Blackmore's Night - Nature's Light

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Primeiro álbum em seis anos. O 11º disco surge quando Blackmore's Night atinge o início da fase adulta. É exatamente aos 23 anos de existência que o grupo de origem metade inglesa, metade americana escolheu para lançar Nature’s Light, seu mais recente disco de estúdio.


Um ambiente medieval completo se forma na introdução de Once Upon December. Tudo por conta da sonoridade folk oferecida através da conjuntura dos instrumentos de Blackmore’s Night. A partir da entrada do vocal aberto, afinado e extensivo de Candice Night é que a canção ganha tons de um Sol resplandecente e alegre. É curioso, porém, notar como a melodia da canção pode sugerir influências desde a mitologia até a música árabe e do Oriente Médio.


Ritchie Blackmore puxa, com seu violão de linhas aceleradas e dedilhadas, a introdução de Four Winds, uma música com cadência diferenciada daquela apresentada na faixa anterior. Mais cativante com melodia calcada no pop latino, a canção tem um movimento que a assemelha, mesmo que de forma bem tímida, à canção The Bad’s Song, single do Blind Guardian. Por essas razões, Four Winds é a primeira faixa de Nature’s Light a apresentar forte caráter de single.


Os elementos percussivos de Troubadour of Aberdeen e a flauta criam uma atmosfera demasiadamente alegre e estimulante no despertar de Father in The Wind. Cheia de rimas perfeitas, porém, o lirismo da canção aborda tanto a necessidade por cautela quanto o amparo oferecido por criaturas imagéticas. 


Com protagonismo do teclado de Bard David of Larchmont e do baixo de Earl Grey of Chimay, o que se tem na introdução de Darker Shade of Black é um ambiente inebriado pela melancolia, pois seu som, apesar de comovente, é triste e até mesmo sofredor. Isso acontece porque o violino de Scarlet Fiddler invade a melodia como se estivesse gritando em lamentação, chorando longas e incontroláveis lágrimas. 


Assim como aconteceu em Once Upon December, a energia folk vai às alturas com a melodia criada pelas linhas dedilhadas da guitarra acústica em The Twisted Oak. Alegre, mas com toques de um suspense excitante, a sonoridade acompanha Candice em sua narração sobre desinteresse e a falta do sentimento de pertencimento em uma roupagem mítica e rodeada de rimas perfeitas.


Uma melodia épica se forma na introdução da faixa-título. Imponente e grandiosa, a atmosfera sugerida na música possui protagonismo do tilintar do pandeiro e do som do trompete transmitido pelo teclado. Como a melodia da canção sugere, a letra aborda, de uma forma mais visível, o momento em que a rainha assume o trono. De outro lado, essa mesma letra enaltece a simplicidade, como pode ser notado no trecho “Come run away, we'll leave this all behind. Dance to the night underneath the velvеt sky”.


Larchmont emprega em Der Letzte Musketier um teclado de som mais orquestral, lembrando o interior das igrejas. Mas não apenas isso. De repente, o músico acelera a melodia criando uma atmosfera progressiva, transformando a harmonia da canção. Surpreendentemente, após a longa introdução, o que se percebe é a fuga da estética folk e a adoção de uma roupagem clássica do blues, com bateria em compasso cadenciado na métrica 4x4 e uma guitarra aveludada que caminha de forma macia pela base rítmica. É como se Blackmore estivesse revisitando seus tempos de Rainbow e Deep Purple.


Uma atmosfera triste e melancólica se firma em Wish You Were Here. Dramática e sentimental, a canção de fato tem uma energia lamentosa que ganha força com o apoio da backing vocal Lady Lynn. Ao mesmo tempo, a guitarra em estética blues paira pela atmosfera em ondas aveludadas e lacrimosas. Uma completa e gélida declaração de amor. A saudade por aquilo que não mais pode voltar.


A alegria e a roupagem folk recuperam força com a introdução de Going to the Faire. Como uma ótima narradora, Candice consegue fazer com que suas palavras ganhem forma na mente do ouvinte, o fazendo enxergar um casamento e toda a população comemorando a união.


A guitarra acústica surge em riff melancólico, mas ao mesmo tempo galanteador. A melodia cresce e ganha uma capacidade de atração e contágio ainda maior. Com groove, a canção se torna, assim como em Wish You Were Here, uma declaração de amor, mas de uma forma diferente. Enquanto na primeira há saudade, na presente faixa o que se percebe é o amor pela vida, pelo aprendizado. Todos esses elementos fazem de Second Element outro grande single do álbum.


É bom ver que em Nature’s Light o folk encontrou a mitologia alegre. É bom ver que no álbum existe melodia e existe uma harmonia grandiosa entre os músicos presentes no Blackmore’s Night. Harmonia essa capaz de criar um entrosamento responsável por fazer com que o disco transitasse por diferentes ambientes.


É verdade que o folk é a pedra filosofal do álbum, mas no decorrer de suas 10 faixas o que se percebe é uma viagem estilística que passa ainda pelo blues, fazendo, como foi sugerido anteriormente, com que Ritchie Blackmore mate a saudade de seus tempos nos grupos Rainbow e Deep Purple.


Em todo o caso, Nature’s Light é uma enxurrada melódica. Disso não há nem ínfima discussão. Não há discussão, também, de que o álbum tenha letras de devoção pela vida e pela natureza, fatores esses alegremente capturados na arte de capa.


Lançado em 18 de março de 2021 via earMusic, Nature’s Light é uma viagem no tempo ao que se refere à melodia. Da era medieval aos anos 70 e 80, o disco proporciona não apenas uma transição de estilos, mas uma reflexão sobre o que realmente importa: a vida.

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Sobre o crítico musical

Diego Pinheiro

Quase que despretensiosamente, começou a escrever críticas sobre músicas. 


Apaixonado e estudioso do Rock, transita pelos diversos gêneros musicais com muita versatilidade.


Requisitado por grandes gravadoras como Warner Music, Som Livre e Sony Music, Diego Pinheiro também iniciou carreira internacional escrevendo sobre bandas estrangeiras.