NOTA DO CRÍTICO
Desde 2019, a boy band sul-coreana AB6IX está presente na indústria musical como mais uma expoente do k-pop. Naquele ano, inclusive, seus quatro integrantes se uniram para anunciar 6ixense, seu álbum de estreia e B: COMPLETE, seu primeiro EP. Três anos, dois singles e dois extended plays depois, eles retomam as atividades em estúdio e lançam Take A Chance, seu novo EP.
Uma temática sci-fi é introduzida a partir do teclado a seis mãos. Rapidamente, a estridência crescente flui para uma sonoridade ondulante, opaca e rappeada. Trazendo o timbre nasal e fanhoso de Daehwi como primeiro ingrediente lírico, a canção ganha um contraponto em seu sabor adocicadamente ácido. Introduzindo um leve toque de sensualidade a partir de seu tom, Donghyun surge com uma estética metálica dando uma textura mais sedutora. Fechando o primeiro verso cheio de ambiência, o grave de Woojin entrega uma cadência rappeada à Paranoia, uma faixa que se divide entre o sul-coreano e o inglês enquanto apresenta um cenário lírico regido pela intensidade, pela vivacidade e pela sedução. Paranoia ainda funde acid house com tech house, o que lhe confere a mistura de acidez e dança à sua melodia.
Novamente, o teclado surge entregando a primeira camada rítmica. Com um som ondulante e hipnótico, o instrumento coopera, inclusive, para a criação de um clima de intensa sedução. Cooperando com a questão da sensualidade, o baixo de Seo Jaehyuk entra groovado e provocante enquanto Woong traz um timbre levemente ácido e igualmente provocante ao cenário melódico. Com auxílio da bateria eletrônica e dos elementos percussivos de Ji woo geun e Robbin, aqui com especial menção ao agogô, um caráter majoritariamente latino abraça o ritmo, o deixando ainda mais cativante. Sugarcoat, como o próprio nome sugere, é uma canção grudenta e açucarada que trata a atração física, o desejo, a entrega. O sexual, aqui, é representado inclusive em sua melodia intensamente sedutora e swingada.
A guitarra de riff soturno de Min Sikyi, em união ao melisma de Woong, dá à melodia introdutória um latente parentesco estético com a melodia melancólica de Creep, single do Radiohead. Rompendo com essa tristeza contagiante, Woong e Danghyun transformam o ambiente em algo mais alegre, cativante e macio a partir de um pop com ligeiros flertes com o rock. Weightless traz um personagem imerso em uma espécie de tristeza nostálgica assimilando o término de um relacionamento, uma experiência que destaca a insegurança e a dependência no outro.
De supetão, a canção já amanhece com uma ambiência madura, sem a necessidade de uma introdução bem trabalhada. Trazendo o swing e a suavidade do reggaeton a partir do beat de Justin Oh, Complicated é uma canção de estética rítmica atraente que, entre subgraves, é repleta de harmonias construídas entre a união dos timbres dos cantores do AB6IX. Aparentando ser um contraponto de Weightless, a presente canção traz um personagem se desvalendo da majoritária responsabilidade em relação à má interação existente no relacionamento. Em verdade, Complicated é simplesmente a narrativa da tentativa de um casal em encontrar o equilíbrio no relacionamento a partir da compreensão de suas próprias antíteses de necessidade.
Um som ácido e inconstante constrói um ambiente levemente caótico. Introduzindo a roupagem do drum ‘n’ bass, Resonance flerta com a estética do hip hop a partir do beat de 9999 enquanto acompanha um personagem no caminho de extravasar todo e qualquer tipo de emoção represada. A inquietação, a rebeldia. A necessidade da sensação de liberdade associada ao autoconhecimento. Resonance, assim como Paranoia, defende a pureza da intensidade.
Suave e sensual. A introdução do novo ambiente é repleta de uma energia amena e reconfortante que logo se transforma em algo mareado. Contagiante em seu pop ao estilo Justin Timberlake, o compasso rítmico é todo dominado pelo beat de Korang-e, que dá um extra de sensualidade à Crow, uma canção que trata da essência do indivíduo e da capacidade de ampla sensibilidade em identificar o caráter nas pessoas. Em verdade, Crow é nada mais nada menos do que a aquisição da sensibilidade por parte de uma pessoa antes fria. É o peso do amor e da companhia no amaciar das emoções de alguém que se valia pela necessidade de valentia sem validade.
Fresca, animada e contagiante. Com ajuda da guitarra e do beat de Bae Art, a canção já assume um caráter sedutor e intensamente contagiante. De caráter radiofônico e dançante, Chance tem clima de uma perfeita festa. Sorridente, a canção é mais uma expoente a defender a entrega e a intensidade das ações, uma estratégia de estimular o êxtase e a excitação associada ao romance. Um perfeito encerramento de Take A Chance.
Dançante, animado e contagiante. Take A Chance é um EP de lirismos leves e melodias atraentes. Um trabalho sem o peso da reflexão, da densa interpretação ou de virtuosismos rítmicos. Um produto em prol da rádio e, principalmente, do entretenimento. Nesse sentido, o AB6IX executou um grande trabalho.
É verdade que o quarteto é mais um expoente sul-coreano do gênero k-pop, mas no EP, existe muito mais que apenas um ritmo. Afinal, entre suas sete faixas, há o pop fundido no rap, no hip hop, no reggaeton e em temáticas eletrônicas como o drum ‘n’ bass, o acid house e o tech house. Graças à experiência de MasterKey na mixagem, essa mistura resultou em um ambiente puramente dançante.
Ainda assim, Take A Chance é um EP que também experiencia sentimentos mais introspectivos, como a melancolia e o soturno que se revesam especialmente entre as faixas Weightless e Complicated. Mesmo assim, o que fica de registro definitivamente é a alegria e o swing.
Lançado em 04 de outubro de 2022 via Brand New Music, Take A Chance é um EP focado no entretenimento, na dança e no apelo popular. Contagiante, leve e alegre, o trabalho se divide livremente entre o inglês e o sul-coreano enquanto desfila harmonias criadas entre a mistura de timbres dos quatro cantores do AB6IX.