Arlindinho - Combinado Não Sai Caro

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Pouco menos de um ano após lançar Meu Lugar EP02, até então seu mais recente EP, e Meu Lugar, seu terceiro álbum de estúdio, Arlindinho volta ao estúdio para gravar um novo material. Intitulado Combinado Não Sai Caro, o Extended Play, o quarto de sua carreira, dá início aos lançamentos do sambista no ano de 2023.


Uma harmonia suave e adocicada, como o perfume das flores sendo levados pelo vento em uma brisa fresca da primavera, a sintonia entre a cintilante bateria de Paulo Bonfim, o bojudo baixo de Marquinhos dos Santos, a agudez aveludada do teclado de Nélio Junior e o esvoaçante cavaquinho de Rafael Prates dá um swing amaciado à melodia. Entre o compasso rítmico estruturado pelo tamborim de Azeitona, os gritos da cuíca e a base melódica MPB trazida pelo violão de Danilo Rodrigues, a voz grave de Arlindinho preenche o ambiente trazendo um lirismo sobre ética no amor, intensidade, desejo. No fundo, porém, a faixa-título fala de indecisão no relacionamento. Misturando samba e MPB, a faixa-título é um produto cujo eu-lírico soa como um adolescente em primeiro relacionamento, com um desespero controlado em manter o romance aceso e a convivência harmônica.


Mantendo o teor floral, a melodia, ao contrário da anterior, tem a base indiscutivelmente infincada no samba. Contagiante, leve e com uma narrativa quase nostálgica, Me Belisca é como a descrição do destino fazendo seu exercício até o encontro entre duas pessoas. Ou melhor, é como a análise, feita pelo próprio personagem, de como seu coração já estava reservado para alguém que, um dia, iria chegar. E Me Belisca é isso. É a realização do encontro do amor verdadeiro e como ele consegue transformar a vida do outro. Por isso é que a agudez aveludada da flauta de Heber Poggy, mesmo que pontual e sutil, consegue traduzir, em som, o perfume e a suavidade com que o amor muda a realidade das pessoas.


Com a mesma base rítmica, mas com rompantes mais perceptíveis do surdo de Flavinho Miúdo e da agudez característica do banjo de Prates dando novos sabores à sonoridade, À Moda Antiga é uma canção que rememora e recicla comportamentos românticos hoje tidos como ultrapassados. A faixa, na verdade, nada mais é do que a descrição de um homem cujo comportamento é regido pela pureza do cavalheirismo. 


A bateria de Henrique Arcanjo entra marcando presença como primeiro elemento sonoro a ser ouvido. Rapidamente, ela é acompanhada pela flauta, pandeiro e cavaquinho. Com um tom mais descontraído e até mesmo bem-humorado, Minha Pagodeira é o enredo da conquista ao acaso. A dança e o olhar, aqui, foram elementos que atiçaram, no personagem lírico, o desejo pelo relacionamento e, de fato, a conquista do coração daquela que, com o seu, mexeu. Entre valsas uivantes do backing vocal de Eddy, dos Anjos e Débora Cruz, Minha Pagodeira é o amor nascendo através da música.


É doce. É fresco. É suave. É macio. Combinado Não Sai Caro é um EP cheio de melodias e harmonias contagiantes que, com base no samba e no pagode, vende o amor como peça-chave do relacionamento duradouro. Entre suas quatro faixas, o amor é o tema que brinda seus personagens de uma maneira que quase deixa o material meloso. Um brinde ao samba.


Com auxílio de nomes como Junior na produção e Gabriel Vasconcelos na mixagem, o EP saiu com um contágio interessante que, apesar de indiscutivelmente transpirar samba, traz consigo outros gêneros como a MPB e o próprio pagode que fez e faz o nome de Arlindinho. E é justamente essa união de gêneros que faz com que o EP não fique tão enjoativo para aqueles fora do espectro samba-pagode. Ainda assim, é inegável que, em diversos momentos, a base melódica mantinha, o que também conferiu ao material uma sonoridade mais da mesma.


Lançado em 13 de janeiro de 2023 via BMG, Combinado Não Sai Caro é um material em que Arlindinho quis investir na fórmula que já deu certo em seus EPs anteriores e que, aqui, soa, inclusive, mais maduro e à vontade em seu próprio ambiente. Um brinde ao amor. Um brinde ao pagode. Um brinde à MPB. Um brinde ao samba.

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Sobre o crítico musical

Diego Pinheiro

Quase que despretensiosamente, começou a escrever críticas sobre músicas. 


Apaixonado e estudioso do Rock, transita pelos diversos gêneros musicais com muita versatilidade.


Requisitado por grandes gravadoras como Warner Music, Som Livre e Sony Music, Diego Pinheiro também iniciou carreira internacional escrevendo sobre bandas estrangeiras.