Um sonar sintético estridente já é capaz de causar calafrios através de sua imediata presença. Introduzindo no ouvinte, sem aviso, sensos de insegurança, temor e até mesmo ansiedade, essa sonoridade é rapidamente acompanhada por um grupo de vozes desconexas que soam quase loucas em seus picos de esquizofrenia. A partir daí, o sombrio se torna um ingrediente impossível de ser modificado em vista de sua pegajosa desenvoltura.
Assim que o primeiro verso se evidencia, a canção, enfim, destaca sua essência rap a partir de uma linha lírica desenhada através de um vocal masculino de timbre ligeiramente gélido que se movimenta de maneira sincopada. Ligeiramente rígido em cada palavra pronunciada, esse vocal é o responsável por dar ênfase em versos pontuais que merecem mais atenção em razão de seu peso dramático no contexto da narrativa.
Entre uivos aterrorizantes, Fallen Fruit é onde o my•escy, explorando uma atmosfera visceral, dramaturgicamente densa e repleta de um senso de desesperança em meio a uma paisagem pesadelística caótica, fornece um lirismo agressivo sobre a violência juvenil.
Embebida na experimentação de uma sonoridade industrial em meio ao rap tradicional imbuído no horrorcore fundido em menções de trap, Falling Fruit dialoga sobre a construção de uma personalidade fria e insensível desenhada através da convivência em meio ao caos, à instabilidade social e à intensa relação com a morte. É o verdadeiro retrato da manipulação do caráter pelo senso de comunidade e pela aquisição de um propósito como forma de suprir a necessidade de se sentir útil e pertencente a um grupo.