2STRANGE - Seja O Que For

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Foi agora, no primeiro mês de um ano que promete pôr fim à crise do Coronavírus, que a dulpla 2STRANGE escolheu para se lançar oficialmente no mercado fonográfico nacional. E isso aconteceu dois anos depois de ser abraçado pela Warner Music Brasil. De toda a forma, foi neste mês de janeiro que o duo decidiu anunciar Seja O Que For, seu EP de estreia.


É com uma melodia reconfortante como a brisa morna do Sol em um entardecer de verão que Essa Mina se inicia. Com um beat suave e de groove contagiante, a música tem uma letra de pronuncia coloquial e informal que trata o ato da conquista. Porém, aqui essa realidade é tratada com leveza e naturalidade, sem apelação ou linguagem chula, como aconteceu em Pele, disco de estreia de Luthuly. No quesito rítmico, a faixa transita livre e sutilmente pelo R&B e pelo soul.


Se em Essa Mina o soul era sentido pelo ouvinte, em Mariana esse ritmo não apenas é percebido, mas é ele quem guia e forma toda a base rítmica. Com leve flerte com o samba, a música tem um lirismo simples que narra, sem delongas, o momento em que o eu-lírico e sua amada se drogam juntos. Pode até assustar, de primeiro momento, saber que a música aborda isso, mas Dani Boi e Bobby Banks tratam essa questão com tamanha sutileza que, junto com a melodia, ela se torna amena.


Com uma pegada mais forte do R&B e base rítmica no eletropop, Hoje Sonhei se apresenta ao ouvinte. Fora esses detalhes, a maneira como o lirismo se apresenta forma linhas imersas na onda do rap regadas em rimas perfeitas, mas de forma singela. Afinal, é possível que o ouvinte pouco note a influência desse gênero na canção.


De forma crescente e com leve swing, Visão se mostra com uma melodia que divide espaço entre a sensualidade e a dramaticidade. Com rimas toantes, a música é como um autorretrato da vida de Dani Boi e Bobby Banks no que se refere ao lirismo. Entre os versos de canto calmo, o que se sobressai é, mais uma vez, o rap. Mas aqui o rap não traz agressividade ou acidez, mas funciona, sim, como um aviso, um alerta para aqueles que acham que conseguir o sonho é algo fácil.


A próxima faixa nada mais é do que um remix de uma canção própria do 2STRANGE. Pouco mais de quatro meses desde seu lançamento, Seu Olhar ganhou outra roupagem para Seja O Que For. Agora, a música ganha, além de Papatinho, a participação de Lourena. Essa presença extra fica perceptível no refrão, momento em que Lourena imprime sua voz de tonalidade agudo-aveludada.


Com energia mais baixa, Quantas Vezes? se mostra, inicialmente, uma música de harmonia triste. Com a participação de Mozart Mz, a música, em seu rap característico, traz uma dramaticidade extra na interpretação lírica, a qual possui, ainda, diversas rimas perfeitas.


De temática que mistura psicodelia e astralidade, Deixa Pra Lá foge daquele pressuposto de que toda última música de um trabalho deve ser alegre e com uma melodia que coloque o ouvinte pra cima. Aqui, ao contrário disso, o que 2STRANGE sugerem é uma reflexão sobre solidão e depressão. E essa reflexão tem vieses interessantes, pois colocam em cheque a disputa ente a força de vontade com o comodismo da dor. De fato, uma música de lirismo visceral.


Seja o que for. Essa soma de palavras, juntas em uma frase, não poderiam ter sido melhor empregadas do que para pôr nome ao trabalho de estreia do 2STRANGE. Seja o que for a vida, seja o que for o comportamento, seja o que for  a ocasião, seja o que for a vivência. Seja O Que For é um disco que transita pela vida dos batizados Daniele Sgro e Alessandro Sgro de forma suave, mas dramática.


Trazendo diversas experiências vividas pelos irmãos, é quase possível dizer que o EP funcionou como uma terapia, pois como já foi levantado anteriormente, o lirismo de cada uma das sete faixa traz situações delicadas e inusitadas vividas pela dupla.


Rodeado por engenheiros de mixagem, tais como Arthur Rodrigues, André Nine, Nox, 2f-uflow e HenriMac, Seja O Que For possui melodias que somam às letras e as completam, ampliando ou amaciando a sensibilidade do ouvinte, a qual sofre alterações constantes a partir dos lirismos das canções.


A arte de capa, por sua vez, só tem a somar com o material do EP. Feita por Anderson Café, ela denota a liquidez do mundo e o quão nossas vidas são guiadas por elementos externos, sendo eles o acaso ou a própria natureza. De qualquer forma, Café conseguiu, com seu trabalho, passar a ideia do maleável  e de que a vida não é algo rígido.


Lançado em 15 de janeiro de 2021 via Warner Music Brasil, Seja O Que For é rap, é samba, é R&B, é soul. O EP é um trabalho antes de tudo visceral, com melodias que se enquadram em suas propostas. Como um trabalho de estreia, de fato merece uma salva de palmas. 


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Sobre o crítico musical

Diego Pinheiro

Quase que despretensiosamente, começou a escrever críticas sobre músicas. 


Apaixonado e estudioso do Rock, transita pelos diversos gêneros musicais com muita versatilidade.


Requisitado por grandes gravadoras como Warner Music, Som Livre e Sony Music, Diego Pinheiro também iniciou carreira internacional escrevendo sobre bandas estrangeiras.