Liférika - Sem Nenhum Medo de Apostar

NOTA DO CRÍTICO
Nota do Público 5 (1 Votos)

Exatamente 10 anos de estrada. Um álbum. Mudança na formação. Esse é apenas um resumo da trajetória já percorrida pelo power trio taboanense Liférika. Mas é agora, no início de 2021, que o trio decidiu comemorar seu décimo ano de existência. Essa comemoração se deu com o anúncio de Sem Nenhum Medo de Apostar, seu primeiro EP.


Distorção elevando a energia para o alto. A excitação já toma conta do ouvinte com um início regado em groove e uma sonoridade em cuja sensualidade se mostra agressiva, como o hard rock pede. Esse apenas o início de Explicações, uma música em que o lirismo retrata o mundo cão e a busca pela recompensa diária a partir da realização de obrigações burocráticas. Curiosamente, porém, não é a letra que penetra na mente do ouvinte, mas, sim, o instrumental que, de alguma forma, possui uma métrica altamente atrativa que penetra facilmente no inconsciente do espectador. Afinal, ela mistura puberdade com maturidade de uma forma sedutora, o que a torna um bom single.


Tiago Sorrentino é quem puxa a entrada de Cartas na Mesa com a típica contagem de tempo com as baquetas. Após o número quatro, entra uma explosão ao estilo hardcore que parece ter sido fita única e exclusivamente para uma roda Mosh, pois com seu ritmo acelerado, ela estimula o bate cabeça. E não é apenas de velocidade que se faz a melodia da canção. Ela tem Diego Oliveira trazendo uma guitarra adolescente, viril e cheia de malandragem sensual em suas linhas melódicas. Curiosamente, enquanto o som exala essas características, o baixo de Adriano Nascimento coloca detalhes extremamente sutis do stoner rock a partir da maneira como sua afinação é pronunciada.


E por falar em baixo, é ele que chama por Então, É Isso?, single lançado ainda em 2020. Sombrio como a noite sem a luz do luar e com uma raiva embrulhada em seus olhos, esse instrumento chama por uma melodia groovada que caminha para uma mescla frases pop punks que em muito lembram The Offspring e hardcores que remetem Bad Religion. A letra, por sua vez, não tem raiva ou ódio, mas sim notas de desgosto frente a pessoas de caráter falso.


É verdade que o Liférika já se mostrou um conjunto roqueiro. Mas é difícil não notar a tamanha semelhança entre a introdução de Baby Drunk e o início de In My Place, single do Coldplay. Afinal, em ambas quem puxa o instrumental é uma bateria lenta e solitária. Mas é claro que essa igualda

de logo se dissipa com a entrada de uma guitarra raivosa e pesada que, em meio a dedilhados, traz uma letra jovial e sensual que retrata o perfil de uma jovem. Outra canção com forte potencial de single.


Lama já traz uma melancolia que ganha peso com o canto mais triste e sem fôlego de Oliveira, que exala sua infelicidade, sofrimento e a tristeza propriamente dita. Com o cantarolar onipresente Nascimento a canção ganha ainda notas dramáticas que crescem em um refrão de protesto contra a ganância e da falta de empatia. Tanto que a frase “É a ganância que jorra a lama” fica encrustada no ouvido do espectador passando e repassando inúmeras vezes.


De melodia calcada no blues vem Veneno, uma música de frases tranquilas e contagiantes que, junto ao refrão, trazem uma história em terceira pessoa que traz uma personagem teimosa e que machuca os outros sem medir as consequências. Em meio a tudo isso, a melodia caminha da calmaria para uma raiva e uma agressão mais contida em relação ás das músicas anteriores, mas ainda entregam distorção e toques de grunge à melodia.


Assim como fez Explicações no despertar de Sem Nenhum Medo de Apostar, Nada Mudar repete a mesma estrutura no adormecer do EP. Ritmo acelerado, melódico, com energia contagiante que eleva o ânimo do ouvinte ao máximo. É assim que a faixa se apresenta. Um dos pontos mais interessantes da música é o ponto de transição do verso com o refrão. A frase criada pelos instrumentos ganha tanta atenção do ouvinte pela sua estrutura que pode até ser considerada o detalhe de conquista e atração do público.


É por essas razões que Sem Nenhum Medo de Apostar imprime ao Liférika uma sonoridade juvenil, impulsiva e malandra. Mas é possível notar também traços de amadurecimento e de criação de consciência de mundo. Tudo a partir do instrumental apresentado.


Misturando elementos do stoner rock, hardcore, hard rock, pop punk, punk rock e grunge, as melodias do EP são majoritariamente pesadas, sujas e com traços de sensualidade que facilmente conquistam o ouvinte. E nisso, a bateria com seus grooves característicos de cada subgênero tem grande responsabilidade.


Por isso o ouvinte fica com aquela expectativa de ver Alexandre Andrade reproduzindo tais frases em performances ao vivo. Só assim o peso das canções poderá ganhar um significado real.


E esse peso, que tem o intuito de transmitir a ideia de enfrentamento também está imersa na arte de capa. Feita por André Honorato, ela apresenta os integrantes em posições de combate em uma perfeita alusão ao nome do EP. Afinal, a sensação que a ilustração passa é que os integrantes do Liférika estão Sem Nenhum Medo de Apostar.


Lançado em 05 de fevereiro de 2021 de forma independente, Sem Nenhum Medo de Apostar tem produção de Hebberty Taurus e traz muitas influências, as quais vão desde Raimundos e The Offspring até Bad Religion e Pennywise. Um EP de peso sem perder a brasilidade.





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Sobre o crítico musical

Diego Pinheiro

Quase que despretensiosamente, começou a escrever críticas sobre músicas. 


Apaixonado e estudioso do Rock, transita pelos diversos gêneros musicais com muita versatilidade.


Requisitado por grandes gravadoras como Warner Music, Som Livre e Sony Music, Diego Pinheiro também iniciou carreira internacional escrevendo sobre bandas estrangeiras.