Suck This Punch - The Evil On All Of Us

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Limeira, cidade do interior de São Paulo. É de lá que vem uma banda expoente do rock. Formada em 2015 e com o primeiro álbum sendo lançado no mesmo ano, o Suck This Punch demorou para refrescar o ouvido dos fãs. Seis anos depois, esse momento chegou. Com The Evil On All Of Us, o quarteto anuncia o segundo álbum de estúdio da carreira.


Som ambiente. Aparentemente, um ambiente de construção civil é representado. Afinal, tilintares de diversos instrumentos são percebidos. Quando uma explosão se forma, a expectativa aumenta assim como a ansiedade em descobrir o que está por vir. É no exato momento em que entra em cena uma guitarra distorcida, de riff áspero e agressivo, que o ouvinte passa a entender o universo em formação. Uma mistura entre thrash e metal é concretizada em um ritmo que transita entre versos melódicos e brutos. Quando o vocal de Tadeu Bon Scott se pronuncia em Machines, diversas referências são percebidas. O estilo de canto adotado por ele bebe da mesma fonte de cantores consagrados do subgênero, como James Hetfield e Phil Anselmo. Diferente de ambos, porém, a tonalidade de Scott é mais suave e pende para um timbre mais limpo, cujo alcance também se apresenta elevado. Ao mesmo tempo em que se percebe uma boa dicção para com o inglês provida pelo cantor, a mixagem realizada faz com que haja momentos em que o espectador tem dificuldade em ouvir nitidamente o que está sendo cantado devido à sobreposição dos instrumentos. Em contrapartida, esse mesmo espectador é presenteado com um refrão crescente e melodicamente agressivo que possui protagonismo indiscutível da guitarra de Phil Seven, cujas linhas demonstram que o músico sofre forte influência de Zakk Wylde.


Pedal duplo acelerado. A bateria de Giacomo Bianchi é quem puxa a introdução de You Are The Best Gun (Against the System) entregando peso e um groove sincopado. Logo em seguida, uma guitarra de riff limpo invade fazendo hammer on e pull off de maneira igualmente acelerada e ágil. Mas é quando o baixo de Matheus Bonon entra em cena que a música ganha corpo e suculência a partir de um groove que apresenta uma crescente de escalas cujo ápice acontece de maneira uníssona à guitarra e à bateria. Nesse momento, inclusive, o espectador percebe uma similaridade entre o final da frase com o encerramento do solo de No More Tears, single do Ozzy Osbourne. A música conta ainda com Scott se pronunciando com vocal rasgado e cuja interpretação lírica é áspera e denota grande entrega.


O som do rádio sendo sintonizado caminha lado a lado com um riff de guitarra que se posiciona ao fundo, quase como um personagem onipresente, escondido. Por conta disso, a introdução de Alone guarda uma semelhança rítmica o início de duas outras icônicas canções. Com menos força está aquela criada em She Builds Quick Machine, single do Velvet Revolver. Por outro lado, se comparada com Watch Your Words, single do Alter Bridge, é possível notar um maior parentesco estrutural. Igualdades à parte, a faixa do Suck This Punch envereda para um ambiente metalizado ante o thrash metal em uma melodia híbrida que ainda flerta com aspectos do punk e do hardcore. Abordando a forma como a solidão pode favorecer o acesso aos sentimentos mais obscuros e profundos encontrados no inconsciente, a faixa ainda apresenta uma equalização sonora afiada, fazendo dela uma forte candidata a single de The Evil On All Of Us.


Dedilhados groovados do baixo em um ambiente imerso na roupagem heavy metal puxam a introdução de Just Follows. Com uma sonoridade beirando ser a mais pesada do álbum por conta do excesso de tons graves e distorcidos da guitarra e pelo insistente emprego pontual de pedal duplo, a faixa possui, curiosamente, um caráter atraente em decorrência do groove sincopado que nela é construído. Por conta disso, Just Follows poderia ser incluída no catálogo de bandas como Black Label Society e Ugly Kid Joe.


Como lampejos de raios de Sol, o riff da guitarra banha de maneira sinistra o despertar de Shout It Out. Com uma estrutura introdutória mais melódica em relação àquela construída nas outras composições do álbum, a canção acaba ganhando um peso exacerbado a partir da entrada do primeiro verso, fazendo com que ela caminhe livremente entre o nu metal e o heavy metal. Por isso, não é algo incomum perceber semelhanças entre a sonoridade aqui firmada com aquelas existentes em canções do System Of A Down. Surpreendentemente, na faixa Scott é ousado ao inserir sobreposições vocais, sendo que uma delas é um falsete constante que se pronuncia no refrão.


Estalar de dedos cria o compasso. Mas não. Não é bubblegum ou mesmo soul. “You blind it way like a dog looking for your bones”.  É com essa frase ligeiramente cômica que We All Live in a Hole tem seu verdadeiro despertar através de um punch uníssono. Com excesso de grave, os instrumentos de corda apresentam uma nova roupagem às frases líricas acompanhadas por um instrumental minimalista no verso anterior. Essas frases moldam a base da letra, que retrata uma sociedade carniceira, egoísta e egocêntrica. 


Suspense. Surpreendentemente, Seven imprime na guitarra notas que perambulam pelos universos country e folk de uma maneira sutil e harmônica. Nessas mesmas linhas é possível identificar ares místicos e flertes com a música oriental provinda de países como Líbia, Irã e, em menor grau, da Arábia Saudita.  Coward é uma canção divida em dois momentos. Um é a primeira estrofe, de estrutura minimalista e calcada na união voz e guitarra. Aqui, o vocal se pronuncia de maneira limpa, afinada e com suspiros de um veludo intocável. O segundo momento se inicia com a segunda estrofe. De instrumental completo, baixo, guitarra e bateria parecem mais organizados e focados, sem linhas desesperadas e truncadas, o que proporciona uma atmosfera madura e resistente tal como aconteceu em Alone.


Riffs ácidos, beirando o azedo surgem como sopros de vento constantes. Como os trovões opacos pelas nuvens, a bateria se apresenta com golpes nos tons e surdo, o que surte um som abafado. Com um chamado, a tempestade eclode. Carregada, cheia de trovoadas e raios, ela é transmitida através de um uníssono metalizado, pesado e áspero. É como se o caos tomasse conta desse ambiente que retrata a negação frente a realidade. Esse, por sinal, é o tema que rege o lirismo de Blindman, mais uma faixa que se soma ao time de singles de The Evil On All Of Us.


O som de tambores e berimbaus cria uma noção de dança indígena. Com o auxílio da narração de Phil Seven, Tadeu Bon Scott lança ao ar uma reflexão, a partir de frases reflexivas ditas inteiramente em português, entre religião e espiritualidade, harmonia e respeito para com a natureza. Ritmicamente, o que os elementos percussivos fazem é imergir a base sonora no universo nordestino. Sons of War, apesar de ser a última faixa do disco, é a que mais surpreende. Afinal, ela foi construída através da união entre percussão e metais, fazendo com que a faixa seja um completo expoente do manguebeat. Quando acontece a explosão sonora, o inglês volta a dominar como idioma e o manguebeat passa a não ser o único gênero-base da faixa. Isso porque, no solo, há uma imersão híbrida entre speed metal e o hardcore.


Sem sombra de dúvidas, The Evil On All Of Us é um álbum de peso. Isso em todos os aspectos. Desde a interpretação lírica até a base rítmica formada pelo baixo e bateria, o campo mais bruto do rock é explorado. Não há, aqui, espaço para o hard rock. Apenas para seu gênero-filho, o heavy metal, e alguns amigos próximos, como o thrash metal e o metal. Fora desse círculo íntimo, o hardcore e o punk também estão presentes na conjuntura do disco, formando uma sinergia altiva.


Tudo isso é possível, claro, por conta da competência dos músicos, os quais, apesar de se mostrarem sem foco e truncados em alguns momentos, demonstraram, com clareza, existir uma química rígida e bem estruturada entre os integrantes do limeirense Suck This Punch


No quesito sonoro, o único ponto negativo é o campo da mixagem, o qual oscila em qualidade. Afinal, existem faixas em que o áudio é claro, sendo possível perceber os instrumentos e, ao mesmo tempo, compreender o que está sendo cantado. Porém, existem também aqueles instantes em que o instrumental supera a voz e, o que era para ser uma harmonia metalizada se torna um caos.


É inegável, de toda a forma, que o quarteto Tadeu Bon Scott, Phil Seven, Matheus Bonon e Giacomo Bianchi foi bem assessorado e compreendido. Marcos Nock conseguiu canalizar, a partir da produção, toda a energia e influência dos músicos e resultar na criação de um som puramente metalizado e agressivo.


Lançado em 09 de abril de 2021 via Voice Music, The Evil On All Of Us mostra muito mais do que um grupo que vive às margens da aspiração. O Suck This Punch é um conjunto original, com autenticidade e em busca de um crescimento no campo musical. E isso foi algo que ficou bem claro no álbum.

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Sobre o crítico musical

Diego Pinheiro

Quase que despretensiosamente, começou a escrever críticas sobre músicas. 


Apaixonado e estudioso do Rock, transita pelos diversos gêneros musicais com muita versatilidade.


Requisitado por grandes gravadoras como Warner Music, Som Livre e Sony Music, Diego Pinheiro também iniciou carreira internacional escrevendo sobre bandas estrangeiras.