NOTA DO CRÍTICO
Depois de lançar uma série de singles pelo ano de 2020, o Stoned Hare chega agora no final do segundo tempo do ano para anunciar a divulgação de seu primeiro EP. Intitulado Cigarettes and Dear Loneliness, o trabalho tem produção de Nicolas Carvalho.
Depois de um som eletrônico pairar aparentemente sem rumo no ar, uma voz firme, afinada e levemente grave surge no ambiente. It’s All About tem um tom de suspense interessante trazido pela forma como os vocais de Carvalho e Samylle Soares se apresentam. Existe química e uma boa sincronia de timbres entre eles, algo que cria uma musicalidade paralela na canção, a qual evolui para um blues tranquilo e de groove sedutor. É quase como se a música tivesse uma estrutura estilística ao modo The Smiths.
Apesar de conter um início melancólico, a faixa-título evolui para uma atmosfera pop punk que remete à sonoridade de bandas como Green Day e Blink-182. Mas não só isso. Seu ritmo remete ao rock brasileiro dos anos 2000 e tem uma levada comercial que se firma com um bom solo executado por William Barbosa e com um refrão-chiclete que não chega a ser apelativo, mas serve para atrair o ouvinte de forma mais fácil e natural.
Emotiva. Quase visceral. Candles é uma música de ritmo melancólico e levemente dramático. Os pelos do corpo do ouvinte se eriçam com a melodia abraçada pelo som do violino, responsável por marejar os olhos, mesmo fechados, de quem está atento ao lamento e, até, sofrimento do eu-lírico.
Como uma banda de quase um homem só, Stoned Hare fez um bom trabalho com Cigarettes and Dear Loneliness. Afinal, o nome do álbum está totalmente de acordo com as temáticas e as energias oferecidas ao longo das três canções. Elas transitam pela sensualidade e swing tão suavemente quanto adentram por ambientes mais melancólicos e sentimentais.
E a arte de capa vem apenas somar a essa homogeneidade de informações e sentimentos. Afinal, a capa retrata uma mulher fumando. Mas não apenas isso. Metaforicamente ou por um efeito interpretativo, a fumaça provinda do cigarro cria a impressão de mais um rosto estar presente, mas um rosto imaginado até mesmo pelo personagem da capa, o que aqui representa a saudade, a vontade. Ou melhor, a própria solidão.
Outra coisa que vale salientar é que, mesmo cantando em inglês,a dicção e a pronúncia de Carvalho são nítidas, limpas e claras, não dificultando a interpretação lírica por parte do ouvinte. Até porque, seu timbre de semelhança com Dave Grohl e Whitfield Crane que insere um tempero extra à musicalidade do grupo.
Lançado em 08 de dezembro de 2020 de forma independente, Cigarettes and Dear Loneliness é experimental e traz uma sonoridade crua, mas ao mesmo tempo oferece uma banda que merece uma aposta do mercado pelo potencial de composição, de produção de arranjos provindo de Stoned Hare.
*Crítica originalmente postada no portal Allmanaque.