com death, mas sempre com uma base metalizada em um compasso 4x4. Tendo o baixo de linhas sutilmente estridentes de Julian Stella como o principal elemento na ponte entre introdução e primeiro verso, a canção, nesse instante, tem lampejos interessantes de um hard rock psicodélico-progressista, o que perdura por longos momentos. Experimental, Fear My Name consegue, inclusive, comunicar referências e influências do estilo de guitarra proposto por Marcão Britto nas canções do Charlie Brown Jr.. Nesse contexto, Fear My Name aparece como um devaneio consciente sobre manipulação, que, aqui, parece estar intrínseca à prática política. A quebra de confiança, o desapontamento. A salvação está a caminho e, quando chegar, ela será temida.


Elétrica, trotante e agressiva. Sua base rítmica, curiosamente, chega a flertar com aquela de Solar Fire, faixa de Smith/Kotzen, enquanto a bateria vai desenhando linhas regadas em pedais duplos. Evoluindo para um primeiro verso cheio de suspense a partir de uma baixa na eletricidade melódica, a canção passa a ter uma participação inevitável do baixo para a aquisição do corpo melódico ideal. Contagiante e levemente swingada, Charon’s Obol oferece um enredo de base mitológica para metaforizar a perda de esperança nas pessoas e, principalmente, na bondade honesta. Em um contexto regido pela ganância e tristeza, o mau prevalece e a sociedade colhe os frutos desse comportamento. Charon’s Obol desperta, então, uma espécie de reflexão social interessante.


O trabalho é curto, é verdade. Porém, em suas três faixas, o Krakkenspit fez algo além de mostrar que em Goiânia existe somente espaço para o pop sertanejo. Com Krakkenspit I, o quarteto trouxe pressão, agressão e pitadas de azedume em uma sequência narrativa de base metalizada e melódica.


Transitando entre mitologia, introspecção e reflexões sociais, o grupo contou com a figura de Geovani Maia para criar uma finalização sonora capaz de comunicar todas as emoções propostas através das três canções. E a mixagem feita pelo profissional funcionou bem. Por meio dela, não apenas o heavy metal, mas o hard rock, o doom metal, o power metal e o death metal têm seus espaços garantidos a ponto de oferecerem angústia, calmaria e reflexão na mesma medida.


Fechando o escopo técnico, vem a arte de capa. Assinada por Sandro Cruvinel, ela esconde, através de suas cores antagônicas e chamativas, um plano de fundo trevoso. Ainda assim, os tons quentes e frios, por si só, sugerem o embate entre o bem e o mau, um diálogo expressamente proposto no trabalho.


Lançado em 03 de março de 2023 via Roadie Metal & Music, Krakkenspit I apresenta uma banda já madura e consciente de sua sonoridade. Transitando entre realidade e mitologia, o trabalho deixa em destaque a reflexão perante a psicologia introspectiva e os duelos entre a consciência e o instinto.








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Sobre o crítico musical

Diego Pinheiro

Quase que despretensiosamente, começou a escrever críticas sobre músicas. 


Apaixonado e estudioso do Rock, transita pelos diversos gêneros musicais com muita versatilidade.


Requisitado por grandes gravadoras como Warner Music, Som Livre e Sony Music, Diego Pinheiro também iniciou carreira internacional escrevendo sobre bandas estrangeiras.