Um sonar ácido e estridente em sua forma digital é ouvido através de uma insistência ondulante que chega a ter um cunho hipnótico capaz de capturar rapidamente aquele ouvinte de postura mais frágil. O interessante, nesse ínterim, é que quanto mais essa sonoridade é reverberada, mais o espectador é introduzido em suas próprias lacunas emocionais a ponto de despertar o medo e a insegurança perante o senso de solidão que surge de maneira um tanto enigmática.
Rapidamente, o torpor no que tange a inconsciência começa a diminuir, levando o ouvinte para m estado agoniante de consciência mental, mas de corpo amorfinado. É como estar acometido pela paralisia do sono, um estado que deixa que todos os demônios interiores fujam de uma vez dos confins da mente sem a confiança de que irão retornar.
Eis que a camada lírica começa a ser desenhada. Ao invés de diminuir o caos, ou mesmo criar uma espécie de proteção, a interpretação lírica assumida por Natalie Mess é marcada pelo fantasmagórico e pelo aterrorizante que, pelo seu tom agudo, amplifica o temor pela solidão e o torna, inclusive, rascante. É nesse instante que a cantora, inclusive, passa a experimentar vieses viscerais e soturnos perante um enredo que se mostra cada vez mais sombrio.
Aumentando o temor e o senso de desproteção, a canção leva o ouvinte para um ambiente de sonoridade intimista em seu caráter cínico e rastejante. Com grande presença do baixo de forma a contribuir com a atmosfera pegajosamente embebida em impotência, esse trecho da canção acaba bebendo, indiretamente, das mesmas fontes de Haiti e O Gosto Do Azedo, músicas creditadas a Caetano Veloso e Rita Lee, respectivamente.
Surpreendendo até os ouvidos mais desavisados, Fria acaba explodindo em uma atmosfera soturna e visceral embebida na estética sonora do post-grunge. Melancólica, grave, dramática e agonizante, a faixa simplesmente é marcada por um enredo que traz a dicotomia entre solidão e a coragem de se entregar ao afeto em uma clara alusão do desprendimento do medo e da insegurança de eventos passados em prol da aposta na imprevisibilidade do novo.