Dan + Shay - Good Things

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Desde sua formação na cidade de Nasville, em 2013, o duo Dan + Shay segue com uma periodicidade de lançamentos que caminha de dois em dois anos. Isso aconteceu desde o anúncio de Where It All Begun, o primogênito da dupla. E com o lançamento do quarto disco não foi diferente. Dois anos após a divulgação do álbum autointitulado, os nashvillians batizados Daniel Smyers e James Shay Mooney apresentam Good Things, seu quarto e mais recente trabalho.


Notas doces e executadas de maneira tranquila são presenciadas. É com leveza e delicadeza que Gordon Mote constrói uma melodia que, possuindo a mesma estrutura de See You Again, single colaborativo entre Wiz Khalifa e Charlie Puth, emana sensações de alegria e pitadas de nostalgia no despertar da faixa-título. A doçura prossegue tanto na voz de Dan quanto de Shay, que se dividem entre voz de apoio e principal enquanto a cadência rítmica é rodeada por elementos percussivos impressos por Nir Z. Tratando sobre culpa e o desejo de reparar más atitudes, a canção possui uma crescente melódica que se inicia no pré-refrão. Rodeada por uma batida repicada da bateria, a sonoridade da faixa-título atinge seu ápice ao adquirir uma estrutura rítmica calcada no pop, momento em que ambos os vocais são ressoados em falsetes e a melodia recebe grande auxílio de sons eletrônicos. Porém, é após o refrão que, com a entrada do mandolin de Bryan Sutton, o ritmo ganha ares rurais, intimistas e ainda mais singelos.


É como sentir a luz do Sol banhando corpo em uma tarde ensolarada na praia. A brisa do mar ventila o rosto e a sensação de paz e tranquilidade domina o ouvinte. Majoritariamente minimalista em elementos sonoros, Steal My Love é uma canção romântica em que o violão trazido por Ilya Toshinsky é o instrumento chave para criar a energia praiana que acompanha a composição durante toda a sua execução. De cadência lírica leve, a faixa recebe a presença da guitarra entregando tons mais quentes ao passo que as notas aveludadas e exotéricas do órgão Hammond imputam maciez. Essa junção de elementos faz com que o pré-refrão seja um trecho de crescente melódica e extremamente contagiante. Curiosamente, o ouvinte se surpreende na segunda estrofe de Steal My Love, pois a bateria assume participação protagonista na estrutura melódica e o baixo de Jimmie Lee Sloas, cuja afinação e manejo das cordas fazem do reggae o norteador da melodia da faixa. Afinal, todos os instrumentos passam a seguir a estrutura deste que é um gênero musical jamaicano.


As notas do piano praticamente recriam a ambiência construída na introdução da faixa-título. Porém, em You o que molda a melodia é uma base blues sutil, mas bastante perceptível. No que tange o lirismo, a presente faixa segue o mesmo caminho trilhado em Steal My Love e exala romance e declarações de amor. Isso ganha força principalmente a partir da participação das seis vozes de apoio na transição da primeira para a segunda estrofe. É verdade também que, com o emprego do Hammond, a canção ganha contornos de soul em sua melodia, o que oferece até mesmo a inserção de notas de swing na conjuntura estrutural.


Voz e estalar de dedos. É nisso que se pauta a introdução de Body Language. Seu minimalismo segue até mesmo no refrão, momento em que, a partir do mandolin e do violão, ganha uma sensualidade reconfortante. De maneira sutil, a sonoridade assumida pela faixa muito recorda a melodia de Love Yourself, single de Justin Bieber. Tendo a pronúncia lírica como principal artifício de inserir cadência, a faixa ainda possui elementos percussivos que entregam ares tropicais, os quais são acentuados pela afinação assumida pelas notas da guitarra de Dereck Wells.


Diferente de canções como a faixa-título, You e Body Language, Give In To You tem um início dramático protagonizado pelas notas graves e espaçadas do piano de Jordan Reynolds. É verdade que a palavra ‘minimalista’ já está presente no decorrer das faixas de Good Things, mas é aqui que o conceito é de fato honrado. Calcada na métrica voz e piano, a faixa é emocional e ao mesmo tempo intimista. Porém, o que define a canção é a união do menos-é-mais e a dramaticidade, tendo este último conceito ganhado considerável força a partir da inserção de um time de cordas clássicas formado por músicos como Nick Gold, Una O’Riordan, Charlie Judge, Allison Gooding Hoffman, Christina McGann, Johna Smith e Louise Morrison. Tudo para oferecer uma base justa para uma letra que aborda a falta de autoestima, o luto e a saudade.


O conceito de emocional segue forte em Irresponsible. A bateria e o violão criam, logo na introdução, uma atmosfera nostálgica. Curiosamente, porém, mesmo com a presença da guitarra, a canção ganha fortes contornos country na passagem do primeiro verso para o pré-refrão, fator que se mantém durante toda a execução. Muito do que estimula o feito é a união melódica estabelecida entre as notas da rabeca trazidas por Aubrey Haynie e as notas doces do bandolin. Como um todo, Irresponsible é aquela canção que se traduz em cores pastéis e em perfumes suaves. O ouvinte se sente extasiado pela melodia harmônica que passeia livremente pelo som construído pelos músicos presentes.


É verdade que Irresponsible possui características rítmicas que a tornam uma expoente do country, porém, é em Lying que a música country possui indiscutível presença. Tudo por conta do som do dobro servindo como introdução da faixa. Com ele, é como se o ouvinte se enxergasse em uma cena de velho-oeste com rolos de poeira sendo levados pelo vento. No entanto, a canção caminha para uma levada mista entre blues, soul e pop a partir de uma estrutura harmônico-melódica que acompanha um lirismo irônico sobre término de relacionamento e o início de outro com outro alguém. Muito longe da tristeza, o que o eu-lírico apresenta é bem-estar e uma tranquilidade que tenta passar para seu antigo par tal como ilustra frases como “believe me when I say I’ll be fine”, “I’m being honest, I don’t miss you in my bed” e “I swear I’m not lyin’”.


Um som exotérico e aveludado se faz presente e oferece companhia às notas doces do violão. É o próprio Dan Smyers incluindo no time sonoro o sintetizador. O veludo é um detalhe fixo na canção, a qual ainda encarna ares countrys a partir das linhas da bateria e do riff ululante das violas de Betsy Lamb e Charles Dixon que lembram até mesmo a música havaiana. Porém, a conjuntura instrumental faz com que One Direction exale um som tão ameno e tranquilo que sua caracterização acaba pendendo para um country indie.


Let Me Get Over Her é uma canção que transborda um aroma bucólico que abraça calorosamente um lirismo sobre o ato sexual, trazido de maneira romântica e emocional. É como amor adolescente, fresco, entregue, visceral e até mesmo um pouco ingênuo. E ajudando a criar essa atmosfera sensual e romanceada está o violoncelo de Kevin Bate e os violinos de Jung-Min, Johna, Hoffman e Mary Kathryn Von Osdale.


Um violão de melodia linear é quem puxa a canção em uma estrutura calcada na métrica que une o instrumento e a voz, a qual se pronuncia em uma cadência acelerada em relação àquela construída pelas cordas acústicas. Tocada inteiramente por Smyers, quem é responsável pelas linhas de bateria, baixo, sintetizador e piano, Glad You Exist é uma canção de lirismo exotérico que enaltece as coincidências da vida ao mesmo tempo em que une a insignificância do homem ante o universo e provoca o máximo aproveitamento da realidade imposta às pessoas, inclusive, instiga o agradecimento pelas companhias de que se tem. Afinal, como o eu-lírico mesmo diz, “there's a couple billion people in the world and a million other places we could be, but you're here with me”. Curiosamente, a cadência lírica aplicada para entoar os “oohs” no refrão faz com que o ouvinte relembre a melodia lírica cantada no ápice de Timber, faixa colaborativa entre Pitbull e Ke$ha.


O sintetizador oferece um som doce e crescente como o raiar do Sol em uma manhã de céu limpo. O efeito, por sinal, é o mesmo usado na introdução de We All Die Young, faixa do Steel Dragon, banda fictícia criada para o longa-metragem de Stephen Herek, Rock Star. Em seguida, o violão surge seguindo a mesma fórmula usada em canções como Steal My Love, One Direction e Glad You Exist. Macia e melódica, as linhas trazidas por Sutton são acompanhadas por um beat da bateria eletrônica trazida por Smyers. Cativante, 10.000 Hours possui um refrão chiclete e, no que se refere ao lirismo, ela é mais uma a compor o time de canções românticas de Good Things. Isso fica evidente principalmente nos versos “I'd spend ten thousand hours and ten thousand more” e “oh, if that's what it takes to learn that sweet heart of yours”. Ao mesmo tempo, porém, a letra carrega toques nostálgicos por abordar o ato do crescimento e amadurecimento de maneira a recordar locais vividos durante a infância e pré-adolescência. Na segunda estrofe, uma nova voz toma conta do microfone. De tom agridoce e cheio de melismas, ela preenche o ambiente com jovialidade e frescor. É Justin Bieber fazendo participação ao lado de Dan + Shay. Esses fatores fazem com que a presente faixa tenha um grande apelo ao público teen.


Dramático, quase fúnebre. As notas do piano fogem drasticamente daquela ambiência alegre, macia e doce de canções como a faixa-título e You e oferece um clima triste e reflexivo. Esse cenário cabe perfeitamente bem para um lirismo que aborda a reconstrução emocional do eu-lírico após o término do relacionamento e pela culpa sentida por dizer coisas desnecessárias. Com notas de violino sobrevoando a harmonia, I Should Probably Go To Bed ganha toques ainda mais íntimos e emocionais com a participação final de Abby Smyers no backing vocal acompanhando seu marido em um dueto sincrônico.


Harmônico e melódico. Essas são as palavras que melhor caracterizam Good Things, um disco de energia alegre, estimulante e cujo lirismo não foge da temática amorosa e romanceada da vida. Calcado na estrutura do pop no sentido mais estrito do gênero, o álbum foi elaborado na melhor metragem radiofônica, mas sem deixá-lo apelativo.


Afinal, dentro do universo melódico existe, fora o pop, soul, elementos caribenhos e jamaicanos que, além de entregar um movimento rítmico cativante, imputa frescor e notas tropicais à harmonia. Ainda assim, o disco é notável pela sua maciez e suavidade na criação das linhas sonoras.


Muito do que se tem é consequência da competência e química estruturada entre os músicos recrutados por Dan + Shay para compor Good Things. E nesse aspecto, uma salva de palmas vai para Nir Z, pois a precisão e competência com que se movimenta frente à bateria são responsáveis por grande parte da cadência rítmica do álbum.


No que tange os vocais, eles seguem a mesma sinergia. São macios e suaves, mas alcançam força quando necessário. Cheios de melismas e falsetes, é até possível fazer honestas comparações com o timbre vocal e a forma como Bruno Marz interpreta suas canções.


Para fechar a composição estrutural de Good Things é preciso uma amarração, uma base sólida para unir todos os elementos. É aqui que entra a dupla da produção e mixagem. Na produção, Jason Evigan, Scott Hendricks e Smyers conseguiram captar a vontade e o frescor propostos pela dupla. Na mixagem, Jeff Juliano fez com que todos os instrumentos fossem ouvidos em tons claros e enalteceu ainda mais o apelo rítmico-lírico do disco para com os anseios e vivências do público teen.


Lançado em 13 de agosto de 2021 via Warner Music Records, Good Things é um disco de melodias macias e contagiantes. Alegre e sedutor, é majoritariamente baseado em lirismos românticos cujo tema central é o relacionamento. Um disco que respeita e atende a realidade e os desejos do público jovem.

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Sobre o crítico musical

Diego Pinheiro

Quase que despretensiosamente, começou a escrever críticas sobre músicas. 


Apaixonado e estudioso do Rock, transita pelos diversos gêneros musicais com muita versatilidade.


Requisitado por grandes gravadoras como Warner Music, Som Livre e Sony Music, Diego Pinheiro também iniciou carreira internacional escrevendo sobre bandas estrangeiras.