Leco Moura - Decomposição

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Antes, a música. Depois, foi do campo das palavras para o da reflexão e do pensamento. Um looping narrativo então se fez. A retomada para o universo musical foi certeiro e, nele, aquelas áreas do conhecimento encontraram uma intersecção. Assim se fez Decomposição, o EP de estreia de Leco Moura.


Uma atmosfera aconchegante, confortável e macia se constrói. Nesse ínterim, o indie é abraçado por toques singelos de psicodelia em uma melodia linear. Uma voz com base grossa e superfície fina entrega um cintilar de cores pastéis na melodia. É Leco Moura entrando em cena com um timbre afinado e um estilo de canto quase falado. Com calma, tranquilidade e fluidez, o conteúdo lírico de Sem Horizonte vai se mostrando com uma clareza crescente para o ouvinte, que identifica temas como solidão, os efeitos da vida, a falta de foco e a empatia em perceber que outros também passam por problemas.


O violão entra em cena com linhas groovadas e apresentando referências ao MPB. Mais que Sem Horizonte, em Deixa Arder o ouvinte identifica com mais clareza o quão melódica é a voz de Moura. Na presente faixa, uma música estruturada na majoritariamente na métrica voz e violão, o vocal do mineiro se mostra mais limpo, claro e com uma harmonia extasiante. Essa mesma voz, que em momentos é acompanhada de sobreposições vocais, traz à tona, e de forma leve, uma letra sobre amadurecimento. A melodia estruturada no refrão é capaz de arrepiar o espectador pela harmonia existente entre violão e arranjo. Nesse aspecto, porém, a interpretação lírica assume grande responsabilidade. Afinal, ela se mostra com ar sentimental e aconchegante tal como os raios de Sol em um dia frio.


Assim como em Deixa Arder, as linhas de violão construídas em Peito Aberto também bebem da fonte da MPB. Porém, essas mesmas linhas apresentam, na presente faixa, um flerte com o soft rock tal como aconteceu em Mother Words, single do Extreme. Peito Aberto é uma canção que, liricamente, se usa do futebol para elaborar metáforas sobre a vida numa tentativa de mostrar que, ao viver, sempre existirão desafios. Mas com o peito aberto, tudo pode ser superado. No campo melódico, a faixa possui o instrumental mais completo. Afinal, os arranjos de Matheus Lotte, apesar de ainda se manterem na escola indie, colocaram mais movimento e cadência à canção, algo perceptível a partir do refrão. 


É curioso, mas no que tange o lirismo presente em Decomposição, muito se enxerga da influência de Chorão, póstumo vocalista do Charlie Brown Jr.. Afinal, cada uma das três faixas do EP trazem letas reflexivas sobre o ato de viver, sobre crescer e amadurecer a partir de uma linguagem acessível que fala com o jovem.


Transitando livremente entre o indie, a psicodelia e a MPB, Leco Moura conseguiu construir melodias capazes de atingir o espectador a partir da sutileza e simplicidade, fatores marcantes da harmonia do EP. Mas mais do que isso. Com a melodia e harmonia estruturadas, conseguiu informar ao ouvinte que Decomposição, o título do Extended Play, se refere única e exclusivamente ao ciclo da vida, o renascimento e a eternidade.


E nada melhor do que representar o ciclo da vida a partir da água. Seu caráter maleável e fluido indica movimento constante, indica transformação. As rochas, por sua vez, mostram rigidez, firmeza. A vida é assim, fluida e com momentos truncados pelo rigor. Essa dicotomia foi muito bem representada na arte de capa assinada por Jaoh.n.


Lançado em 05 de abril de 2021 de maneira independente, Decomposição é um EP que exala simplicidade e minimalismo. Ao mesmo tempo, é uma aula sobre a vida. Sobre saber viver. Um trabalho sedutoramente contagiante no que tange a melodia e a harmonia.

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Sobre o crítico musical

Diego Pinheiro

Quase que despretensiosamente, começou a escrever críticas sobre músicas. 


Apaixonado e estudioso do Rock, transita pelos diversos gêneros musicais com muita versatilidade.


Requisitado por grandes gravadoras como Warner Music, Som Livre e Sony Music, Diego Pinheiro também iniciou carreira internacional escrevendo sobre bandas estrangeiras.