
O amanhecer é regido por um céu cinza e chuvoso. Porém, não é apenas um estado melancólico pegajoso que reina na atmosfera. Afinal, o seu horizonte é repleto de raios e relâmpagos que cortam o seu torpor monocromático oferecendo requintes de raiva e até mesmo desespero. Graças à distorção e afinação garantidas pela guitarra de Jesus Lacerda durante os momentos iniciais imediatos da introdução, essa paisagem imagética é como uma espécie de utopia que preludia o caos.
Assim que um sonar agudo é presenciado de maneira crescente por meio de seu toque sintético e na divisa para com a estridência, a composição leva o ouvinte para a segunda etapa de seu amanhecer. Agora sob uma postura visceralmente rascante em sua dramaticidade pegajosa, a faixa passa a ofertar uma sonoridade mais completa.
Na presença de uma bateria que, na posse de Robson Simi, soa explosiva em meio às suas lágrimas desoladoras, a canção passa a ser agraciada por um escopo rítmico emocionalmente sincrônico. No entanto, é necessário ressaltar que, apesar de ter consistência em sua desenvoltura, o instrumento percussivo não assume a força e, de certa forma, o poder que a canção pede para exortar da melhor forma as emoções difundidas pelo seu viés melódico pelo simples motivo de soar brevemente opaco.
Ainda que esse detalhe apenas evidencie o fato de que a mixagem ofereceu uma breve falha na equalização do volume dos instrumentos, dificultando, assim, a percepção do punch e da intensidade, de forma mais limpa, que a canção pede, ele não prejudica em demasia a experiência do ouvinte. Afinal, a bateria cria, percussivamente, a mesma visceralidade defendida pela guitarra até então.
No instante em que o primeiro verso finalmente ganha vida através de um enredo lírico introduzido sob uma cadência rappeada fornecida por Kevin Campos, a canção é adornada por uma concisão melódica graças à entrada do baixo de Johny Richard na base sonora. Agora com corpo, a canção permite liberdade para o ouvinte decifrar o contexto verbal da obra.
Com um timbre levemente grave e azedo em sua curiosa limpidez, Campos faz com que a faixa encarne, por completo, a visceralidade emocional do metalcore de forma a proporcionar uma viagem temporal de volta aos anos 2000. Promovendo uma atmosfera sombria e pegajosamente dramática, o vocalista se divide entre tons limpos e uso de drives levemente guturais para imprimir a angústia existente no conteúdo lírico.
Em Siinaiss, o que acontece é a apresentação de um personagem vivendo o iminente fim de um relacionamento. Entre versos que rememoram Por Enquanto, single de Cássia Eller, pela sua natureza melancólica, a faixa, conforme se desenvolve, evidencia a dependência do protagonista na figura da ex-companheira, além do fato de não haver reciprocidade na união. Simplesmente uma canção que encapsula a decepção sob a musicalidade de uma banda com grande potencial.