Marvvila - Minha Vvez

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O material é sucessor ao anúncio de sucessivos singles. Como primeiro EP de Marvvila, Minha Vvez é vendido por ela como sendo o início de uma virada na própria carreira, que tem surtido em bons frutos desde que deixou a casa do Big Brother Brasil, como a marca dos 1,5 milhão de ouvintes mensais no Spotify.


Macia, serena e fresca, a canção tem um amanhecer aveludado e reconfortante que chama a atenção pela sua delicadeza. Nesse processo, mesmo que o piano choroso de Nélio Jr. tenha certo protagonismo, é o baixo de Zazá, com sua interpretação igualmente lacrimal que enfeita a base melódica a partir de sua sutileza, que marca a sonoridade inicial. Mesmo com boas doses de torpor emanadas pelo sonar adocicadamente gélido do sintetizador de Thiago Silva, a levada instituída pelo cavado tenta, de maneira consciente, fugir da dor com um confortável pagode. Surpreendentemente, o que completa o escopo melódico não é uma voz de timbre igualmente suave. Marvvila se destaca por, com seu vocal grave, aberto e com raspas nasais, trazer o sofrimento de um coração abalado pelo fim do relacionamento. Junto do timbre sutilmente fanho, mas macio de Péricles, ela tenta compreender a situação buscando a conformação em meio à dor. Não à toa que Canção Da Despedida é uma faixa que mostra um personagem se despindo de um futuro alegremente planejado e assumindo um presente desagradável, que pede força emocional para superar a doença do coração, que é a rejeição. 


Fugindo da sofrência contagiante de Canção Da Despedida, o novo ambiente traz uma alegria reenergizante e ensolarada a partir da cuíca, do sonar do hammond trazido pelo teclado e pelo compasso sorridente do pandeiro de Fábio Miudinho. #Sextei é uma canção de liberdade, de diversão, de desimpedimento e de autovalorização, mas acima de tudo, uma lição de autoestima. Ainda assim, a personagem retratada em #Sextei vive cenário semelhante àquela do indivíduo retratado na canção anterior, sendo que as únicas diferenças são o humor e o deboche com que busca pela superação de um relacionamento passado.


De início melodramático valsante, Pra Sempre Ou Nem Vem não demora em evidenciar um enredo cuja base bebe da essência do roteiro do filme Amizade Colorida. Afinal, ela apresenta um personagem que, após relações de viés puramente físico com outro alguém, por ele se apaixonou. E o drama, muito bem representado pela levada da bateria de Williams Mello, mora exatamente nessa quebra de paradigma, nesse choque entre desejo e instinto, e na vontade do coração ante a negação de uma mente teimosa. Pra Sempre Ou Nem Vem é a percepção da chama do amor por alguém que, antes, fazia apenas parte de um contrato para saciar o desejo do corpo.


Um pagode suave como veludo e floral como um jardim de grande variedade de flores aromáticas. É assim que Primeiro Encontro, com seu viés apaixonado, se apresenta ao ouvinte. Dando continuidade a um primeiro verso que narra o começo de um amor apaixonante, Alexandre Pires, com seu timbre aveludado com raspas graves e nasais, surge reforçando o acaso de uma conexão sentimental intensa. Interessante notar que, em Primeiro Encontro, até as guitarras de Ian Félix e Michel Fujiwara se encontram em uma sintonia aveludada e hipnotizada pelo ar romanceado. Uma verdadeira antítese ao enredo de Canção Da Despedida.


O teclado de notas aveludadas de Rafael Castilhol dá passagem para um amanhecer ensolarado e convidativo de verão. Swingada, seu movimento melódico inicial recria a mesma energia existente em Quero Toda Noite, single de Fiuk feat. Jorge Ben, enquanto a narrativa apresenta um momento nostálgico pós-relação. Com uma bateria bem marcada e presente, a sensualidade de Maliciosa aumenta enquanto o enredo confirma a nostalgia de tudo aquilo que envolve o outro alguém que um dia foi alvo de um amor recíproco. Contagiante e de caráter radiofônico, Maliciosa conta com a presença do vocal aveludado e suave de MC Kevin, o Chris, que desmonta a ideia inicial de um romance não mais existente e esclarece a necessidade de o par apenas seguir cada passo a seu tempo para que os ideais de um futuro conjunto sejam alcançados de forma natural. Assim como #Sextei, Maliciosa é outra faixa de Minha Vvez que atende o gosto das massas.


É com um pagode animado, swingado, macio e romântico que Marvvila se apresenta oficialmente ao mercado fonográfico brasileiro. De estruturas que mesclam as antíteses de melancolia e alegria, Minha Vvez é o enredo que apresenta um indivíduo em busca do amor, da paixão e da peça que completa o quebra-cabeça do coração.


Nesse processo de hipnótico romance, os produtores Umberto Tavares, Jefferson Júnior e Silva conseguiram fazer com que a mescla de samba e pagode não soasse igual nas cinco canções. Junto da mixagem de Gabriel Vasconcelos, as melodias que preenchem os enredos de amor e saudade de um relacionamento não mais existente se apresentam transparentes, nítidas e de estruturas diferenciadas. 


E Maliciosa é um grande exemplo dessa virtude alcançada pelo corpo técnico. Afinal, ela, mesmo tendo a base no pagode, tem uma levada diferente com acentuações rítmicas mais precisas e groovadas que a tornam, esteticamente, a principal faixa do EP, superando até mesmo #Sextei, que atende redondamente e somente a receita das rádios.


Lançado em 23 de junho de 2023 via Warner Music Brasil, Minha Vvez é um EP que apresenta simplesmente um coração em busca de sua outra metade. Entre tristezas, nostalgias e alegrias, o trabalho é de uma contagiante maciez que cativa e envolve o ouvinte, o qual se perde nas paixões vivenciadas pelos personagens das músicas.










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Sobre o crítico musical

Diego Pinheiro

Quase que despretensiosamente, começou a escrever críticas sobre músicas. 


Apaixonado e estudioso do Rock, transita pelos diversos gêneros musicais com muita versatilidade.


Requisitado por grandes gravadoras como Warner Music, Som Livre e Sony Music, Diego Pinheiro também iniciou carreira internacional escrevendo sobre bandas estrangeiras.