Tuuh - DOPPEL1

NOTA DO CRÍTICO
Nota do Público 5 (2 Votos)

É fato de que música e jogos de videogame se confundem. Apesar de virem de universos diferentes, são complementares. Exemplos dessa união podem ser vistos em trabalhos como Blast Off, do Skipp is Dead. Agora, outro nome surge nessa cena. Tuuh escolheu o início do segundo trimestre de 2021 para anunciar DOPPEL1, seu primeiro disco de estúdio.


Sirenes. Chuva. Uma voz invade a atmosfera, mas não cantando e sim falando. Falando sobre a falta de identidade. Curiosamente, quando Prologue parecia ter seu despertar, ela se encerra. Mas se encerra em forma de medley, já enveredando, como uma única peça, na próxima faixa.


Punch. Essa é a palavra que define o primeiro segundo de Black Sky. Afinal, bateria e guitarra se unem em um uníssono de velocidade e agressividade que acabam por oferecer ao ouvinte o puro power metal. Porém, a música é, em si, uma sinergia, uma fusão de subgêneros. Ao mesmo tempo em que é power metal, ela sofre nitidamente influências do speed metal e do hardcore em sua estrutura rítmica. Este último responsável pela cadência rítmica e pelo groove da bateria tão característico desse campo sonoro. Quando ocorre a entrada do canto, Tuuh deixa nítido que seu vocal encarna a mesma técnica utilizada por cantores como ZP Theart, Miljenko Matijevic e até mesmo Michael Starr. Uma música no mínimo excitante e que transmite uma adrenalina contagiante.


Som rasgado, agressivo. Áspero. É quase um grunge e tange o punk. Existe pitadas de uma sujeira proposital no riff da guitarra, uma sujeira que transmite a ideia de crueza, algo de garagem, caseiro. Tudo isso pode ser percebido nos primeiros instantes de Control, uma música que mantém a adrenalina, mas foge do viés clássico e se envereda para campos de fato mais sujos do rock. Curiosamente, o groove de bateria em 4x4 sugere uma batida blues, algo que logo se esvai com a entrada de um refrão explosivo, mas ao mesmo tempo cativante e chiclete. 


Uma guitarra mais controlada anda de mãos dadas com o vocal, que encarna a angústia do eu-lírico por se sentir perdido e por buscar entender quem é. Quando se pensava que a música seria mais pausada, ocorre um turning point. A melodia se transforma por completo. Algo sombrio toma conta do ambiente com a entrada de uma sonoridade pesada, metalizada e amplamente grave. Raiva e agressividade são outras características facilmente notadas por uma estrutura desenhada com o intuito de se espalhar por toda a melodia de Behind the Mirror. Afinal, até mesmo Tuuh encarna uma interpretação lírica explosiva e baseada em um vocal rasgado que mostra mais de seu potencial vocal.


Não apenas o instrumental se tornou mais brando, mas o vocal também. Uma melodia suave, mas com sutis toques de nostalgia começa a ser construída em Under the New Moon. Uma balada romântica que resgata a sonoridade emo tão em alta no início dos anos 2000. Nesse aspecto, a sonoridade da canção se assemelha àquela de grupos como Autopilot Off e My Chemical Romance.


Criando similaridades com a MPB e a bossa nova surge Embrace My Darkness, uma música tranquila e relaxante no que diz respeito à melodia. No entanto, o conteúdo lírico sugere algo completamente diferente. Afinal, nele há um diálogo com a solidão, a depressão e pensamentos suicidas. A relação com a noite se torna uma boa metáfora para a vontade de morrer.


Em Paralella, o protagonismo sonoro está centrado nas linhas do baixo. Firmes, pesadas e graves, elas criam um desenho sombrio, mas ao mesmo tempo oferecem uma cadência enérgica e sedutora, indicando uma crescente na melodia da canção como um todo. E é exatamente isso o que acontece, com um extra de se apoiar na proposta de Under the New Moon e trazer novamente a temática emo na sua sonoridade. Porém, aqui o emo flerta com o hardcore, fazendo com que Paralella seja uma canção puramente emocore.


A guitarra solo solta gritos. Gritos que misturam melancolia e uma tristeza nostálgica, até mesmo reconfortante. Esses mesmos gritos são canalizados em um diálogo de tonalidade alegre como os primeiros raios de Sol do amanhecer entre a guitarra solo e a guitarra base, a qual cria uma espécie de cama reconfortante como um abraço. Curiosamente, o que acontece em seguida é uma mudança melódica brusca. The Final Boss: One-Way Mirror I se transforma em uma música de bateria com frases aceleradas e truncadas, mas ao mesmo tempo com uma cadência atraente. Junto a ela, claro, distorção e uma melodia crescente.


A Lonely Night surge quase como um luau. Com voz limpa, aguda e nítida, Tuuh mostra, na canção, um eu-lírico solitário, falando com a noite sobre a saudade de um outro alguém. Dando roupagem a esse lirismo, um violão melodioso, harmônico e com uma estética que beira timidamente o reggae completa o escopo sonoro da canção.


Por ser um projeto de um homem só, DOPPEL1 mostra muito do potencial de Tuuh. Não apenas como compositor, mas o músico também demonstrou talento, aptidão e competência em todas as suas experimentações na criação das linhas instrumentais do álbum. Tal realidade pode ser comparada ao que Dave Grohl fez no início do Foo Fighters, compondo todos os instrumentos para depois designá-los a outros músicos.


Fora essa comparação, Tuuh fez do álbum um produto eclético no campo do rock. Afinal, ele não é apenas power metal ou mesmo speed metal. Ele é emo, emocore, metal, punk, grunge. Ele é uma viagem estilística. Uma viagem que contagia por ser enérgica, mesmo nos momentos em que o lirismo aborda temas de uma delicadeza palpável.


A arte de capa de DOPPEL1 tem um quê de enigmática. Um homem forte se utilizando de uma cartola estende os braços de tal maneira que transmite as sensações de que dá para de fato tocá-lo e de ele está pedindo ajuda. Com os olhos aparentemente lacrimejantes, esse personagem conquista o coração do público, que se solidariza na tentativa de lhe oferecer um alento aos seus problemas. E problemas aqui são questões psicológicas, algo que banhou grande parte do conteúdo lírico do disco. Por isso, o trabalho artístico de Maic Lee realmente parece ter sentido a energia do álbum na criação de uma capa que fala por si.


Lançado em 11 de abril de 2021 de forma independente, DOPPEL1 mostra que não é preciso ser somente chip tune para imergir no universo dos games. Ele é um álbum que exala energia e adrenalina, mesmo em suas faixas de melodia mais lenta. É um disco em que o arrepio anda de mãos dadas com o peso sonoro.

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Sobre o crítico musical

Diego Pinheiro

Quase que despretensiosamente, começou a escrever críticas sobre músicas. 


Apaixonado e estudioso do Rock, transita pelos diversos gêneros musicais com muita versatilidade.


Requisitado por grandes gravadoras como Warner Music, Som Livre e Sony Music, Diego Pinheiro também iniciou carreira internacional escrevendo sobre bandas estrangeiras.