A bateria é o elemento que funciona como o abre-alas da canção. Com uma frase quebrada pronunciada de forma precisa, firme e concisa, o instrumento permite que o instrumental introdutório se pronuncie logo em seguida sob uma silhueta densa, suja, mas, principalmente, potente. Além de uma guitarra de riff distorcido que se apresenta em meio a gritos agonizantes, tal frase sonora é regida por uma bateria explosiva e um baixo de groove consistente a ponto de fornecer uma amarração rígida na base sonora.
A partir daí, a fusão entre o metal alternativo e o post-grunge se torna uma realidade inquestionável. Ainda que isso de fato aconteça, é interessante perceber a presença de uma sensualidade debochada na sonoridade no momento em que a canção entra em seu primeiro verso. Nesse momento, além de o baixo apresentar uma postura cinicamente sensual, a maneira como Jaydson emprega seu timbre agudo e rasgado na construção das linhas líricas sugere um curioso tom de deboche.
Mostrando a inserção de uma nova ambiência melódica, agora proveniente do hard rock, conforme vai acessando o refrão, Camisa Amarela vai assumindo, de maneira completa, uma aparência sensual e libidinosa. Enquanto isso, porém, Jaydson faz do enredo lírico não apenas uma provocação direta, mas sim uma ironização da atmosfera política como um todo. Da manipulação, passando pelo egoísmo estrutural ao cinismo envolto na ânsia manipulativa em prol da aquisição de eleitores, o cantor simplesmente desaprova a maneira como o cenário político funciona.
E é exatamente nesse ponto que se percebe uma atitude ousada, audaciosa e, até mesmo, arriscada do cantor. Afinal, além do que já foi mencionado, Camisa Amarela discute a farsa da liberdade de expressão pregada pela Constituição brasileira de maneira a trazer, nas entrelinhas, menções de atos de censura por parte do governo. Não haveria, portanto, momento melhor para a canção ser lançada do que nas vésperas da eleição para prefeito. Ainda assim, ela seguirá como uma canção atual e ressonante em todos os tipos de eleitorado. Do governador ao presidente.