Indiscutivelmente e de maneira surpreendente, é como se, desde seu sonar introdutório imediato, a canção abrisse, de forma escancarada, a porta para que o ouvinte tenha acesso às suas mais profundas e intensas sensibilidades. Promovendo uma paisagem paradisíaca e utópica perante os olhos que refletem imagens de um inconsciente movido pela sensorialidade, o amanhecer da composição se constrói através de uma harmonia tocante estruturada por meio da fusão de uma guitarra aveludadamente bluesada com um piano capaz de inserir a mais delicada e floral textura possível.
Assim que a bateria entra em cena por meio de curtos, mas precisos golpes, a canção é rapidamente levada para o seu primeiro verso. Nele, além de o ouvinte ser apresentado para linhas líricas dominadas por uma voz feminina forte e grave vinda de Cindy Clark, é possível de se perceber um groove maciçamente consistente e preciso transpirando pela interpretação melódica do baixo. A partir dele, em contato com as frases frágeis do piano, vaivéns entre as atmosferas do soul e do gospel são observados de forma a engrandecer a paisagem sonora da composição.
Cheia de sensualidade, A Future Song, uma canção inspirada no capítulo bíblico Revelação, surpreende o espectador ao trazer um novo ingrediente ao espectro lírico. Uma voz feminina de caráter agudo e bastante delicado passa a dividir espaço com Cindy. Eis Lisa Temple promovendo o equilíbrio entre força e fragilidade. Uma verdadeira representação da vulnerabilidade do indivíduo perante os sinais sensitivos transmitidos pelos espíritos em sua forma de comunicação com o mundo terreno.