Julian Lennon - Save Me / Breathe

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Pouco mais de um mês depois de anunciar Freedom / Every Little Moment, o inglês Julian Lennon divulga outro EP. Intitulado Save Me / Breathe, o novo produto do também filantropo dá seguimento a uma série de lançamentos que antecedem a divulgação de Jude, seu próximo álbum.


Notas graves e estranhamente adocicadas de um piano gélido e melancólico ministrado por Gregory Darling dão as primeiras pinceladas de cores no quadro melódico em processo de composição. A partir delas, é possível de visualizar um rosto cuja feição é entristecida e, os olhos, preenchidos por lágrimas represadas que, aos poucos, fluem pelo seio da face. É então que uma voz leve, mas impregnada por certa dose de torpor entra em cena. É Julian Lennon começando a introduzir, de maneira tímida, as primeiras linhas líricas. Exalando certo desespero contido em cada esquina verbal, o cantor vai montando um eu-lírico abraçado pela insegurança de estar presente consigo mesmo enquanto os violinos da Orquestra Sinfônica da Bulgária, coordenada pelo arranjador de cordas Brian Byrne, entram contidos e ampliando o tom dramático da canção. Após a terceira estrofe é que Save Me, com a entrada do restante dos instrumentos, assume uma crescente melancólica entorpecida que, sob a valsa melodramática e extrassensorial executada entre o baixo de Michael League e a bateria, ganha contornos melódicos que a assemelham às estruturas rítmicas das músicas do Oasis. Save Me é uma música que soa como uma prece de alguém em profundo conforto na solidão que, desesperado, pede ajuda para se desvencilhar do negativismo e do falso e sombrio aconchego da depressão. “You're the only one I know who lets the darkness come and go inside. Won't you save me?”, clama.


Ao contrário do que acontece na introdução de Save Me, as notas do piano trazem lampejos de esperança. São como a cenografia de feixes de luz rompendo a densa camada de nuvens cinzas iluminando o gramado quase sem vida. É como o caminhar lento de duas pessoas que, ao se encontrarem, desmoronam entre abraços apertados e lágrimas que misturam as emoções de proteção, insegurança e o tão sonhado aconchego. É nesse momento que, como um narrador onipresente, Lennon começa sua leitura lírica. Com sua voz quase agridoce de maneira a se assemelhar ao timbre de Ed Kowalczyk, cantor do Live, o inglês vai sobrevoando sobre uma atmosfera melodramática que é dominada pelos sérios e seguros sonares dos violinos. Curiosamente, por meio da programação de Peter-John  Vettese e dos elementos percussivos de Felix Higginbottom, a bateria surge com uma levada que introduz uma curiosa maciez e contágio à melodia entristecida de Breathe, uma música que trata, entre metáforas, sobre reconstrução. É como se Save Me e Breathe fossem canções interligadas em que, de fato, uma antecede a outra em estado temporal. A depressão e a tristeza dando lugar ao equilíbrio emocional e a vontade de mudar. É uma canção que trata da paz em tempos de conflitos bélicos desenfreados e descabidos, de equilíbrio comunitário em meio a tanta enganação lançada pelos donos do poder. É quase um hino sobre união e um mantra motivacional.


Freedom e Every Little Moment são canções que se dividem entre exoterismo e uma nascente excitação pela vida que, juntas às novas faixas, ajudam a vender a ideia de que Jude será um álbum que mistura crítica, melancolia e drama. Contudo, será um trabalho que traz excitação pela vida e esperança.


É um EP em que as duas faixas se complementam. É um EP que dialoga sobre a morte e a vida. A desistência e a esperança. O preto e o branco. Save Me / Breathe é um produto sensível que, assim como seu antecessor, ajuda a moldar um ambiente socio-analítico e reflexivo.


Novamente com auxílio de Mark “Spike” Stent na mixagem e Justin Clayton na produção, o EP exala britpop e indie de maneira a trazer melancolia, torpor e um curioso senso de morbidez que passam para uma ambiência de nítida esperança e motivação. Tudo a partir da mistura de sons clássicos com a instrumentação elétrica proveniente da programação, baixo e guitarra.



Lançado em 24 de junho de 2022 via Music From Another Room, Save Me / Breathe é mais um material que comprova a sensibilidade melódica e capacidade de compor faixas de impacto que o batizado John Charles Julian Lennon possui. Que venham outros EPs para acalentar a espera de Jude.

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Sobre o crítico musical

Diego Pinheiro

Quase que despretensiosamente, começou a escrever críticas sobre músicas. 


Apaixonado e estudioso do Rock, transita pelos diversos gêneros musicais com muita versatilidade.


Requisitado por grandes gravadoras como Warner Music, Som Livre e Sony Music, Diego Pinheiro também iniciou carreira internacional escrevendo sobre bandas estrangeiras.