Pablo Alborán - Vértigo

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Perto do Natal, como um presente. Indiretamente pode ter sido isso o que Pablo Alborán pensou ao anunciar seu primeiro disco da carreira. Produzido por Julio Reyes Copello e gravado em 2019 entre Miami e Madrid, Vértigo está oficialmente lançado no mercado internacional de música.


De forma amadora e até para dar um ar de informalidade, quem puxa a fila de canções do disco é El Salto, uma música de som ambiente que narra, como o próprio nome sugere, um salto. Feito na água, é como se o ouvinte conseguisse sentir o impacto e a água caminhando pelo corpo.


Com melismas ao estilo de música árabe, Si Hubieras Querido se apresenta ao ouvinte. A voz carismática e afinada de Alborán entra em seguida em união a um beat suave e opaco. Evoluindo para um ambiente de sonoridade crescente e astral, seu ápice é dramático e sofrido.


De início melancólico e minimalista, Corazón Descalzo tem mais musicalidade e um alento semelhante a de uma brisa morna depois de uma tempestade fria. Nisso, o sobrevoar das notas do violão de Lolo Álavares e do teclado de Copello tem grande influência. De lirismo ainda mais visceral que em Si Hubieras Querido, o canto de Alborán traz um ar sonhador, mas um sonho que retrata a saudade, questão que fica ainda mais sentimental com a The City of Prague Philharmonic Orchestra.


Mais animada e de energia mais pra cima, De Carne y Hueso é uma balada com elementos sonoros inéditos até então. Sons percussivos são trazidos por Richard Bravo, os quais imprimem um ar latino e dão mais cadência à canção. E por falar em ar latino, o violão Daniel Uribe traz sensualidade ao mesmo tempo em que insere regionalidade.


Como uma pausa e assumindo a forma de continuação de El Salto, vem Magalahe com seus sons ambientes de mar e ondas. E são esses sons que dão passagem para La Fiesta, uma música que desde seus primeiros instantes conquista, instiga e envolve o ouvinte com sua melodia alegre. De essência pop, a canção traz ainda elementos eletrônicos e uma letra que retrata a busca pelo amor, mas de outro ângulo, sem sofrimento e em tom de festa, como o próprio nome sugere.


Reyes, Fuentes y Vindver é outra música que se soma àquelas faixas de divisão do disco. Como aconteceu com El Salto e Magalahe, ela vem com som ambiente, mas sem mar, ondas ou água e sim com risos, quase como se retratasse a seção de gravação de Vértigo.


Eis que chega Hablemos de Amor, uma música de começo épico, mas que evolui para um coro hipnotizante e transcendental. Aparecendo de forma mais limpa, clara e quase aveludada, a voz de Alborán aparece na companhia de notas pontuais do piano. Apesar de tardia, porém, é a partir da entrada do bandoneon de José Alcobruni e do acordeon que o ouvinte se sente internamente fisgado pela melodia, pois ela caminha para uma atmosfera mais romântica e de cores suaves.


Com início em ar de suspense a partir das notas pontuais da guitarra de Uribe, Dicen é uma música envolvente, de melodia sedutora e com um refrão cujo movimento seduz o ouvinte ao ponto de instigar um headbanging suave. Além disso, a inserção de vários “uuhs” e a bateria de Aaron Sterling em grooves excitantes fazem com que o ápice da música seja chiclete.


Dramática e até com ar sombrio, Que Siempre Sea Verano quebra por completo aquela energia estimulante e alegre trazida em Dicen. Visceral e com um vocal mais amplo e de maior alcance, a presente faixa se mostra uma balada sentimental e emocionante, capaz de fazer marejar os olhos fechados do ouvinte, cuja mente está atenta a cada milímetro de som trazido nessa que pode ser a canção de maior entrega de Alborán em Vértigo.


Com força, precisão e potência, o beat de Malabares, somado ao estilo vocal de Alborán trazem sensualidade logo nos seus primeiros instantes de execução. De refrão com sonoridade eletrônica, a música se divide entre trechos com sons apenas percussivos com outros de tonalidade propriamente do universo eletrônico. Mais uma balada estimulante.
Desde La Cumbrecita é mais uma música divisória presente no disco. Trazendo cantarolares sem sentido de Alborán, ela passa quase que despercebido pelo ouvinte, que logo se viu prestando atenção em El Vendaval, a música seguinte. A faixa, por sua vez, traz de cara notas tristes e agudas por meio do piano de Adrian Schinoff que, somadas ao riff do violão de Álvarez, dão um ar sofrido. E esse ambiente se completa com um lirismo que retrata arrependimento e lamento.


O protagonismo em No Está En Tus Planes está indiscutivelmente nas mãos de José Juviano, quem imprime, com seu baixo, um groove firme e envolvente que dá cores mais vivas a uma atmosfera mergulhada no eletrônico. Com bastante sedução e swing, a música apresenta o refrão mais chiclete de todo Vértigo. Além de envolvência, o ápice  canção traz solo de guitarra e um beat contagiante. Mas não só isso. Mesmo que tardio, o trio de sopro formado por Juviano, Carlos Martin e Raúl García trazem cores vivas e transbordam alegria com as notas de seus respectivos trombone e trompetes.


Sem som ambiente, mas sim com a gravação de uma conversa. É isso o que Tavira Sen Frenos é. Mais uma música divisória que se soma a Desde La Cumbrecita, Reyes, Fuentes y Vindver, Magalahe e El Salto


Liderada pelos maestros Ricardo Jaramillo e Adam Klemens, a The City of Prague Philharmonic Orchestra traz seus elementos clássicos loog no início da faixa-título, evocando sentimentalismo e sobrevoos de melancolia no ouvinte. De vocal menos visceral, mas ainda assim emocional, Alborán recheia sua interpretação com falsetes e melismas.


Como um looping narrativo, a saideira de Vértigo é uma versão acústica de Si Hubieras Querido. Nessa variação, a interpretação de Alborán fica ainda mais sentimental e até acaba ganhando sobreposições vocais. É com uma energia melancólica que o disco de estreia de Pablo Alborán chega ao fim.


Cheio de musicalidade, Vértigo é um disco que não pode ser rotulado a apenas um estilo musical. Até porque, ele caminha livremente por elementos latinos e regionais que entregam cadência e movimento às suas faixas. E isso mostra uma competência singular por parte de Alborán.


Mixado por Nicolás Ramirez, cada um dos músicos presentes pôde ter a sua participação nitidamente percebida pelo ouvinte. Afinal, a linha sonora composta pelo time rítmico recrutado por Alborán, que inclui ainda Nicolás De la Espriella, Federico Vindver, Carlos Fernando López, Natalia Hernández, Manuela Lopez Lambuley e Nuevo Filarmonía é nada menos que competente.


Lançado em 11 de dezembro de 2020 via Warner Music, Vértigo é um disco sedutor e que apresenta, sem rigidez, diversos sentimentos ao ouvinte. Transitando entre a alegria transbordante e a melancolia inebriante, o trabalho de estreia de Pablo Alborán é um convite para um mix de experiências emocionais.

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Sobre o crítico musical

Diego Pinheiro

Quase que despretensiosamente, começou a escrever críticas sobre músicas. 


Apaixonado e estudioso do Rock, transita pelos diversos gêneros musicais com muita versatilidade.


Requisitado por grandes gravadoras como Warner Music, Som Livre e Sony Music, Diego Pinheiro também iniciou carreira internacional escrevendo sobre bandas estrangeiras.