Os Extintos - Don't Stop Rocking

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Depois de alguns singles serem lançados no decorrer de 2021 e 2022, o grupo Os Extintos enfim lançou seu primeiro material. Gravado no Giant Step Studio o EP de estreia Don’t Stop Rocking segue sendo o produto cheio mais recente da banda, que anunciou, como item inédito, apenas o single The Lonely Wolf até o presente momento.


O Sol não chega a arder, mas seu calor faz suar e o corpo pedir o mar para se refrescar e a praia para descontrair. Com um frescor sexy e embrionariamente provocante, a guitarra de Nicholas Vieira vem com a proposta não apenas de promover uma ambiência atraente, mas de ousar ao trazer uma sonoridade esteticamente mista. Junto da bateria suja e precisa de Asaf Assunção, o contexto melódico comunica uma sinergia entre o funk, o soft rock e pitadas de um hard rock de aroma californiano. Sensualmente groovada através do baixo marcante e de leve estridência de Gustavo Gasperi, cuja desenvoltura muito tem de influência daquela típica de Flea, a faixa-título, a partir até mesmo do timbre e da cadência lírica estruturada por Matheus Bueno, não esconde a influência do Red Hot Chili Peppers sofrida pel’Os Extintos. Ainda assim, é curioso como a banda consegue se movimentar com versatilidade entre o funk e o hard rock e ainda promover versos de uma harmonia simples, mas atraente. Dando ênfase no caráter aveludado da voz de Bueno, que possibilita ao ouvinte uma percepção de semelhança também para com o tom de Eric Martin, a faixa-título traz consigo um enredo em que o personagem lírico se vê cansado da rotina e com um início de desmotivação. Porém, sem se dar por vencido, ele mergulha na busca por algo que rompe com o marasmo e devolva o tempero ardente da vida. Não é à toa que, nesse quesito, os versos mais marcantes sejam “no matter what is blocking, just let it go, go” e “baby don't stop rocking, you can reach the world” em uma clara mensagem motivacional para que o espectador não se estagne e continue em movimento, um movimento que pode o levar para um lugar enérgico e eletrizante.


Os cumes das montanhas ao longe começam a ter suas silhuetas bem marcadas. Conforme os segundos passam, uma claridade mística vai mostrando, com clareza, todos os detalhes do horizonte. Em seus tons arroxeados e rosados místicos, o amanhecer traz consigo uma noção enérgica contagiante. Com uma ligeira new wave proporcionada pelos sons conjuntos de agudez ácida e um grave aveludado transpirados pela união do teclado e piano amarrando a base melódica, não demora muito para que The World Ahead traga em seu cerne uma influência notável do Journey em sua estética melódica. Com o chimbal já desenhando o compasso rítmico, se mostrando gradativamente acelerado, a canção, surpreendendo as expectativas preconcebidas, mergulha em uma ambiência dramática e macia em que a guitarra solo chega a lacrimejar, enquanto seus olhos miram fixamente o longe, mas com uma visão completamente vazia por estar intensamente introspectiva. Ainda que, em alguns momentos, a sonoridade transpirada do violão forneça um misto de referências despropositadas de Victor & Léo e Malta, com especial menção às respectivas canções Borboletas e Entre Nós Dois, The World Ahead vem com uma proposta majoritariamente acústica com uma marcante participação do groove estridente do baixo. Evoluindo para um ambiente ensolaradamente morno e agradável em sua sensualidade despropositada, The World Ahead, enquanto mostra um Bueno explorando o caráter rasgado de sua voz, surpreende o ouvinte ao fornecer um lirismo ainda mais motivacional em relação àquele da faixa-título. Aqui, além da superação não de um relacionamento descontinuado, mas de uma negação beirando a teimosia, a canção instiga o ouvinte a fazer uma autoanálise para buscar a mudança, a melhoria comportamental a partir da resolução de velhos erros. The World Ahead é como o renascimento, a preparação para um novo dia.


De baixo marcante, como um convite a uma dança sensual corpo a corpo, a melodia introdutória já oferece um swing contagiante e um clima latino litorâneo irresistível. Repleta de versos com participação dos backing vocals ampliando pontualmente sua harmonia, a canção consegue comunicar uma despropositada familiaridade estética com aquela criada em Locked Out Of Heaven, single do Bruno Mars. Ainda que não necessariamente mergulhada no seio do funk, tal gênero é presente, mas de maneira sutil, no desenrolar melódico. Com direito ao lap steel dando um clima havaiano ao ambiente melódico, Sweet Summer Nights traz um clima retro nostálgico agradável enquanto, mais uma vez, confere uma repentina similaridade com outra canção da Malta, Alguém. Agradável e foral, a canção é a primeira balada declarada de Don’t Stop Rocking e traz um enredo em que o personagem lírico busca a volta para a casa como um meio de se sentir reequilibrado emocionalmente e repleto de uma sensação contagiantemente solar de bem-estar. É uma faixa que comunica que o lar, ou qualquer lugar que exerça a sensação de conforto e reenergização, é o local ideal a ser buscado quando as coisas ficam tensas e as preocupações superam a consciência.


A melodia que começa a ser construída por meio do violão continua ambientando o ouvinte na praia, enquanto insere uma singela inclinação à sonoridade do flamenco. Minimalista em estrutura, mas conseguindo, a partir dessa estética, ser contagiante, Born For The Sign chega a fazer os pelos do corpo se eriçarem ao fornecer um ápice melódico preciso em seu movimento sensualmente funk. Apresentando um cantor explorando mais de seus alcances vocais e um baterista, por meio de um groove sincopado, trazer uma cadência sonora mais acelerada e compassiva, a canção apresenta subdivisões bem definidas que comunicam a desenvoltura musical d’Os Extintos, enquanto traz um lirismo enérgico e instigante. Tal qual canções como a faixa-título e The World Ahead, Born For The Sign traz um forte intuito motivacional que não apenas instiga, mas excita o ouvinte a, inspirado no lirismo, procurar por algo que motive, que o retire do ócio. Que torne sua vida intensa e ferva seu sangue. É a vida simplesmente chamando para ser vivida da forma mais visceral possível.


Não existe qualquer sinal de virtuosismo. Em compensação, o que há é uma consciência musical. Essa é a principal qualidade que Os Extintos transpira em Don’t Stop Rocking. Como primeiro EP, o material surpreende por apresentar uma sonoridade firme e, principalmente, precisa em suas experimentações estéticas.


Musicalmente maduro em sua totalidade, o EP apresenta ao público um grupo sem medo de estampar suas influências e ousado em fundi-las em um contexto que propicie uma sonoridade própria e seu entrosamento com enredos líricos de naturezas incentivadoras, enérgicas e motivadoras.


É fato que são apenas quatro canções, mas ao passo que são executadas, o ouvinte caminha por terrenos reflexivos, alegres, tropicais, praianos e macios. Uma conjuntura de ambiências que propicia o senso de emoções que vão da plenitude, transitam pelo nostálgico e atingem a excitação.


Com grandes e potentes obras lírico-melódicas como a faixa-título, The World Ahead e Born For The Sign, o ouvinte não apenas sente prazer e vontade pela vida, mas aprende a superar questões comportamentais conflitantes e cria consciência da necessidade de encontrar algo que devolva as cores, a vivacidade e a energia para com a arte de viver.


Não é possível negar que, mesmo com esses caráteres inspiradores, Don’t Stop Rocking seja um EP que agrada às massas e que, portanto, atinge os interesses radiofônicos. Ainda assim, ele não se mostra um produto apelativo, mas, sim, harmonicamente e melodicamente bem construído, de maneira a dar ênfase, também, às boas pronúncia e dicção do idioma inglês feito por Bueno.


Com o auxílio da produção e mixagem de Alexandre Siqueira, essas qualidades ficam latentes enquanto, no caso da sonoridade, ela se mostra firme, madura, bem equalizada e, portanto, audível em todas as suas camadas. A partir daí, o ouvinte percebe, entre a fusão do soft rock, do rock alternativo, hard rock, new wave e do funk uma miscelânea de influências que vai do Red Hot Chili Pepers ao Journey.


Encerrando o contexto técnico, vem a arte de capa. Assinada por Lakshan Lawrence, ela traz um senso místico e caseiro que evoca, curiosamente, a ideia de ser o chamariz de um produto progressivo. Entre suas diferentes tonalidades de azul e a disposição do busto dos quatro integrantes, a obra é a parte mais fraca do material, pois comunica pouco ou nada do que os lirismos e as melodias exortam.


Lançado em 16 de dezembro de 2022 de maneira independente, Don’t Stop Rocking é um material forte, marcante e maduro de uma banda que se lança no mercado já demonstrando grande consciência tanto musical quanto de suas próprias influências. Cheio de lirismos inspiradores e motivacionais, o material surpreende pela audácia de ser tão equilibrado e contagiante enquanto um debut.

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Sobre o crítico musical

Diego Pinheiro

Quase que despretensiosamente, começou a escrever críticas sobre músicas. 


Apaixonado e estudioso do Rock, transita pelos diversos gêneros musicais com muita versatilidade.


Requisitado por grandes gravadoras como Warner Music, Som Livre e Sony Music, Diego Pinheiro também iniciou carreira internacional escrevendo sobre bandas estrangeiras.