Hotelo - Fim

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Desde 2013, a felicidade, a paz, a astrologia e o relacionamento moldam as letras das composições da banda Hotelo. Esses ingredientes combinados narram o relacionamento de um casal em uma trilogia de EPs que, agora, se completa. Depois de Início e Meio, é chegado o Fim.


Uma voz agridoce, suave e de timbre semelhante àquele de Vitor Kley caminha pela brisa de riffs lineares em tons melódicos. Deco Martins é quem narra, sob uma perspectiva em primeira pessoa, da aceitação de uma vida a um e da descoberta de que, assumindo essa realidade também é possível acessar a felicidade. Afinal, como Martins mesmo diz no refrão, “Se eu tenho a mim, tá tudo bem!”. Eu Não Preciso de Ninguém leva em sua roupagem um som leve, calcado na união do ska com pitadas de surf rock. As linhas groovadas da guitarra base de Julinho Pettermann engrandecem e dão uma cadência atrativa à canção, que nada mais é do que um remédio contra a solidão.


Notas doces de violão se fazem presentes em um navegar melodioso. Uma essência mista de melancolia e nostalgia toma conta da introdução de Por Um Triz, uma música que, acima de tudo, aborda a liquidez do tempo, o cuidado e o afeto numa tentativa de mostrar que a vida tem seu fluxo, mas que a união e o carinho podem transformá-lo. Claro que, em meio a esse universo, existe a questão do acaso, do destino. Por isso, Martins reflete em uma frase dita como se lançada a um vento ameno e renovador “As nossas vidas por um triz”. Dando roupagem a esse clima que mistura tristeza com felicidade, saudade com futuro, união e separação, uma dupla de violões formada entre Pettermann e Tito Caviglia faz crescer a noção emotiva por meio de uma harmonia resplandecente em cujo segundo refrão se torna o ápice da conjuntura melódica. Definitivamente, um single de praia com vozes da reflexão.


A melancolia atinge níveis superiores àqueles proferidos em Por Um Triz. O violão presente na base se pronuncia amenamente reconfortante e se posiciona como um apoio emocional para a guitarra cujas notas emanam uma tristeza sofrida. Um sofrimento que, a partir do prolongamento das notas em uma afinação ao estilo havaiano, oferecem ao ouvinte a nítida sensação da lágrima escorrendo lentamente pelo rosto. A Nossa História é aquela música que funciona como um túnel do tempo, como se toda uma história fosse exibida na mente em um retrospecto que mistura felicidade com saudade. Felicidade por aquilo que foi vivido, mas saudade por aquilo que ainda poderia ser experimentado. É uma sensação comum para qualquer término de relacionamento. O adeus dói, mas às vezes, aquela perspectiva de futuro nunca realizada chega a machucar ainda mais. Apesar do término, o amor não acaba, ele sempre ficará gravado. É como Martins diz, “Vou te contar um segredo só agora: te amo mais que tudo e nada pode apagar”. É impressionante como a melodia, em união com a interpretação lírica, fazem com que o próprio ouvinte acabe tendo lágrimas percorrendo seu rosto por saudade de coisas que, às vezes, ainda nem foram por ele vividas.


É tão bonito ver como a simplicidade pode ser uma grande aliada na criação de uma melodia atraente, cativante e que conquiste não só os ouvidos, mas também o coração do ouvinte. Nesse aspecto, Fim está totalmente de acordo. Por meio de suas narrativas, ele promove um filme na mente do espectador e uma viagem de sentimentos incontroláveis. A saudade, a felicidade e a melancolia dividem de igual forma o espaço emotivo.


Por mais que as guitarras tenham sido grandes aliadas na construção de uma ambientação sensível, as notas aveludadas do baixo de Conrado Banks servem, em todas as composições, como um porto seguro. Um abraço reenergizante que protege, acalma e transmite compaixão.


Artisticamente falando, Fim também promove um desfecho nítido à sua narrativa sobre relacionamento. De uma atmosfera clara, com cores que prometem prosperidade, esperança e um mistério animador presente em Início, a vida do casal passa a se basear em uma realidade regada em tons pastéis, como acontece em Meio. Aqui, o conforto está em equilíbrio com a felicidade. Mas em Fim, vem o término. Céu preto e sem vida molda quase a totalidade de sua arte de capa. Porém, a presença do casal sentado observando esse mesmo céu, que se apresenta também estrelado, lança sugestões que transitam entre esperança e futuro. Como um todo, a capa do EP, feita por Tauanna Maia e Zique, é a personificação do destino e da ação dos astros sobre a vida.


Lançado em 22 de abril de 2021 via Sony Music Brasil, Fim é, como o próprio nome sugere, aquele EP relata o fim, o término de uma relação. De forma audaciosa e inteligente, porém, a banda Hotelo se utilizou de ritmos puramente swingados, que sugerem alegria e energia para contar o fim da narrativa da trilogia Início, Meio e Fim. Afinal, essa roupagem expulsa a tristeza e oferece uma sensação reconfortante tal como um abraço maternal.

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Sobre o crítico musical

Diego Pinheiro

Quase que despretensiosamente, começou a escrever críticas sobre músicas. 


Apaixonado e estudioso do Rock, transita pelos diversos gêneros musicais com muita versatilidade.


Requisitado por grandes gravadoras como Warner Music, Som Livre e Sony Music, Diego Pinheiro também iniciou carreira internacional escrevendo sobre bandas estrangeiras.