Ego Kill Talent - The Dance Between

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Depois de fazer um esquenta e lembrar a vibe dos shows ao vivo com Live At The Drive-in, o Ego Kill Talent dá mais um passo no caminho do lançamento de The Dance Between Extremes, seu próximo disco. E esse passo tem nome, é The Dance Between, o novo EP do quinteto paulistano.


Um ambiente transcendental e leve surge brevemente no ambiente, quando a voz grave, mas quase onipresente de Jonathan Dörr entra em cena durante o despertar de NOW!. Essa atmosfera cósmica vai tomando a forma de um mantra conforme a música evolui. No entanto, uma quebra rítmica drástica surpreende o ouvinte. Uma explosão sonora regada em riffs metálicos, agressivos e ao mesmo tempo melódicos invadem a cena juntamente com um groove pesado, firme e preciso de Jean Dolabella. Mas não só isso, a base trazida pelo baixo de Raphael Miranda é igualmente firme e traz uma pressão extra a essa música que é uma mescla de metal com hard rock, do swing com agressividade.


O som distorcido e quase sujo das guitarras de Niper Boaventura e Theo van der Loo reforçam a semelhança sonora do quinteto com aquela apresentada pelo Alter Bridge. Em Lifeporn o ouvinte consegue sentir notas de suspense ao mesmo tempo em que se vê envolto em uma melodia de caráter mais comercial e de uma digestão mais amena. Com uma energia pra cima, a música é crescente e tem a capacidade de empolgar o ouvinte com seus grooves e riffs que, apesar de mais suaves que aqueles apresentados em NOW!, empregam uma dose extra de swing, uma vez que sua base rítmica se encontra imersa majoritariamente no hard rock.


O vocal isolado de Dörr puxa com maestria The Call, outra música que, assim como NOW!, também foi apresentada em sua apresentação no Allianz Parque, a qual originou Live AT The Drive-in. O apelo comercial aqui é ainda mais latente que em Lifeporn, afinal, a melodia soa menos agressiva, mais amena, branda e com um groove ainda mais cativante. O que The Call possui, porém, é uma ponte calcada em uma quebra rítmica que sai de uma balada para um compasso de groove mais acentuado.


Dolabella é quem puxa Deliverance com uma quebrada criada a partir de golpes precisos nos tons. O que vem depois é um hard rock com toques metalizados que criam uma balada agressivo-melódica. Com um quê de suspense, mas sem intimidar, a música caminha cativante e com uma participação do baixo tão importante quanto em NOW! no que se refere ao emprego do peso e da criação de uma base consistente. Sobre o lirismo, é como se o eu-lírico criasse um diálogo com a vida, como se esta fosse uma pessoa disposta a ouvir suas mazelas e reivindicações. Por essa razão, é possível sentir certos toques de sofrimento e tristeza naquela que pode ser a faixa mais sentimental de The Dance Between.



Um som eletrônico entra acompanhando um riff agudo e singelo de guitarra. A melancolia é um sentimento que se faz presente na melodia de Silence. Seu tom mais baixo, mais lento com um nível de harmonia que se iguala ao das demais canções faz da presente faixa uma atmosfera dramática com traços de rebeldia. É nesta música que também fica claro para o ouvinte a semelhança de timbres entre Dörr e Dave Grohl.


Swing com toques extras de sensualidade. É isso que In Your Dreams Tonight oferece ao ouvinte logo em seus primeiros sinais de vida. Concentrado nas notas quase raivosas e de energia stoner do baixo, o peso da música começa a comunicar ao espectador um provável crescente instrumental, o qual acontece no refrão. Suas frases de energia estimulante e de groove harmônico dão à música um caráter comercial estridente. Talvez isso explique o fato de a faixa ser a de maior duração de The Dance Between.


Crescente, sombrio e temeroso. O iniciar de Sin and Saints é nebuloso em sua estética hard-metalizada que mescla swing e peso. Com a melodia, o ouvinte se percebe realizando headbangings involuntários ocasionados pelo groove altamente sedutor e envolvente. Com rebeldia, revolta e ligeiros toques de agressividade, a melodia eleva a pressão do ouvinte que fica com a sensação de quero mais.


Não é preciso dizer que o Ego Kill Talent é o novo maior expoente do rock brasileiro no universo fonográfico mundial. Eles já o são desde sua estreia com Sublimated e o disco autointitulado. O que o quinteto fez, e continua fazendo, é marcando terreno com sua potência e competência.


Com The Dance Between esses atributos foram novamente alcançados. Regado no hard rock metalizado, o EP ainda caminha pelo grunge e tem embasamentos melódicos no stoner que não dificultam a digestão de suas músicas ou chegam a incomodar o ouvinte. Na verdade, mostra até certa flexibilidade e versatilidade na forma como o quinteto caminha por entre os subgêneros do rock.


Isso, claro, só é possível a partir da companhia de um bom professor, alguém que saiba guiar de forma correta a criatividade e as influências de cada um dos cinco membros do Ego Kill Talent. E isso foi muito bem executado por Steve Evetts, o produtor e também responsável pela mixagem do EP.


Lançado em 04 de dezembro de 2020 via BMG, The Dance Between é um trabalho de boa qualidade e que distribui um alento à comunidade rock nacional. Como um último degrau para o enfim aguardado lançamento do sucessor do álbum de estreia auto-intitulado, The Dance Between Extremes, The Dance Between é forte, preciso e contagiante.


*Crítica originalmente postada no Allmanaque.

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Sobre o crítico musical

Diego Pinheiro

Quase que despretensiosamente, começou a escrever críticas sobre músicas. 


Apaixonado e estudioso do Rock, transita pelos diversos gêneros musicais com muita versatilidade.


Requisitado por grandes gravadoras como Warner Music, Som Livre e Sony Music, Diego Pinheiro também iniciou carreira internacional escrevendo sobre bandas estrangeiras.