Sacrifix - The Limit Of Thrash

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Para oferecer uma prévia do sucessor de World Decay 19, o trio Sacrifix se reuniu novamente no estúdio para produzir The Limit Of Thrash, o primeiro EP do conjunto paulistano. Trabalho é composto por três faixas que servem como um aperitivo para o segundo disco de estúdio a ser lançado em breve.


Acelerado, azedo e ríspido. O despertar de Thrash Again é de uma estridência tão evidenciada que se deleita de maneira quase profunda com a estética do death metal muito por conta do efeito sonoro de metralhadora proporcionado pelos golpes executados por Gustavo Piza na caixa. Contudo, na segunda etapa introdutória a melodia acaba construindo uma sonoridade que defende a crueza e a essência do thrash metal. Quando o vocal agudo e rasgado de Frank Gasparotto surge em um timbre de caráter semelhante ao de Rob Halford na fase de Painkiller, álbum de estúdio do Judas Priest, a faixa entra em uma linearidade agressiva que, curiosamente, faz parecer imergir no campo melódico do lo-fi por conta do chimbal que soa tal como uma espécie de chiado persistente. De outro lado, Thrash Again é completada por um solo de guitarra agudo e rápido que serve como amarração para um lirismo intensamente nebuloso, trevoso que, além de apresentar a veneração a Satanás, estimula o livre arbítrio incondicional e acorda com um embrionário senso anarquista.


A guitarra vem limpa e com um embrionário veludo que é bloqueado por uma energia obsessora que estimula a agressividade. Amplificada pelo uníssono alto e áspero possibilitado de maneira propositadamente pontual pela guitarra e bateria, tal senso de agressividade e rispidez se funde em uma melodia de aceleração linear e curiosamente bem equalizada. No entanto, é nos sonares transitórios entre as duas subdivisões da introdução que a precisão do baixo de Kexo se faz percebida. Apesar de manter o nível de brutalidade intacto, a interpretação obtida pelo Sacrifix de No Limite Da Força, single do Anthares, soa mais equalizada e com um caráter estranhamente mais radiofônico. Mesmo durante o primeiro verso em que o azedume toma conta, se percebe uma maior lapidação melódica por parte do trio. É no mesmo trecho, porém, que a interpretação vocal de Gasparotto surge mais compreensível e audível de maneira a até sua rouquidão rasgada proporcionar uma melhor harmonização com a roupagem sonora da faixa.


Em meio à linearidade rítmica cavalgante, existe uma audível diminuição no volume padrão da melodia que se mostra áspera graças aos riffs da guitarra que preenchem a superfície do escopo sonoro. World Decay 19 – Demo possui curiosamente uma espécie de peneira na crueza e brutalidade em relação à versão inclusa no álbum homônimo, mesmo sendo possível notar uma evidente imersão melódica no campo do death metal a partir da sonoridade azeda instaurada no primeiro verso. Apesar de composta há pouco mais de um ano, a faixa continua com certo senso de urgência e atualidade ao transpor todas as mazelas sócio-emocionais impostas pela pandemia desde sua eclosão no final de 2019.


Consistência. É isso o que The Limit Of Thrash informa sobre o som do Sacrifix. É verdade que a banda existe há pouco tempo, mas dois anos já é tempo suficiente para que a banda modifique seu som. Felizmente esse não foi o caso do power trio paulistano.


A única mudança, se é que é possível chamar assim, na sonoridade da banda, é a notável maturidade estética, o que fica evidente em Thrash Again. Com estética mais precisa e fiel à crueza do thrash metal, a faixa claramente serve como um prato de entrada para o sucessor de World Decay 19.


De outro lado, The Limit Of Thrash apresenta uma diferença marcante na mixagem executada por Marco Nunes. Enquanto em Thrash Again e mesmo no cover No Limite Da Força o som se mostra mais equalizado, em World Decay 19 – Demo existe um desequilíbrio em tal exercício. Afinal, além de já iniciar em volume baixo, após poucos instantes da introdução ocorre outra diminuição no volume da faixa, o que destoa em relação ao das demais músicas.


Sintetizando toda a energia da obra de maneira visual vem a arte de capa. Feita por Gasparotto, ela é quase monocromática em sua essência, mas os diferentes tons de azul rompem a monotonia tonante. De outro lado, a obra ainda representa bem a agressividade do thrash metal por imprimir agressividade e rispidez na forma de um raio que rasga a calmaria entorpecente a partir do eixo principal e suas ramificações de luz intensa.


Lançado em 11 de março de 2022 de maneira independente, The Limit Of Thtash é como uma agradável degustação de um prato de entrada que antecede o robusto e aguardado sucessor de World Decay 19. A saudade do som dos thrashers do Sacrifix é tranquilizada, mas a curiosidade em conhecer seu novo álbum de estúdio atinge novos e altos patamares. 

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Sobre o crítico musical

Diego Pinheiro

Quase que despretensiosamente, começou a escrever críticas sobre músicas. 


Apaixonado e estudioso do Rock, transita pelos diversos gêneros musicais com muita versatilidade.


Requisitado por grandes gravadoras como Warner Music, Som Livre e Sony Music, Diego Pinheiro também iniciou carreira internacional escrevendo sobre bandas estrangeiras.