Gaab - Hora do Show

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Dois anos depois de U e pouco mais de dois meses após o lançamento do single Volta Que Dá Tempo, Gaab retorna ao universo fonográfico para anunciar seu novo trabalho. Intitulado Hora do Show, seu quarto álbum de estúdio possui a participação de diversos outros nomes da música brasileira atual.


Sons eletrônicos invadem a frequência, mas o que surpreende logo de início é um vocal que surge fazendo melismas em notas que indicam um mergulho no universo do R&B. É esse timbre suave, quase doce de Gaab que entra em cena trazendo um lirismo sobre coração ferido. A batida de Vai Que Dá Tempo, que acompanha o vocalista em sua velocidade lírica intermitente entre o rápido e o pausado, possui diversas quebras rítmicas que dão uma aparência mais bela a uma canção que possui essência no Rythm & Blues, mas que flerta com o rap e o eletrônico.


De voz mais azeda, Gaab apresenta Tudo de Bom, uma música que se mostra com uma complexidade harmônica superior àquela trazida em Vai Que Dá Tempo. Afinal, um trio de sopro formado por trompete, saxofone e trombone tocado por Bruno Rodrigo Gilbertoni Brito, Héber Fernando de Souza e Felipe Martin Coelho, respectivamente, acompanha concisamente o vocalista empregando uma paleta de cores diferenciada aos versos. Como não podia deixar de ser, são esses três instrumentos que, indiscutivelmente, se destacam no todo da melodia. Porém, falando apenas no conteúdo lírico, mesmo que numa escala baixa, ele decepciona por apresentar nada mais nada menos que uma lista de coisas que o eu-lírico deseja fazer com sua amante. Fraco.


Uma sonoridade heterogênea se faz presente. Com uma pegada latina, a união dos riffs do violão e guitarra imprime uma sensualidade que, de tão sutil, é quase imperceptível. Para alguns, ainda, essa mesma linha da guitarra pode fazer surgir à mente o riff que Carlos Santana imprimiu no single Smooth. Tendo semelhança com outras composições ou não, o que causa um elo entre o público é, na verdade, o contágio oferecido pelo beat de André Murilo da Silva que segue unido ao violão. A música-título possui ainda a participação de Cabal e Dfideliz, mas é Cabal quem fica responsável, unicamente, pela ponte em estrutura rap que se destaca mais do que os outros versos da composição.


Cheia de groove, com pitadas de swing e uma sensualidade mais tímida, Surpresa é uma canção minimalista em estrutura, mas que lança estímulos irresistíveis ao ouvinte. Assim como aconteceu na música-título, na presente faixa possui um trecho de grande semelhança com outra composição. Essa igualdade surge na ponte, quando a melodia lírica possui a mesma estrutura daquela empregada em Me Namora, single do Natiruts.


De beat firme e preciso, Tudo Ou Nada se apresenta logo com Gaab se fazendo a questão “Eis a questão: Será que é amor ou será que é paixão?”. Em meio à busca pela resposta da questão, o cantor é acompanhado por um som aveludado, reconfortante e aconchegante. É Herbert Medeiros incluindo, na melodia, a presença indispensável do piano na criação de um ambiente tranquilo. De pré-refrão tão estimulante quanto o próprio refrão, a música apresenta um lirismo de carga romântica, quase como uma declaração de amor.


Com uma sonoridade que mistura astralidade com psicodelia, Chama Lá se mostra de cara como uma música de lamento, mas sem melancolia. De outro lado, ela se mostra, assim como em Vai Que Dá Tempo, uma canção de forte influência do R&B na interpretação de Gaab. Nela, inclusive, rimas perfeitas se confundem com trechos abusivos no que diz respeito à tentativa de o cantor mostrar sua extensão vocal.  De melodia toda responsável por Douglas Justo Lourenço Moda, a música ainda traz a participação de L7nnon. Este se apresenta na ponte com um lirismo extremamente coloquial e informal a tal ponto que nem se respeita a conjugação verbal.


Novamente tomando a forma de um vocal azedo em estrutura rap, Gaab traz Na Hora da Raiva, uma música que, como forma de suavizar a raiva propriamente dita, traz uma guitarra de notas singelas e tranquilas amornando o ambiente. Com rimas perfeitas, a letra de desabafo transita por momentos de voz afinada, limpa e clara. O que chama o ouvinte, porém, não é a letra nem a voz do cantor, mas sim o beat forte que acompanha a melodia minimalista da canção.


A batida de Caio Barbosa de Paiva entra com marcação acelerada por parte do chimbal e acaba empregando uma dissonância interessante em relação ao violão em riffs R&B. Esse é apenas o despertar de Segue O Baile, uma música cujo lirismo expõe lamentos e reclamações sobre ocasiões corriqueiras do relacionamento a dois, mas apresentando o eu-lírico se superando da crise. Cheia de groove por parte do baixo de Pedro Cullen Lotto, a música ainda apresenta, em sua segunda estrofe, a voz aveludada e levemente rouca de Azzy entregando toques de sensualidade.


Com beat empregando elementos latinos, Carlos Alberto Carneiro Júnior cria uma cadência singular com seu beat em Nunca Mais, uma música cuja melodia conta ainda com um piano de notas pontuais e de uma melancolia quase imperceptível por parte do ouvinte. Mas não é só nisso que consiste a novidade da faixa. Afinal, o protagonista no que se refere ao canto não é Gaab e sim o MC Don Juan.


Assim como em Vai Que Dá Tempo, a melodia de Mexe Baby se apresenta complexa e bem construída. Com protagonismo das notas do piano, a música ainda se usa do saxofone de Papatinho no refrão para criar uma atração maior entre artista e público, o que acaba fazendo com que a música ganhe apelo comercial. E essa noção de comercialidade ganha força com um refrão de frases repetitivas, palavras ditas de forma soletrada e com direito, ainda, do backing vocal de Paola Evangelista Lúcio.


Na forma de um pop melancólico, Desculpas Pra Inventar vem com um mix de contágio formado tanto pelo beat quanto pelas notas concisas da guitarra. Na segunda estrofe o ouvinte já é surpreendido com a entrada de Luccas Carlos e do seu vocal com timbre metálico. O nível de contágio então acaba por ser ampliado com o decorrer da canção, mesmo que seu lirismo não traga conteúdo reflexivo, ou seja, sirva apenas para preencher a harmonia. Antes que o ouvinte pensasse já ter ouvido tudo, a faixa traz, em sua última estrofe, a participação de Ferrugem e de sua voz aguda e afinada. Por conta desse time de convidados, Desculpas Pra Inventar acaba ganhando um alto grau de comercialidade.


Apesar de ter momentos rápidos de uma melodia melancólica, Eu Aprendi A Viver Sem Você deixa essa energia de lado rapidamente ao oferecer a entrada do trompete elevando a vibe da canção. É verdade, porém, que como uma música de autoafirmação, ela caminha por momentos mais tristes com o auxílio da dupla piano-teclado até elevar a melodia. Como última canção, ela ainda vem com um Gaab transitando entre vocal anasalado e cheio de falsetes.


Por conta do amplo time de produtores, com nomes como Cabrera, Pedro Lotto, Caio Paiva, Laudz, Gaab, Rasta Beats, Grego, Douglas Moda, DJ 900, Papatinho, DJ LK e Ayee, Hora do Show é um disco amplo em ritmo e melodia, mas fraco no que se refere ao conteúdo lírico.


Com músicas de harmonias bem estruturadas e cheias de linhas instrumentais, o álbum é um expoente multigênero. Afinal, ao caminhar pelas suas 12 faixas o ouvinte passa pelo rap, pop, R&B e música latina. E nisso, Gaab e seus convidados têm grande parcela de culpa, até porque, cada cantor convidado provém de estilos diferentes.


Mixado por Laudz, Hora do Show é um disco que proporciona ao ouvinte uma degustação clara de cada instrumento empregado em suas composições. E para completar, é um trabalho em cuja arte do encarte o título se encaixa muito bem.


Assinada por Victor Correa, Juliana Nogueira e João Ferro, a arte de capa de Hora do Show exibe Gaab em um local que presume sua entrada em um show de sua autoria. As cores quentes empregadas criam sentimentos de ansiedade e euforia, mas que são pouco respondidas.


Lançado em 22 de janeiro de 2021 via Som Livre, Hora do Show é um blend rítmico, mas cujos conteúdos líricos são majoritariamente pobres em essência. Se ouvi-lo apenas pela harmonia e melodia é um ótimo produto, mas suas letras deixam a desejar. E nesse sentido, talvez o volume intenso de cantores convidados tenha sido uma manobra usada para driblar essas letras de conteúdo ruim.


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Sobre o crítico musical

Diego Pinheiro

Quase que despretensiosamente, começou a escrever críticas sobre músicas. 


Apaixonado e estudioso do Rock, transita pelos diversos gêneros musicais com muita versatilidade.


Requisitado por grandes gravadoras como Warner Music, Som Livre e Sony Music, Diego Pinheiro também iniciou carreira internacional escrevendo sobre bandas estrangeiras.