MC J Mito - Mitolândia

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Ele vem de Itaim Paulista e teve um primeiro single lançado nos idos de 2020. Agora aos 21 anos, o MC J Mito dá mais um passo em sua carreira musical. Próximo do fim do segundo trimestre do ano, o cantor decidiu anunciar seu primeiro EP. Intitulado Mitolândia, o material é vendido como a retratação do mundo particular do MC.


Um azedo e áspero vem, de manso, rompendo o silêncio. Tão logo sua frequência aumenta, ele é acompanhado de um vocal agridoce cujo timbre não esconde a recém-saída da puberdade. É MC J Mito introduzindo uma interpretação lírica cínica, provocante e quase sussurrada ao enredo da canção que se inicia. De letra simples, chula e demasiadamente sexualizada, ela traz o ‘poder’ das nádegas como algo que ajudasse o personagem a deixar o mundo do crime. Quando MC Rangel assume os vocais, se nota que a garota em questão é blogueira e cheira a burguesia. De subgraves mansos e uma sonoridade excessivamente repetitiva, Aff Se Sua Bunda Batesse é uma canção de mensagem nula e batida simples, se comparada a de outros produtos do pancadão.


De vocal mole e debochado, Mito volta com seu vocal agridoce, mas agora para relatar um recorte de raiva, inveja e ciúme envolvendo um casal. Porém, na atitude de prejudicar uma das partes, o oposto aconteceu. E é disso que o personagem lírico se vangloria: da tentativa do outro em afetá-lo surtir no enaltecimento de sua imagem. De beat mais acentuado em relação ao da canção anterior, Só Me Fortaleceu é repleta de coloquialismos e rimas pobres que tornam o enredo mais um produto sem profundidade lírica.


Novamente vindo com um vocal que deixa nítido que as gravações do áudio foram feitas à base de sorrisos, Mito apresenta ao ouvinte, em Safadinha, mais uma canção que, assim como Aff Se Sua Bunda Batesse, é de um lirismo literal, transparente e cheio de sensualidade escrachada. Mesmo com a presença do timbre grave e rouco de Nilo, Safadinha não deixa de ser uma canção extremamente sexista e de essência machista.


Depois de um vocal metalicamente grave fazendo as boas-vindas à nova canção, J Mito surge com uma interpretação lírica sussurrada e pronúncias amaciadamente longas entre subgraves pulsantes e trotantes. A marcação de um som estridente apresenta, finalmente, a batida padrão do pancadão, o famoso ‘tum, ta, ta, tum, tum, ta’, enquanto Pede Tapa traz um enredo de submissão sexual repetitivo.


Um sonar agudo, aveludado e esvoaçante surge tomando conta do ambiente até que Mito vem com uma cadência lírica chiclete que, junto com a sonoridade desenhada pelo DJ BL, soa grudenta aos ouvidos do espectador. Entre os sons pontuais de metais que tornam Dá Um Breke outro produto que, assim como Pede Tapa, sonoramente representa o pancadão, uma voz aveludada e levemente aguda entra em cena oferecendo outro ponto de vista ao enredo sexual que comunica também um aparente relacionamento regido pelo ciúme e possessão. É Ya Malb, de uma forma no mínimo curiosa, defendendo sua autoestima e seu senso de autovalorização em meio ao desejo carnal e esnobe do outro personagem de Dá Um Breke.


De levada romântica através da inserção dos sonares de piano e flertes com a estrutura do R&B a partir da interpretação vocal assumida por Mito, Procedimento surge como a canção mais bem trabalhada de Mitolândia no sentido melódico. Com beats que efetuam a batida padrão do pancadão somados a uma cadência vocal cativante, Procedimento é a canção de lirismo mais escrachado, chulo e pobre do EP. Mesmo com a participação de Kevin, O Chris, a faixa recria liricamente o mesmo feito de Aff Se Sua Bunda Batesse pela sua excessiva transparência no linguajar. Ainda assim, é inquestionável que, com seu sexualismo romântico, Procedimento se torne também a faixa mais marcante do EP.


Ele engana pela batida amena e pelo vocal melodicamente agridoce de MC J Mito, porém, sua essência é inegável. Como um verdadeiro compilado de seis canções do chamado funk proibidão, Mitolândia é um EP que exalta a cultura sexista e machista, mas que, ao mesmo tempo, se enquadra na métrica rítmico-lírica estipulada pelo pancadão.


Sempre reverenciando a imagem do homem viril e sedento por sexo, o EP consegue apresentar um aroma jovial pubertário e, por vezes, até mesmo pueril pelas interpretações e cadências vocais assumidas pelo MC. Na maior parte das vezes com interpretações sussurradas e moles, o movimento vocal por si só comunica a sensualidade, a provocação e o desejo.


Com produção assumida entre DJ Kaio Lopes, DJ BL, DJ Wesley Gonzaga e DJ RD, Mitolândia é cheio de coloquialismos e rimas pobres que conseguem fazer com que algumas canções ganhem certo apelo popular, com especial menção a Procedimento. A faixa, além de apresentar esses requisitos, tem o acréscimo de conter um trabalho melódico mais acurado, mesmo que ainda simples.


Lançado em 15 de junho de 2023 via Warner Music Brasil, Mitolândia é o funk proibidão com aromas pueris e pubertários cujo apelo de suas canções recai exclusivamente em um público recém-chegado na puberdade. Enaltecendo o sexismo, o machismo e desmontando o conceito de sensualidade, o EP traz o sexo de forma crua e quase como um vício. Um trabalho pobre em letra, ritmo e melodia que, pela batida, certamente ganhará os holofotes desejados.











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Sobre o crítico musical

Diego Pinheiro

Quase que despretensiosamente, começou a escrever críticas sobre músicas. 


Apaixonado e estudioso do Rock, transita pelos diversos gêneros musicais com muita versatilidade.


Requisitado por grandes gravadoras como Warner Music, Som Livre e Sony Music, Diego Pinheiro também iniciou carreira internacional escrevendo sobre bandas estrangeiras.