Fábio Cardelli - Os Olhos da Palavra

NOTA DO CRÍTICO
Nota do Público 5 (1 Votos)

Depois de A Palavra dos Olhos, Cardellicious. Desde então, os dois anos que sucederam o lançamento do EP de estreia foram usados inteiramente para o processo de produção para o trabalho posterior de Fábio Cardelli. Seguindo o mesmo viés do olhar usado no disco que lançou o músico na carreira solo, chega no mercado o EP Os Olhos da Palavra.


Com uma base harmônica à la R.E.M., Antes Que Seja Tarde tem seu início com o protagonismo de uma guitarra de riff agudo e pausado que entrega uma amenidade anestesiante. É então que uma voz afinada, quase agridoce e que refresca, na mente do ouvinte, o vocal de Vinny, toma conta do espaço. É Cardelli trazendo um lirismo leve e tranquilo sobre aproveitar a vida e amadurecimento. Por outro lado, analisando a estrutura da canção, por não conter a ponte e, portanto, não fosse o solo de Fábio Cardelli pai, ela seria completamente linear.


Em contagem crescente, Cardelli chama a introdução da faixa seguinte. Seu Nome começa com notas sutis de violão, mas que logo se dissipam e dão passagem aos golpes uníssonos da guitarra, do baixo e da bateria. É neste momento que a canção começa a ganhar peso e temperos que fazem crescer o sabor de sua harmonia. Formando uma levada que mistura elementos do hard rock, do blues e do rockabilly, a música acaba adquirindo uma sensualidade de forte cadência. E por essa razão, a letra não poderia abordar outra coisa se não o amor, o sexo e leves confusões mentais. De outro lado, a música apresenta ao ouvinte elementos interessantes que saltam aos ouvidos. O primeiro deles é a inserção, no solo, do teclado. Eles acabam por entregar um ar extraterrestre que se soma alegremente à melodia. Outro ponto, mas não menos importante, é a presença de theremins de luz tocados tanto por Cardelli quanto por Filipe Vianna. Presentes como protagonistas sonoros na ponte, eles chamam a atenção justamente pela autenticidade e heterogenia que entregam à canção.


Seguindo essa heterogenia e autenticidade, Oh! Soledad! tem seu início marcado por um dobro lap steel crescente que, de início, dá a impressão de se estar ficando bêbado, mas posteriormente entrega uma ambientação onipresente de velho oeste. A levada blues, porém, continua tão marcante como em Seu Nome. Ela é a responsável por atrair o público. Já o contágio, fica a cargo de Douglas Godoy, quem criou linhas de bateria simples, mas com um groove que seduz.


Apesar de ter apenas três faixas, o que Os Olhos da Palavra entrega é um trabalho de melodia singela, envolvente e de letras leves. Mesclando melodias dos anos 50 com os anos 80, o EP inova ainda mais ao inserir elementos eletrônicos na melodia das canções, dando a ele um crédito de retrô-modernista.


O interessante nele é que nem todas as músicas seguem as métricas preestabelecidas da música, a qual estima que uma composição deve ter introdução, verso, pré-refrão, refrão, ponte e coda. No caso de Os Olhos da Palavra a ausência da ponte não prejudica em nada, apenas entrega autenticidade.


Produzido e mixado por Cardelli, o EP também contou com a participação de Josh Newel na mixagem de Seu Nome. Não impressiona, portanto, que a faixa tenha a sonoridade mais madura e a força qualitativa de um single. É importante ressaltar que, apesar de haver destaques para alguns pontos, Os Olhos da Palavra tem qualidade em todo o seu processo. Tanto é que a capa feita entre Ana Elisa Carramaschi e Fábio Ayrosa traduz bem o título do Extended Play.


Lançado em 28 de janeiro de 2021 de forma independente, Os Olhos da Palavra é sedutor sem ser vulgar. É moderno sem esquecer o passado. É retrô sem ser antiquado. Um trabalho para se ouvir a qualquer hora e lugar. Afinal, sua alegria contagiante está a cada verso.


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Sobre o crítico musical

Diego Pinheiro

Quase que despretensiosamente, começou a escrever críticas sobre músicas. 


Apaixonado e estudioso do Rock, transita pelos diversos gêneros musicais com muita versatilidade.


Requisitado por grandes gravadoras como Warner Music, Som Livre e Sony Music, Diego Pinheiro também iniciou carreira internacional escrevendo sobre bandas estrangeiras.