Moon Taxi - Silver Dream

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No auge da adolescência. É nesse momento que, aos 15 anos de idade, o Moon Taxi retorna ao mercado fonográfico após três anos do lançamento de Let The Record Play. Aproveitando então o amanhecer de 2021, o quinteto de Nashville apresenta Silver Dream, seu sexto álbum de estúdio.


Estimulante, alegre e surpreendentemente envolvente. As notas em tons sorridentes da guitarra, mesmo que sutis, já dão uma cara feliz, leve e, de fato, alegre para Palm Of Your Hand. Em seguida, uma voz anasalada e levemente grossa, que chega a lembrar até o timbre de Adam Levine, entra em cena. É Trevor Terndrup que, entre outras coisas, apresenta o refrão chiclete “You, you, you, you got me. You got me in the palm of your hands”. Por essa razão, somada à sonoridade minimalista e tranquila da canção, a qual é calcada na guitarra e  uma bateria em que apenas o bumbo é empregado justamente para marcar o tempo, a faixa de abertura de Silver Dream tem uma roupagem que se adequa ao indie rock.


Um início de melodia dramática e triste puxa a música seguinte. Light Up, porém, apesar de ter esse despertar mais entristecido, logo caminha para uma harmonia groovada protagonizada pela linha sedutora do baixo de Tommy Putnam. É verdade também que esse groove ganha peso com a companhia da bateria de Tyler Rytter, cuja participação caminha harmonicamente com o baixo e possibilita um efeito contagiante e envolvente à canção. Assim como em Palm Of Your Hand, Light Up tem um refrão de melodia igualmente pra cima.


Com uma vibe praiana e munido de ukulele, Terndrup traz Hometown Heroes, um dos singles de Silver Dream. Nela, a participação do tecladista Wes Bailey é primordial no ato de imprimir sonoridades que flutuam pela canção e lançam referências eletrônicas. Essas referências são extremamente sutis, uma vez que o que realmente salta aos ouvidos e o conjunto voz-ukulele-bumbo. Sua melodia é sorridente, alegre e extasiante. Essa conjuntura de elementos faz que, assim como em Light Up, Hometown Heroes seja, de fato um single. Sua força comercial é inegável.


De voz mais aveludada, Terndrup traz uma música forte em potencial comercial, de melodia empolgante, grudenta e pra cima. Keep It Toghether tem elementos eletrônicos que, diferente de Hometown Heroes, preenchem sua base harmônica lhe dando um alto grau de pop eletrônico.  Nesse quesito, até mesmo a bateria se apresenta com sonoridade eletrônica e longe da acústica oferecida até então. E claro, o baixo e seu compasso firme estão lá, sempre caminhando na criação de um groove sedutor. O legal dessa canção é que sua ponte é tão envolvente e estimulante, tão bem construída que poderia se prolongar até a finalização da faixa.


Trazendo toques de sensualidade, a guitarra solo de Spencer Thomson entra em cena introduzindo Live For It. O interessante nela é que a sua melodia tem semelhanças à incorporada em uma canção distinta no que se refere ao estilo. Mesmo que sutil, ela se iguala a Fuck You, single funk do rapper CeeLo Green.  Isso durante os versos, porque no pré-refrão já se percebe uma elevação no potencial chiclete que a música já vinha construindo e nisso, a frase-ponte para o refrão “Where you go I’ll follow, where you go I’ll follow” ajuda muito. Como não poderia deixar de ser, o refrão segue essa métrica do contágio, da atração e da harmonia cativante.


Com um suspense dramático, a canção Above The Water pelo seu próprio título já se assemelha ao single Head Above Water, o qual trouxe de volta, depois de um hiato de seis anos, a cantora canadense Avril Lavigne. Não só nisso as músicas podem ser consideradas irmãs. A dramaticidade é um detalhe latente em toda a melodia de ambas as faixas, mas em proporções diferentes. Até porque uma é um registro pessoal e, a outra, um mero produto mercadológico, mas de grande potencial de single lado B.


Saindo desse baixo astral, The Beginning serve como uma catapulta recuperando o ouvinte dos confins do chão para o mais alto que se pode chegar. A faixa é uma balada pop rock que repete as linhas de bateria impressas em Live For It. Aqui, porém, existem traços do blues no riff da guitarra solo que quase passam despercebidos, tamanha a sua sutileza. E não só isso. O teclado fica mais presente com suas notas em tons que lembram a melodia gospel, pois são graves e longas.


Say já inova na melodia desde o início. O baixo, grave, firme e de notas concisas, puxa uma melodia rappeada  que, acima de tudo, estimula o ouvinte, com seu lirismo, a romper a barreira do silêncio e do medo para dizer o que sente e o que deve ser dito. E isso ecoa na mente principalmente por conta das frases de impacto “If you’re a little bit scared, be a little bit brave” e “Don’t never be afraid to say what you got to say”.


Lions, a faixa seguinte, se apresenta com uma forte personalidade eletropop. E força é o que rege também o poder de estímulo do seu conteúdo lírico, o qual, igualmente ao de Say, possui uma destreza em levantar a autoestima do ouvinte. Na presente faixa, o lirismo se usa da metáfora de leões ao fazer a autoquestão “Do we have no fear like lions?”.


Um canto acelerado, notas suaves do teclado dão o despertar de Take The Edge Off. Conforme vai evoluindo, sua melodia se mostra um misto de algo sinistro e melancólico que são reforçados pelo riff quase imperceptível da guitarra base. O importante aqui é perceber que a melodia conquista e faz com que o ouvinte se veja num estímulo involuntário de mexer a cabeça. E prosseguindo com as letras construtivas, aqui, a moral, se é que pode dizer assim, visa estimular a entrega de valor às coisas pequenas.


Na penúltima música de Silver Dream, a bateria se apresenta em linhas idênticas àquela empregada em Know You’re Enemy, do Green Day. Fora isso, a guitarra cria melodias imersas na influência da música mexicana. No entanto, One Step Away tira um pouco do brilho tão disseminado pelas melodias anteriores do disco, a fazendo parecer somente um tapa buraco.


Já na faixa-título e saideira do álbum, a melancolia se torna o sentimento protagonista disseminado pela melodia. As notas da guitarra se encontram na divisa entre o morno reconfortante e o acinzentado de uma leve tristeza. E tudo isso apenas pelos instrumentos. Afinal, Silver Dream é um instrumental que encerra o álbum de maneira calma e, como dito acima, com ar sutilmente reconfortante.


Pois é. Apesar de ter demorado três anos para finalmente ser lançado, Silver Dream oferece o Moon Taxi em ótima forma. As letras de viés construtivo e reenergizante e as melodias simples, mas capazes de construir um elo bem estruturado com o ouvinte, fazem do álbum um produto que apenas tem a somar à biblioteca sonora de 2021 que apenas está no começo de produção.


O que é interessante notar também é que, sendo justificado pelo local de origem ou não, o canto de Trevor Terndrup é pausado e naturalmente lento, de fácil compreensão às pessoas que não necessariamente domina a língua inglesa. Esse pode ser um fator que auxilia a banda na aquisição de novos ouvintes para sua base de fãs.


Produzido por Thomson, Silver Dream possui uma arte de capa de ar oitentista que é, no mínimo, psicodélica em sua somatória de elementos. Cheia de informações e regada em metáforas, ela traz questões referentes à mitologia e ao avanço da tecnologia e à consequente dependência mental desse atributo.


Lançado em 22 de janeiro de 2021 via BMG, Silver Dream é um disco que transita entre o folk e o indie rock que serve para se ouvir dançando, para se ouvir pulando. Afinal, não dá para ficar de cara amarrada quando o que a melodia oferece é, majoritariamente, alegria e incentivos positivos. Ouvir o disco, portanto, afugenta qualquer negativismo gerado por política, pandemia ou qualquer outra desestabilidade sociopolítica.


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Sobre o crítico musical

Diego Pinheiro

Quase que despretensiosamente, começou a escrever críticas sobre músicas. 


Apaixonado e estudioso do Rock, transita pelos diversos gêneros musicais com muita versatilidade.


Requisitado por grandes gravadoras como Warner Music, Som Livre e Sony Music, Diego Pinheiro também iniciou carreira internacional escrevendo sobre bandas estrangeiras.