Karnak Seti - Deadend

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Vindo do arquipélago da Madeira, em Portugal, o quarteto Karnak Seti desde 2016 ousa entregar ao clima temperado do país um clima soturno e denso a partir de sua imersão no campo do death metal. Depois de três discos lançados, o grupo agora anuncia Deadend, seu primeiro EP.


Uma explosão melódico-melancólica se firma. Existe uma maciez entristecida que deixa escorrer lágrimas tímidas pelo rosto, mas cujo sentimento é protegido por uma carapuça rebelde e agressiva. Esse é o ambiente desenhado a partir da introdução de Delinear Of The Soul. Rapidamente, esse escudo protetor da tristeza se revela por completo passo que António Jesus traz uma guitarra de riff intensamente distorcido em tom azedo que é acompanhada por uma bateria suja e um vocal em screamo que beira o gutural. Imprimindo um lirismo que narra a relação do personagem com o tempo e a forma como o orgulho impede a evolução espiritual. É curioso como ao mesmo tempo em que existe uma brutalidade, a melodia se confunde por entre elementos protagonistas do stoner rock que, na chegada do refrão assume ares de um misto de metalcore e emocore que remete a bandas como Black Veil Brides, Asking Alexandria e Bullet For My Valentine.


Sem brecha para respirar, Luís Erre recebe logo o ouvinte com um grito rasgado que é seguido por um instrumental acelerado cuja bateria de Luís Freitas oferece em seu compasso uma mistura de hardcore e o próprio death metal. Curiosamente, após um refrão brutalmente explosivo como uma tempestade torrencial, vem um amanhecer calmo e de um arco-íris translúcido. É nesse momento em que Erre surge com um vocal limpo, o que acaba permitindo ao ouvinte conhecer mais de seu timbre e notar que possui uma doçura enrijecida e pronta para ser lapidada. Suture é uma faixa que exala um descontentamento de sonhos não realizados que, apesar de ser abraçada por uma melodia mista de agressão e carinho, sobressai os sentimentos enérgicos da raiva.


Jesus é quem puxa a introdução com uma guitarra distorcida, mas de riff afinado. Quando a bateria entra em cena, um ambiente bruto crescente começa a ser desenhado de maneira a ser capaz de já atrair o ouvinte. Oferecendo uma estrutura baseada em um heavy metal mais ríspido, Majestic Guidance é uma canção recheada de versos de impacto cantados em coro como frases de ordem. Ao mesmo tempo, porém, o Karnak Seti se utiliza de uma estratégia muito usada pelo System Of A Down que é, depois de versos ásperos, trazer outro de estrutura mais melodiosa que, na presente faixa, é obtido através de um canto mais limpo e de notas anasaladas fáceis de serem percebidas.


It doesen’t matter if your heart beats within those sleeping souls”. É assim que, solitário, Erre surge quase como se estivesse pregando uma missa. Porém, não há acalento. Ao entoar “tears are coming from this new beginning” é quando, enfim, New Beginning tem seu devido despertar com um instrumental explosivo, melódico e com toques dramáticos. Mais contidas, as linhas sonoras permitem até mesmo que o ouvinte consiga degustar a contribuição do baixo de Cláudio Aguiar, cujo groove é um ingrediente responsável por imprimir grande parte da cadência rítmica. De refrão nos moldes do heavy metal, a canção exala um ar soturno em cujo sofrimento lírico ganha uma crescente notável.


É explícito que o Karnak Seti instaurou, com Deadend, uma ramificação do death metal. Afinal, a sonoridade por ele oferecida é o resultado da fusão de diversos subgêneros do rock que caminham entre o agressivo-melódico do emocore, a sonoridade metalizada e aveludada do metalcore, o compasso rápido e sujo do hardcore e uma modernidade vinda do rock alternativo.


Essa conjuntura rítmica fez nascer uma sonoridade única que, acompanhada por um lirismo interpretado por um vocal capaz de se aventurar por diferentes roupagens como a screamo, a drive, a gutural e uma mais limpa, possibilita uma aceitação maior do público bem como a chance de conquistar mais pessoas. 


Mesmo com as letras se misturando por mensagens dramático-reflexivas e até depressivas em alguns momentos, Deadend é um EP híbrido que, apesar de ter sua base no death metal, construiu uma ambiência menos bruta.


Lançado originalmente em 16 de junho de 2021 de maneira independente, Deadend é relançado em 04 de dezembro de 2021 por conta da parceria agora firmada entre o Karnak Seti e o selo UNP Music. Agressivo, bruto, mas ao mesmo tempo melódico e contagiante, o EP oferece uma nova perspectiva do death metal e abre a porta para que, desse subgênero, nasça outra ramificação rítmica.

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Sobre o crítico musical

Diego Pinheiro

Quase que despretensiosamente, começou a escrever críticas sobre músicas. 


Apaixonado e estudioso do Rock, transita pelos diversos gêneros musicais com muita versatilidade.


Requisitado por grandes gravadoras como Warner Music, Som Livre e Sony Music, Diego Pinheiro também iniciou carreira internacional escrevendo sobre bandas estrangeiras.