PLUMA - Revisitar

NOTA DO CRÍTICO
Nota do Público 5 (1 Votos)

No início do último bimestre do ano, o quarteto PLUMA enfim lança seu novo trabalho. Produzido desde 2019 enquanto os integrantes do grupo foram emprestados para participarem de Cantinho, EP de João Marcos Bargas, Revisitar agora enxerga clara e nitidamente a luz do dia ao integrar oficialmente a discografia do conjunto.


Um interlúdio bem humorado e ligeiramente psicodélico. De estética caseira, aAaaAaAaAAAAaaA traz o imprevisto, o improviso e a espontaneidade do PLUMA na forma de um medley introdutório de Atrasado, Passado. A faixa se apresenta com uma embriagante new wave alternativa guiada pelo teclado de Diego Vargas. Quando Marina Reis entra em cena com seu timbre doce, singelo e ameno nos moldes da MPB, a canção assume um minimalismo de uma sensualidade crepuscular. Com pitadas de R&B, a faixa ainda possui, a partir do desenho proporcionado pela bateria de Lucas Teixeira, uma base rítmica que se mostra como um protótipo de baião. De refrão cuja sonoridade é um ácido que recria a ambiência da cena musical setentista, Atrasado, Passado traz em seu lirismo uma análise social que beira o inconsciente ao abordar o saudosismo, a nostalgia e a consequente insegurança pelo amanhã. Ao mesmo tempo, há o questionamento intrínseco de se a nostalgia não seria em si uma lamentação pelo não aproveitamento dos momentos passados.


O teclado prossegue com suas notas agudas e embriagantes. A bateria traz um movimento sincopado que consegue fincar os pés do ouvinte ao chão e o baixo de Guilherme Cunha, com seu groove discreto, mas perceptível, acaba somando à melodia e completando esse ambiente sensualmente lunar.  De fato, Transbordar acaba assumindo a posição de faixa que exorta o sentimento do amor e da paixão a partir de um lirismo romantizado trazido por meio de sobreposições vocais. É esse mesmo conteúdo lírico que funciona de maneira como se o ouvinte imergisse no próprio devaneio sentimental.  


O R&B assume com grande presença a introdução da faixa-título. Com um gingado singular, a canção traz um formato ousado ao trazer, após a introdução, o refrão. Contagiante e animado, a canção vem acompanhada de um lirismo que narra um eu-lírico que vive às margens de um saudosismo que beira dependência amorosa. A necessidade do outro é a base do iceberg que é a presente canção.


Se em Transbordar o baixo era discreto, em Não Há Movimento ele é essencial para a criação da estética melódica do soul. Ela acompanha, com swing, um lirismo regado em rimas perfeitas que, em essência, mascaram a simplicidade estrutural que beira o monossilábico. 


Ao contrário do que a última faixa defende, Revisitar é um EP repleto de movimento. Com swing trazido tanto pela melodia quanto pelas interpretações vocais, ele é, inclusive, um trabalho que combina soul, R&B, new wave, psicodelia e baião em um caldeirão que borbulha originalidade estética.


Entre as referências estilísticas ainda é possível encontrar a MPB com singelos classicismos melódicos. Essa soma de fatores é possível de ser percebida graças à liberdade de produção e à mixagem assinada por Hugo Silva. O trabalho por ele feito ressalta, inclusive, o quão lapidadas soam as levadas da bateria, tornando o exercício de Teixeira a cereja do bolo em Revisitar.


Eis que se percebe o estímulo visual. Criada por João Nuci, a arte de capa do EP é uma tradução das letras. Seu plano de fundo em tom clean sugere leveza e, pelo seu brilho, há até uma alusão ao renascimento. De outro lado, as cores vivas que adornam a grafia de PLUMA traz em si um tropicalismo latente com grandes referências nordestinas.


Lançado em 12 de novembro de 2021 via Rockambole, Revisitar é um EP de intenso movimento. Romântico, ele vem acompanhado de swing e espontaneidade que formam a marca harmônico-melódica do PLUMA

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Sobre o crítico musical

Diego Pinheiro

Quase que despretensiosamente, começou a escrever críticas sobre músicas. 


Apaixonado e estudioso do Rock, transita pelos diversos gêneros musicais com muita versatilidade.


Requisitado por grandes gravadoras como Warner Music, Som Livre e Sony Music, Diego Pinheiro também iniciou carreira internacional escrevendo sobre bandas estrangeiras.