Zé Vaqueiro - Vibe Original

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Alguns gêneros nordestinos têm ganhado cada vez mais notoriedade e adeptos. Grandes exemplos disso são o piseiro e a pisadinha. Agora, porém, esses ritmos ganharam um novo expoente. Vindo da cidade de Ouricuri, o pernambucano Zé Vaqueiro acaba de se lançar no mercado com Vibe Original, seu primeiro EP.


O teclado de notas agudas, de início, dá uma exalada em uma energia nostálgica. Porém, logo em seguida há a inserção de tons mais firmes que, unidos aos agudos, imprime uma noção épica à introdução. Eis então que um vocal de timbre afinado e aberto entra em cena anunciando que a canção é de autoria de Zé Vaqueiro. Apesar disso, a melodia segue uma estrutura majoritariamente minimalista calcada na união teclado e voz que a insere no campo da pisadinha. Por outro lado, há ainda na faixa um tempero que soma em cadência, que é o afrobeat. Já no que se refere ao lirismo, é o que tipicamente é chamado de fossa. Afinal, o eu-lírico lamenta a falta de amor, tema que, por si só, poderia entrar na gama de canções provindas do sertanejo universitário. Essa é Cadê o Amor.


Um beat acelerado abre espaço para um teclado de notas melosas. Passado essa breve introdução, porém, entra um afrobeat mais acentuado que aquele presente na canção anterior que conta apenas com sobrevoos onipresentes do teclado, os quais acabam servindo apenas de base melódica para essa que é uma faixa calcada na estética piseiro. É curioso que, apesar do protagonismo absoluto da dupla bateria e teclado, o groove do baixo exceda seu próprio espaço e acabe mostrando que A Recaída tem harmonia incrustada no forró.


Traços do forró e de seus subgêneros, tais como o piseiro, são recebidos. É curioso, mas o riff de guitarra, mesmo que suave, mostra um flerte com o reggae, dando um swing a mais na canção e a fazendo imergir no universo da pisadinha. Queda de Moto é uma canção de lirismo curto, mas com ritmo contagiante graças à batida, a qual traz muito do forró.


Dramática. Essa é a palavra que melhor define a introdução de Você Conta ou Eu Conto, uma música que, no que se refere à proposta lírico-melódica, em muito se assemelha com Cadê o Amor, até porque, as duas possuem base no arrocha. Porém, enquanto na segunda o eu-lírico lamenta a falta do amor, na primeira há a lamentação do término do relacionamento e a busca pelo retorno.


Apesar da inserção do afrobeat, o teclado presente acaba levando a canção para outro ambiente, o universo do tecnobrega. No que tange o lirismo de Me Chamando Pra Fazer, ele é pobre por retratar o anseio pelo ato sexual, mas ao mesmo tempo adota uma narrativa que foge do apelativo, deixando o contexto geral suave. 


O blend formado por tecnobrega e pisadinha se pronuncia com força na introdução de Tô Beijando Ela. Trazendo situações machistas em que apenas o prazer do homem é prevalecido e quando o oposto ocorre o eu-lírico passa a ficar sentimental e choramingando, a faixa segue o mesmo caminho de Me Chamando Pra Fazer, pois é o ritmo que contagia pelo amplo teor melódico.


Sem mais nem menos, é preciso dizer que Vibe Original é um produto brasileiro. Afinal, além de fundir no seu instrumental influências africanas, ele tem um swing latino extasiante. Ao mesmo tempo, como foi visto em faixas como Me Chamando Pra Fazer e Tô Beijando Ela, o lirismo prevalece em demasia o desejo masculino ante o feminino. Isso, porém, não é um demérito exclusivo de Zé Vaqueiro. É um comportamento institucionalizado na sociedade brasileira que acaba sendo difundido por gêneros como sertanejo universitário e os filhos jovens do forró, como o arrocha, a pisadinha e o piseiro.


O que chama a atenção também é a semelhança do timbre de Zé Vaqueiro com o de Wesley Safadão. Ambos possuem um vocal aberto e ligeiramente anasalado que entregam mais alegria às canções que interpretam. Especialmente no campo de Vaqueiro, ele deve muito à cooperação de nomes como João Ribeiro, Guedes Neto, Robsom Lima, Val Lima, Shiltons Fernandes, Rodrygo Reis, Felipe Amorim, Kaleb Jr., Renno Poeta, Felipe Silva, Celso Silva, Lucas Macena, Guedes Neto, DJ Ivis DJ Caio. Sem esses nomes, certamente não haveria Vibe Original.


Lançado em 07 de maio de 2021 via Sony Music Brasil, Vibe Original tem a assinatura do nordeste. Afinal, sua essência é forró e sua superfície transita pelos gêneros em alta da região. Uma malemolência juvenil sedutoramente brega.

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Sobre o crítico musical

Diego Pinheiro

Quase que despretensiosamente, começou a escrever críticas sobre músicas. 


Apaixonado e estudioso do Rock, transita pelos diversos gêneros musicais com muita versatilidade.


Requisitado por grandes gravadoras como Warner Music, Som Livre e Sony Music, Diego Pinheiro também iniciou carreira internacional escrevendo sobre bandas estrangeiras.