Hevilan - Symphony of Good and Evil

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São 16 anos de existência. É uma banda jovem, no auge da malandragem e da rebeldia. É exatamente nesse momento que a Hevilan escolheu para anunciar seu mais recente trabalho. Intitulado Symphony of Good and Evil, o álbum sai oito anos depois de The End Of Time, primeiro disco de estúdio do grupo.


Pedal duplo. Explosão. Peso. Raios de luz invadem o meio ambiente ao mesmo tempo em que se percebe uma agressividade latente no instrumental introdutório de Dark Paradise. No verso de ar, esse peso dá passagem para o protagonismo da guitarra de Johnny Moraes, que se apresenta rebelde e, até mesmo, sádica em sua harmonia. Esse sadismo, por sinal, permite que a música tenha repentes de speed metal e imerja em uma escuridão profunda. Mas esse último detalhe pouco tem a ver com a guitarra, mas se deve, principalmente, à interpretação lírica sombria e amedrontadora do vocal hora limpo, hora rasgado de Alex Pasqualle. Toda essa caracterização não exclui, porém, o fato de que a música tem sua harmonia e seu encanto melódico. De fato, ela é um paraíso sombrio.


Um coro clássico e gutural é percebido junto às frases aceleradas da bateria de Rafael Dyszy. Depois dessa repentina imersão no universo da música clássica é que a faixa realmente revela sua essência ao ouvinte. Rebellion of the Saints é grave e com toques de sujeita, mas em comparação com Dark Paradise, ela possui uma melodia superior que é construída por frases pausadas de uma guitarra mais limpa e aveludada. Claro que, apesar de apresenta-la limpa, Moraes imprime nela peso e agressividade, características que já se mostram padrões da estética de Symphony of Good and Evil. Acompanhando essa dupla de detalhes, que se sobressaem como uma brisa, existe, ao fundo, uma guitarra base raivosa, grossa e bruta. Essa combinação de elementos faz da presente faixa um produto híbrido, pois ao mesmo tempo em que possui caráter de single lado B, guarda uma pressão exacerbada.


Acelerada e melódica. Mas não a ponto de ser speed metal. A guitarra se mostra áspera, mas não menos melódica. A introdução, curta, mas com uma harmonia até então desconhecida. Pasqualle coloca, aqui, um vocal visceral e com frases mais pausadas que se soma agradavelmente com a sonoridade dramática da faixa. Em alguns momentos, a conjuntura guitarra e bateria faz criar uma semelhança sutil com a estrutura sonora criada nos versos de Burn it Down, canção do Alter Bridge. Há, contudo, algo de inegável construído em Great Battle. Dentre as faixas anteriores, a estrutura aqui formada é de uma melodia excessiva, inclusive no refrão, momento em que a música assume a forma de uma balada metalizada. Por essas razões, a presente faixa é, até, então, o single de maior força do álbum.


Assim como em Great Battle, a bateria acelerada e cheia de repiques é quem chama a introdução. Metalizada, mas ao mesmo tempo melódica, a sonoridade de Here I Am transita livre e sutilmente entre o nu metal e o metal progressivo. É na presente faixa, também, que o baixo de Biek Yohaitus ganha uma notoriedade inquietante durante o pré-refrão. Acompanhando de longe a raiva entorpecida da guitarra, o baixo parece assumir uma maturidade latente em relação aos outros instrumentos. Curiosamente, ao mesmo tempo em que existe agressão e peso, Here I Am segue a linha melódica apresentada na faixa anterior.


Saindo completamente do peso e da agressividade padrões, Always in My Dreams surge com uma roupagem até então inexplorada. Suave, tranquila, amena e calma, a melodia da canção é como uma brisa fresca do amanhecer que convida o ouvinte para o dia que está nascendo. Empolgante e estimulante, a música traz um Pasqualle de vocal empostado, aveludado e em cujas extensões existem descobertas alegres sobre o potencial do vocalista, o mostrando versátil e apto a cantar até mesmo as canções de melodias mais amenas. Visceral, a interpretação de Pasqualle desperta uma alegria reconfortante no ouvinte. Definitivamente, Always in My Dreams é a balada radiofônica de Symphony of Good and Evil.


Ar de suspense. Inquietação. A linha criada pela guitarra na introdução de Devil Within Part I Evil Approaches exala uma similaridade sutil com a melodia formada no despertar de Toxicity, single do System Of A Down. Contudo, essa igualdade se esvai quando um coro de estética gótica se pronuncia. No lirismo, o domínio da mente e do corpo por uma energia maligna é o centro narrativo. E nisso, a interpretação de tal cenário pede ou desespero ou um entorpecer esperançoso. Acontece que é a segunda opção que domina a cena. E para dar peso a esse cenário, a guitarra base surge distorcida, com o olhar malévolo, mas ainda contido.


Já em Devil Within Part II Hammer of God, o metal alternativo molda a harmonia. Com agressividade e aspereza, o ritmo ganha flertes com o speed metal a partir da batida da bateria, a qual faz com que a velocidade sonora tenha repentes de aceleração. A melodia, apesar de conter obscuridade, agressividade e até notas de aspereza, consegue capturar o ouvinte com seu ritmo sincopado. Assim como aconteceu em Here I Am, porém, o baixo possui momentos de estrelato. É verdade que a glória é dividida harmonicamente entre guitarra e baixo, sendo que a primeira domina a intro, pontes e refrão e segundo assume inteiramente a dianteira dos versos com linhas groovadas, simples e marcantes.


Depois de Always in My Dreams, o segundo capítulo da balada. Waiting for the Right Time recupera aquele viés pop e, ainda, inclui pinceladas de nostalgia em uma melodia de frases-chiclete e instrumental aveludado. Apimentando o cenário, o refrão ganha uma guitarra distorcida, mas sem agressividade, que é acompanhada de uma bateria em cuja batida possui estética mista entre as influências no metal e no metal sinfônico. 


Dramático, épico, visceral. O despertar de Symphony of Good and Evil Part I Revelation é calcado em um coro gutural acompanhado de uma melodia que sugere desarmonia, caos e, como o próprio nome da canção sugere, um diálogo latente que revela a dicotomia entre o bem e o mal.


Em Symphony of Good and Evil Part II Dark Ages, um tom medieval se faz presente na melodia regada na sonoridade do teclado. Porém, após a introdução, o que acontece é a transição entre a estética blues com uma batida cadenciada e uma atmosfera de jam session com protagonismo do dedilhado do baixo e de sua movimentação de escalas. Grave, pesado e bruto, o refrão é repleto de uma bateria de frases repicadas e uma guitarra sombria em tom metalizado.


O teclado se confunde em meio à bateria e à guitarra. A melodia típica do metal sinfônico, portanto, se pronuncia com imponência em Symphony of Good and Evil Part III Song of Rebellion. O instrumental introdutório constrói um ambiente épico cheio de musicalidade e cadência. Aqui, a guitarra aparece contida, mas ainda entregando cores quentes e modificando a paleta fria que se forma no horizonte da faixa. No que se refere aos instrumentos, a interpretação de cada um deles exala uma complexidade que engrandece a ambientação.


Fechando o grupo de Symphony of Good and Evil vem Symphony of Good and Evil Part IV Epilogue, uma faixa que se baseia na estrutura coro e teclado, criando uma atmosfera épica e ao mesmo tempo clássica.


Com sonoridade madura e com o peso característico das bandas de metal sinfônico europeias, em Symphony of Good and Evil é um disco que atende perfeitamente aos fãs desse estilo musical. Claro que, no seu decorrer, existe a imersão em outros ambientes do rock, como o blues, o nu metal e o speed metal, mas a base estrutural de sua harmonia é, sem dúvida, o metal sinfônico.


Por essa razão, a musicalidade apresentada por entre as 12 faixas é de uma harmonia tão latente que é crescente a admiração pela potência instrumental oferecida pelo Hevilan. Mas nessa potência, existe um ingrediente novo que dá sabores marcantes e necessários para que ela atinja sua estrutura definitiva.


Symphony of Good and Evil marca a entrada de Rafael Dyszy no comando das baquetas. E é justamente ele que entrega um movimento cadenciado e recheado de quebras rítmicas, o que proporciona uma atmosfera inédita a cada virada de estrofe e a cada verso.


E captando essa dinâmica está Lasse Lammert, quem construiu uma mixagem capaz de ilustrar e divulgar de forma nítida e clara toda a química elaborada entre os integrantes do Hevilan. Química essa que desenhou em Symphony of Good and Evil uma melodia de constante enfrentamento entre o bem e o mal.


Esse fator também foi muito bem abordado na arte de capa. Feita por Gustavo Sazes, ela apresenta um ambiente em que não só o bem disputa com o mal, mas a religião discute com a fé e a luz contrasta com a escuridão. E quem está na dianteira dessas batalhas é uma figura semelhante a um carrasco que se posiciona como se estivesse avisando sobre algo.


Lançado em 22 de março de 2021 via Brutal Records, Symphony of Good and Evil é brasileiro, mas com sonoridade europeia. O metal sinfônico nele apresentado é uma mistura de outros subgêneros do rock, criando uma sonoridade por vezes inédita, mas sempre marcante.

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Sobre o crítico musical

Diego Pinheiro

Quase que despretensiosamente, começou a escrever críticas sobre músicas. 


Apaixonado e estudioso do Rock, transita pelos diversos gêneros musicais com muita versatilidade.


Requisitado por grandes gravadoras como Warner Music, Som Livre e Sony Music, Diego Pinheiro também iniciou carreira internacional escrevendo sobre bandas estrangeiras.