Twenty One Pilots - Scaled and Icy

NOTA DO CRÍTICO
Nota do Público 0.00 (0 Votos)

Não demorou muito. Bastaram alguns meses de intervalo para que o duo ohioan Twenty One Pilots começasse a planejar o sucessor de Trench. E pouco mais de dois anos mais tarde, ele finalmente é concretizado. Scaled and Icy está oficialmente lançado globalmente.


O astral e o extraterrestre se combinam na sonoridade que sobrevoa a introdução graças ao sintetizador. Com ela, não só a expectativa, mas também a imaginação do ouvinte é aflorada. Porém, quando a bateria abre espaço para a entrada do piano, uma levada blues ao estilo Elton John se concretiza e proporciona um contágio sedutoramente atraente. O vocal de Tyler Joseph se pronuncia com afinação aveludada em seu típico tom suavemente agudo e imputa uma cadência extra à canção. E em Good Day, apesar do nome, esse mesmo vocal narra um cenário sobre situações do cotidiano, como divórcio, divisão de bens e uma esperança que tenta prevalecer intacta mesmo em momentos de tensão.  Mas o interessante é que, pela melodia instaurada e a maneira como Joseph conta tal história, a música assume ares tragicômicos. 


Bateria eletrônica e sintetizador, uma combinação que cria uma ambiência de academia de ginástica. É curioso, mas o misto de synth-pop e electropop firmado em Chocker não constrói o movimento propriamente dito da canção. Ainda mais que em Good Day, aqui Joseph é quem se torna o responsável absoluto pela cadência rítmica por conta da velocidade do canto e da pronúncia das palavras. De estética dramática e crescente, o refrão escancara um pouco mais da mensagem lírica, a qual aborda solidão e auto menosprezo, assuntos que ficam claros em frases como “Seems like all I'm worth is what I'm able to withstand” e a impactante “Sooner I can realize that pain is just a middleman”.


Pela composição melódica estruturada entre o groove do baixo, o som do sintetizador, o beat da bateria e a pontualidade do teclado, se percebe de maneira nítida que Shy Away abre a lista de baladas de Scaled and Icy. Seu rítmico harmônico e contagiante estimula o ouvinte a querer dançar e se deixar levar pelo movimento rítmico de um típico indie pop. Se assemelhando levemente pela sonoridade criada pelo A-Ha, a faixa possui, ainda, uma mensagem sobre autoaceitação e coragem de expor comportamentos e qualidades às outras pessoas.


Pelo sintetizador inserido na sonoridade introdutória, há um misto de pop e eletrônico, o famoso electropop. A bateria aqui se apresenta em grooves acústicos e limpos criados por Josh Dun, os quais dão a cadência necessária à música. Pelo lirismo, enfim, fica clara a percepção de que The Outside foi composta já com a intenção prévia de assumir o posto de single do álbum. Afinal, não há mensagem subliminar ou conteúdo sério. É apenas uma letra sobre dança e que, por isso, possui poder de atração e contágio para que o público aceite o convite e faça o que Joseph instiga quando diz “They're nodding. Heads are moving up and down. You got it!”.


Pela primeira vez até o momento, a guitarra é ouvida e, inclusive, assume certo protagonismo na melodia. Talvez até mesmo por conta de sua participação, Saturday assuma caráter indie rock. No que tange o lirismo, a faixa narra a ânsia do eu-lírico pela chegada de sábado e os acontecimentos vividos nos dias precedentes. Nesse aspecto, a faixa tem muito em comum com a letra de Sebunda-feira, single do grupo Virgulóides. A única e grande diferença entre elas é que, no caso da faixa brasileira, há um humor quase pastelão, e a do Twenty One Pilots, apenas narração. Fora isso, a música surpreende pela sua trajetória rítmica, pois apesar de de fato se mostrar majoritariamente indie rock, há momentos em que o ritmo flerta com o funk e com a atmosfera latina por conta da inserção da cuíca no refrão. Assim como The Outside, Saturday também integra a nata de singles de Scaled and Icy


Assim como em Saturday, a alegria é o sentimento que rege a melodia. Com cadência baseada na métrica 4x4, a canção possui momentos que recebe sobreposições vocais para dar o efeito de coro. É uma verdade indiscutível que The Outside e Saturday são singles, mas é inegável que apenas Never Take It possui uma harmonia chiclete. Sua estrutura é comercialmente radiofônica, mas não se rende às apelações. Até porque, o lirismo da faixa aborda o ambiente construído pelas fake news e é cheio de frases de impacto, tais como “keep the truth in quotations, 'cause they keep lying through their fake teeth” e “why cure disease of confusion when you're the treatment facility?”.


O pop é extremamente enaltecido. De métrica demasiadamente contagiante, é instaurada uma melodia groovada, o swing é um fator que marca presença graças às linhas do baixo e do piano. Alegre tanto quanto Never Take It, em Mulberry Street, uma canção de lirismo que defende a liberdade, a imagem que se forma perante o ouvinte é de uma praia em um pôr do sol que abraça um grupo de amigos se divertindo na areia. Outro ponto importante de relatar é o tempero extra imputado por Tyler Joseph a partir da inserção do falsete ao seu canto.


Amena como a brisa do mar. Macia como veludo. Aconchegante como um abraço. Formidable é aquela canção que, em sua melodia de caráter indie, faz com que o ouvinte tenha sensações mistas de melancolia e nostalgia. Não por acaso, esta é a primeira faixa de Scale and Icy a apresentar um lirismo romântico. E para marcar essa estreia, elementos sonoros inéditos são inseridos na harmonia, como o trompete de Josh Dun que sobrevoa momentos pontuais e se sobressai ante a base dominada pelo violão.


Junto com o coro entre os integrantes do Twenty One Pilots, linhas suaves de ukulele são ouvidas ao fundo. Quando a melodia encontra uma crescente, o groove macio e contagiante da bateria cria o movimento orgânico da canção, o qual acaba recebendo sobrevoos momentâneos das notas aveludadas da flauta. É curioso, mas de certa maneira, Bounce Man possui uma estrutura harmônico-melódica que muito se assemelha a composições de boybands juvenis como One Direction e The Wanted. Por isso, é possível que a faixa tenha boa receptividade no público jovem.


Um ambiente sinistro e de sonoridade que parece comunicar uma imersão ao rap é avistado. Vocais graves em sobreposições preenchem a camada melódica com ares dramáticos e penosos. Logo na pronúncia da primeira frase, Joseph confirma a possibilidade. No Chances é puro rap. Porém, se engana quem pensa que aqui há utilização de subgraves. A harmonia é linear e orgânica. Não há brutalidade no som ou mesmo no lirismo. O que há é, sim, um refrão amplamente melódico e chiclete.


O groove e o vocal introdutório comunicam flerte com o soul. Com utilização de elementos percussivos diversos, porém, Redecorate se pronuncia como outra expoente do rap.  De melodia simplista, a canção é mais uma do álbum com uma mensagem lírica que desperta admiração. Afinal, aqui o desejo de mudança, de um mundo melhor, não é subliminar. É escancarado.


A primeira e mais importante coisa a dizer é que Scaled and Icy é um álbum de hits. Hits pela melodia. Hits pelo lirismo. Hits pelo conjunto da obra. Um disco que se comunica com o jovem, mas também com um público mais amplo a partir da mescla de mensagens sobre alegria, sobre o viver, reflexões pandêmicas e sobre o desejo de mudança. De um lugar melhor.


Isso já é sabido desde 2009 quando o duo ohioan lançou seu álbum de estreia autointitulado, mas no presente disco, a sincronia e química entre Tyler Joseph e Josh Dun parece ter atingido seu ponto máximo. O instrumental se comunica perfeitamente com a letra e vice-versa, mas no que tange o resultado final, a afinação de Joseph é um fator importante na criação da métrica melódica que abraça o álbum.


No mais, Scaled and Icy conseguiu até mesmo ser um trabalho amplo no que se refere à transição entre diferentes estilos musicais. Há blues. Há indie e suas variações indie rock e indie pop. Há synth-pop e electropop. Mas há, também, rap. O gênero, inclusive, foi o responsável por fechar o disco ao ser base do ritmo das duas últimas faixas.


O que importa nisso é que o álbum não pode ser definido como expoente de um único gênero. Mas mais do que isso. Ele não choca por abraçar essa diversidade. Afinal, a produção de Joseph conseguiu fazer com que o disco soasse fluído e orgânico durante as mudanças estilísticas.


Lançado em 21 de maio de 2021 via Fueled by Ramen e Elektra Records, Scaled and Icy é um disco híbrido e eclético, cuja melodia transcende o fator do contágio. Definitivamente um álbum repleto de singles. Um grande passo do Twenty One Pilots no que tange o processo de composição lírica e melódica.

Compartilhe:

Cadastre-se e recebe as novidades!

* campo obrigatório
Seja o primeiro a comentar
Sobre o crítico musical

Diego Pinheiro

Quase que despretensiosamente, começou a escrever críticas sobre músicas. 


Apaixonado e estudioso do Rock, transita pelos diversos gêneros musicais com muita versatilidade.


Requisitado por grandes gravadoras como Warner Music, Som Livre e Sony Music, Diego Pinheiro também iniciou carreira internacional escrevendo sobre bandas estrangeiras.