A guitarra em efeito ressonador faz a vez da introdução com uma interessante de viés bucólico e swingado. Ao fundo, como se vindo da programação AM de um rádio antigo, uma voz masculina e afinada é ouvida sob uma cadência lírica que sugere uma ambiência sertaneja, folkeada. De estética macia e com a presença de chiados que, mais do que comunicar uma leve mistura do lo-fi na receita melódica, traz certo grau de crueza estrutural, a introdução acaba assumindo uma essência curiosamente retro.
Depois da execução do verso aparentemente pertencente ao refrão, um silêncio súbito toma conta do ambiente, o tornando abruptamente sinistro em sua mudez espectral. Poucos instantes depois, a partir de um punch uníssono, a canção tem, enfim, seu verdadeiro início. Apresentando uma sonoridade precisa e consistente, em que o ouvinte consegue notar a união de uma bateria precisa e suja junto de duas guitarras que se dividem entre afinações agudas e graves a ponto de construir uma interessante noção de swing folkeado, a introdução já chama a atenção pela sinergia existente entre os músicos.
Porém, o que de fato se destaca na canção é o timbre do vocalista. Se mostrando logo após a primeira execução instrumental do primeiro verso, ela destaca sua identidade ligeiramente rasgada e de toque agradavelmente afinado. A partir daí, o espectador capta um afastamento do campo da música folk e uma maior afinidade para com o espectro do hard rock. E isso é exatamente o charme estético da obra: a fusão de dois padrões pre-estabelecidos vindos de campos musicais diferentes que, combinados, constroem uma arquitetura audaciosa e original.
Combinando a guitarra em efeito lap steel e outra com ressonador, a canção faz com que sua linearidade rítmico-melódica narrativa não perca o brilho e não se torne massante. Afinal, são elas que, inclusive, auxiliam na elaboração do âmbito harmônico. Do lado melódico, ainda, é preciso pontuar a contribuição do baixo na conjuntura sonora.
Apesar de escondido em meio à somatória de sonoridades vivas oferecidas pelas guitarras, ou mesmo do destaque dado à levada da bateria, o baixo é o elemento que, em sua forma tímida, se posiciona com sua linearidade ligeiramente borbulhante e dá à base melódica a consistência e o corpo necessários para que o som se torne firme e forte. Dessa forma, ao lado da bateria, o instrumento consegue fazer com que a canção se apoie em uma estrutura coesa e precisa.
Com essa conjuntura, formada por uma melodia que funde elementos do folk e do hard rock, I’m Free From You é uma canção em que o Santiago & The Soulmovers dialoga sobre a necessidade de superar as dores de uma desavença amorosa. Uma experiência de paixão que tirou, do protagonista, a autoestima e o autocontrole. Porém, agora reestabelecido e emocionalmente amadurecido, ele, na posse da autovalorização, consegue impor limites que o poupam de novos repetidos sofrimentos.