Aurodharma - Cabeça do Tempo

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Depois de pouco mais de um ano de dedicação, o grupo paulistano Aurodharma enfim anunciou seu disco de estreia.  Nomeado Cabeça do Tempo, o disco tem produção de Rogério Wecko e já está caminhando pelo mercado fonográfico nacional.


Com um repique acelerado, um som sujo e pesado surge no horizonte. Com uma sonoridade metalizada misturada ao grunge, Karma apresenta uma semelhança entre o estilo apresentado pelo grupo com aquele difundido pelo quinteto californiano Ugly Kid Joe. De repente, uma voz grave e de tom suavemente rasgado de posse de Martin Pent aparece no quadro rítmico e remete ao ouvinte aquele vocal tão característico de Layne Staley, do Alice in Chains. Soando madura e com groove estonteante, a melodia da canção ainda dá direito a um nítido entrosamento vocal entre Pent e o também guitarrista Sid Vitor.


De levada swingada e sutilmente sombria, Clareza vem novamente regada no quesito entrosamento entre os vocalistas, mas aqui essa união imprime uma energia mais melancólica que se estende pelo refrão de linhas compassadas. Por outro lado, o solo de guitarra entrega cores mais vivas que enriquecem e engrandecem o enredo da canção.


Um deslizar bruto pelo braço do baixo de Luke Duarte lança, mesmo que em frações de segundo, uma pista do que Muros será. De riff sombrio e agressivo, a canção é ainda mais groovada que Karma e, por isso, embala, hipnotiza e contagia o ouvinte de forma mais homogênea. Com Pent imprimindo em sua interpretação lírica certo tom de raiva e aflição, a canção tem um refrão contagiante e de padrão comercial.


Divã chega com aquela métrica que estava faltando até então em Cabeça do Tempo. Com guitarras se revezando em tons alegres e graves, o groove apresentado pela bateria de Marcelo Pucci é pausada, mas com uma cadência que se mistura homogeneamente com o swing flutuante da melodia. Com vocal retratando o tédio dos dias, o lirismo ainda apresenta a vontade de o eu-lírico encontrar aquele amanhã longínquo que promete um refúgio do marasmo. Até o momento, essa é a canção que mais se enquadra no quesito de composição com o título do álbum.


Nuvem Negra traz em sua métrica uma semelhança entre seu ritmo e aquele empregado em diversas canções do Nickelback que apresentam composição de Chad Kroeger. Na forma de uma balada agressivo-melancólica, a canção do Aurodharma traz um lirismo que aborda a mudança e seus efeitos. Contudo, essa mensagem é trazida por um vocal que transmite a sensação de embriaguez ao ouvinte.


Uma balada ao estilo hard rock, It’s Hard traz influências melódicas com a sonoridade empregada em diversas composições do Stone Temple Pilots em sua época contemporânea ao álbum Purple. Mas não apenas isso. A semelhança com o STP surge até mesmo na interpretação lírica feita por Pent, que adota o idioma inglês como norteador.


Depois de um repique na bateria, as guitarras surgem trazendo, juntas, um riff de cor alegremente aveludada, mas sem perder aquela distorção, a qual acompanha livremente a explosão melódica presente na introdução de Passos. Adotando novamente o português como idioma, o lirismo apresentado pela dupla Pent e Vitor traz uma incerteza lasciva que se perde em um eu-lírico que se mostra perdido até mesmo no seu autoconhecimento. Melodicamente falando, Passos é uma mistura de hard rock com post-grunge que traz sujeira e melodia. Swing e distorção.


De riff groovado e altamente swingado, característica perceptiva desde os primeiros instantes da introdução, Equilíbrio é um blues sedutor e sensual em sua essência rítmica. Por conta da estrutura sonora mais amena, o lirismo acompanha essa sensibilidade ao apresentar um conteúdo que aborda o autoconhecimento no âmbito amoroso. 


Agitada, mas sutilmente acelerada. Melódica e swingada. Groovada e contagiante. Essas são algumas das características de Sempre em Frente, uma música que traz impresso em seu DNA uma mistura de alegria e melancolia que,  assim como aconteceu em Clareza, é provinda da união dos vocais. Apesar disso, a letra também traz referências à resiliência, à persistência e à insistência. Por isso, ao terminar o disco o ouvinte fica com uma energia revigorante e estimulante que o instiga a viver o dia com mais gana.


Para um primeiro álbum, é possível sim dizer que Cabeça do Tempo é um disco surpreendente. Afinal, além de apresentar uma sonoridade que se movimenta entre o maduro e o experimental, ele traz um blend de influências do universo do rock que revigoram o cenário nacional do gênero.


É certo, também, que por vezes fica difícil de ouvir de forma nítida os vocais, os quais ficam ofuscados pelas linhas melódicas criadas pelos músicos. Isso é prejudicial inclusive quando ocorre a adoção do idioma inglês, pois dificulta a compreensão do ouvinte sobre aquilo que está sendo apresentado no conteúdo lírico.


Apesar disso, o Aurodharma conseguiu mostrar em seu som que existe entrosamento e química. Mas o de que cara o grupo mostrou foi a capacidade de criar uma arte de capa tão metafórica quanto aquelas constantemente apresentadas pelo Dream Theater. Feita por Braga Tepi, a capa traz um busto regado de engrenagens e traz, ainda,  referências a Leonardo Da Vinci.


Lançado em 11 de dezembro de 2020 via D’Outro Lado, Cabeça do Tempo é um disco que de cara traz uma sonoridade competente e precisa. Cheio de swing, agressividade e peso, o disco é uma ótima opção para extravasar e se deixar levar pelas linhas melódicas cujas pontes são tão empolgantes quanto as bases rítmicas. 


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Sobre o crítico musical

Diego Pinheiro

Quase que despretensiosamente, começou a escrever críticas sobre músicas. 


Apaixonado e estudioso do Rock, transita pelos diversos gêneros musicais com muita versatilidade.


Requisitado por grandes gravadoras como Warner Music, Som Livre e Sony Music, Diego Pinheiro também iniciou carreira internacional escrevendo sobre bandas estrangeiras.