Paramore - This Is Why

NOTA DO CRÍTICO
Nota do Público 4 (1 Votos)

É o primeiro material de inéditas desde 2017. É também, o primeiro trabalho desde 2018, quando o grupo decretou um hiato sem prévia de término. Além disso, é o compacto que marca o retorno do baterista original do trio de Tennessee. This Is Why é o retorno de Paramore às atividades.


O ambiente é como estar em um clube de jazz graças às frases desenhadas pela bateria de Zac Farro. Macia, swingada e até mesmo levemente requebrada, a melodia soa como um ameno e paulatino amanhecer. Entre rompantes da guitarra de Taylor York, o baixo de Brian Robert Jones entra em cena trazendo um aroma indie e um compasso contagiante, mas tímido. É então que o timbre agudo e já sob emprego de falsete por parte de Hayley Williams invade o cenário entregando tons de deboche e cinismo. De refrão enérgico e sincrônico tanto entre os instrumentos quanto entre os músicos no que tange a união vocálica, a faixa-título já vem com um lirismo questionador sobre censura, impunidade e intolerância. Esses são fatores que causam desconfiança, desconforto e insegurança perante aqueles que querem se expor, seja da forma que for. Eis então que o verso “this is why I don’t leave the house” se torna aquele que melhor representa a faixa, pois o receio da represália e do julgamento faz com que muitos não se exponham e deixe suas opiniões e essências sempre guardadas.


Acelerada, levemente azeda e sutilmente descompassada, o alvorecer da nova faixa soa propositadamente não sincrônico. Tomando maior corpo com a entrada do baixo a partir da segunda estrofe, a canção tem um refrão explosivo, com frases líricas mais imponentes e cuja melodia mistura de maneira igualitária o indie rock com o pop punk. The News continua com o cunho crítico da música anterior, mas aqui ele foge do espectro psicológico e invade o social. Trazendo uma reflexão sobre a sensação de inutilidade e impotência em relação às notícias devastadoras de guerras ao redor do mundo, como a da Síria, a da Ucrânia e a de muitas outras, The News, ao mesmo tempo em que comunica uma lamentação coletiva frente as desarmonias mundiais, questiona a curiosa noção social de normalidade frente aos noticiários caóticos. A proposta de uma aparente desintoxicação das notícias é uma forma de manter a sanidade mental e o bem-estar, mas também é uma análise de que, em The News, o que acontece de ruim do outro lado do mundo assume a forma de entretenimento mórbido por ser algo que não condiz com a realidade do outro.


As linhas do baixo surgem trotantes e hipnóticas. Com um indie rock entorpecido como aquele criado pelo Snow Patrol, Running Out Of Time vem oferecendo uma sensação de macia embriaguez através da programação de Phil Danyew. De interpretação lírica capaz de representar a falta de aceitação frente a incapacidade de organização do tempo por parte do personagem lírico, Running Out Of Time discute o egoísmo, as prioridades e a falta de atitude e execução das intensões, que acabam ficando apenas como um planejamento não realizado.


Com uma batida 4x4 e súbitos rompantes explosivos, o vaivém entre controle e descontrole é acompanhado por um teclado de notas gélidas que representam uma aparente desarmonia. Novamente trazendo tons de deboche em meio a versos formados por palavras francesas repetidas, C’est Comme Ça consegue seu objetivo penetrante e chiclete na mente do ouvinte enquanto, na sua curta duração, traz influências de uma new wave ao estilo Talking Heads ao mesmo tempo em que discute o fato de que a vida não acontece da forma como se deseja e que, assumindo particularidades da vivência de Hayley, o caos é necessário para dar corpo à rotina.


Uma ambiência renascentista que mistura doçura e gravidade promove uma experimentação de texturas e sabores até então não oferecidos em This Is Why. A fusão dos sonares do baixo clarinete e do clarinete de Henry Solomon, em união aos sobrevoos aveludados e rápidos da flauta, surge como uma beleza inesperada como a passagem de uma estrela-cadente. Misturando noções de folk e indie rock em sua melodia, Big Man, Little Dignity possui uma maciez embriagante, pronúncias em sotaque britânico e um lirismo sobre um homem de pouco caráter, imprudente, egoísta e, como o próprio nome da faixa já comunica, sem dignidade. Big Man, Little Dignity é como uma paixão mórbida, áspera e vingativa. É a manipulação. É a história de um homem que engana e que desapega das vivências passadas sem pensar no impacto que tal atitude causaria no outro.


Atordoante e azedo. O riff da guitarra soa quase como uma sirene, um aviso, um alerta de que algo impactante está prestes a acontecer. Reintroduzindo uma base melódica new wave, a sonoridade vem contagiante e com um corpo rítmico linear. Entre torpor e embriaguez, You First vem com um refrão pop punk contagiante enquanto o personagem lírico vive na intensa necessidade e dúvida perante a escolha de ser o bem ou o mal. Um embate que define o caráter e a sociedade. Não à toa que “which one's appetite's the biggest?” é o verso-questionamento que melhor define You First.


É como o toque de celular. Repetitivo e ondulante, o sonar é acompanhado por tilintares adocicados de teor quase angelical vindos do xilofone. De corpo ácido, a presente canção vem com toques de desespero e angústia em união a um refrão cuja interpretação lírica de Hayley vem acompanhada de uma dramaticidade lasciva tal como aquela empregada com frequência por Amy Lee nas canções do Evanescence. Figure 8 discute a fragilidade e a sensibilidade do ser humano. A gentileza como falso sinônimo de fraqueza, a absorção impositiva da bondade. A morte da pureza. Figure 8 é, assim como Big Man, Little Dignity, fala também sobre manipulação.


Uma maciez melancólica como um véu de chuva caindo do lado de fora e fazendo as cortinas valsarem em uma movimentação chorosa é notado na introdução graças a forma como a guitarra se apresenta. Singela, doce, mas também lacrimal, a melodia surge minimalista, mas ainda assim, intensamente sentimental. Introspectiva, a interpretação lírica, em Liar, assume tons igualitários de drama e doçura, uma roupagem que acompanha um personagem lírico que nega a vivência de um romance sincero. Nega aquilo que é bom. Nega o amor. Ainda assim, está em Liar a primeira e emocional balada de This Is Why.


Suave e esvoaçante. O conforto entorpecente vem forte a partir da singeleza com que a guitarra se apresenta ao ouvinte e puxa a introdução. É assim que, desde seu início, Crave se mostra um regimentado expoente do indie rock. De compasso rítmico mediano, a faixa amadurece com um aroma floral e um dulçor densamente romântico. Não à toa que Crave é uma prova de amor, uma declaração apaixonada pelo momento presente. Um agradecimento pelo tempo, pelo amadurecimento. Pela superação. É a doce nostalgia da simplicidade e da despreocupação.


Melancólica e dramática, a maciez intimista e minimalista da introdução traz a voz de Hayley como único elemento a trazer dulçor à estética melódica. Densa e, mesmo sem grandes malabarismos sonoros, a canção soa ácida e até mesmo de difícil digestão graças à interpretação lírica da cantora. Medos, inseguranças. Culpas. Thick Skull é um recado alfinetando a crítica e os julgamentos alheios sobre o item ‘personalidade. A personalidade de uma banda, de uma frontgirl. Mesmo consciente e convincente de que não possui do que se desculpar, a personagem lírico, em um ato de rendição pelo cansaço das incessantes tentativas de provar o oposto, se põe aos pés da crítica.


Melancólico, doce, intenso, minimalista. Inovador. This Is Why não traz frescor, mas traz maturidade e consciência. Traz experimentalismos e a atitude de provar que o Paramore, apesar de ser mundialmente reconhecido como um dos principais expoentes do pop punk e, inclusive, do emo, é um grupo que se movimenta confortavelmente por outros ambientes melódicos.


O torpor é também outro ingrediente que é marcante do presente material. Entre sonares delicados, valsantes e ácidos, o Paramore dialoga sobre inseguranças, medos, autoconhecimento, coragem. O bem e o mal, análises sociais, psicológicas. A negação daquilo que é bom. São assuntos que, por si só, já induzem a percepção de delicadeza, de que sejam tratados de maneiras educadamente sutis, mas sem perder a imponência necessária para que o ouvinte receba os conteúdos líricos da maneira ideal.


É por isso que, com auxílio de Manny Marroquin na mixagem, o Paramore apresentou ao mercado This Is Why, um material de roupagem ampla e mista que transita por setores muito além do pop punk. O folk, o indie rock e a new wave se confundem por temáticas minimalistas, introspectivas, dramáticas e renascentistas. 


Tais questões são amplificadas pela sintonia densa existente entre o trio e o produtor Carlos de la Garza, responsável por ser o quarto integrante oficial e onipresente do Paramore. Com ele, a maturidade e a imponência do trio exalam por todos os poros sonoros. Com ele, o grupo encontrou o meio ideal para iniciar um novo ciclo: ousado, experimental e dramático.


Fechando o escopo técnico do álbum vem a arte de capa. Assinada por Zachary Gray, ela é praticamente autoexplicativa. Uma vez que o álbum soa como outra tentativa de o trio mostrar sua qualidade para o mercado musical, a pose dos três integrantes, sob vestimentas vitorianas e pressionados sobre uma estrutura de vidro, representa os vários golpes que o grupo sofreu não só da imprensa e dos críticos, mas também de músicos e ouvintes que, de alguma forma subestimaram a importância e a qualidade do trio.


Lançado em 10 de fevereiro de 2023 via Atlantic Records, This Is Why é um grito de basta, a superação, a virada de página, a superação. É o fim de uma era e o começo de outra para a carreira do Paramore. Uma fase com provações mais simples e de ilustrações do potencial melódico de um trio que estourou por uma vertente, mas que também tem capacidade por se movimentar por diferentes setores. This Is Why é como se o trio estivesse dando explicando, por suas 10 faixas, o motivo de voltarem à ativa após cinco anos.

















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Sobre o crítico musical

Diego Pinheiro

Quase que despretensiosamente, começou a escrever críticas sobre músicas. 


Apaixonado e estudioso do Rock, transita pelos diversos gêneros musicais com muita versatilidade.


Requisitado por grandes gravadoras como Warner Music, Som Livre e Sony Music, Diego Pinheiro também iniciou carreira internacional escrevendo sobre bandas estrangeiras.