NOTA DO CRÍTICO
Depois do sucessivo lançamento de singles e da divulgação do álbum ao vivo Viciando, em 2020, a dupla sertaneja campo-grandense João Gustavo & Murilo enfim lança seu primeiro EP. Intitulado Intro, o trabalho segue a trajetória de sucesso do duo, que já possui no portfólio um disco de platina e singles na lista do Top 200 do Spotify.
O teclado de Maicon Vicenti cria uma sonoridade de marcha monárquica enquanto o chimbal seco e tocado duplamente dá a ideia de que uma levada ao estilo pancadão carioca será iniciada. Porém, quando João Gustavo entra em cena com seu vocal empostado essas impressões iniciais evaporam. Com uma cadência vocálica semelhante ao de Marília Mendonça, o vocalista convida o ouvinte a entrar em um ambiente sertanejo sofrido e melancólico, cenário construído substancialmente a partir dos riffs macios do violão e as notas graves do teclado de Neto Schaefer. Ao mesmo tempo que o eu-lírico carrega pensamentos reflexivos sobre seus sentimentos sobre um outro alguém e procura por esclarecimentos sentimentais, Leandro Rocha deposita notas aveludadas e compreensivas da sanfona, as quais funcionam como uma figura paternal oferecendo alento, apoio e conforto no intuito de sanar o conflito vivenciado pelo personagem. Quando ocorre a ponte entre o primeiro verso e o pré-refrão, momento em que a dramaticidade ainda é latente, a cadência melódica acaba flertando com o ritmo estruturado no refrão de Medo Bobo, single de Maiara & Maraisa. Adotando falsetes afinados, João Gustavo recebe o acompanhamento carinhoso de Murilo no refrão de Lúcido e Louco, período de considerável crescente melódica e de cenário rítmico sedutoramente cativante que levantam a energia do ouvinte e trazem um personagem lírico certo de seus desejos.
A união do baixo de Tiago Moraes com a sanfona dão a ideia de um ritmo inicial mais enérgico em relação aquele da faixa anterior. Porém, assim como aconteceu em Lúcido e Louco, o eu-lírico segue uma disputa com seus sentimentos e moral. O ponto divergente entre as duas faixas é que, aqui, a nostalgia ganha ares de impedimentos morais, uma vez que o relacionamento foi encerrado. E é aqui que mora o conflito ético-moral do personagem, que tem consciência de que conseguiria atrair a ex-parceira para si apenas por alguns momentos e se questiona se esse é o certo. É a recriação do oportunismo. Melodicamente, o refrão de Beijo Bêbado é dominado pelo xaxado presente no desenho do groove da bateria de Diego Vicente, dando, assim, ares nordestinos à canção.
A melancolia aqui presente tem ares transcendentais por conta do som promovido pelo teclado. Estranhamente, o sentimento de melancolia não corresponde com o lirismo. Afinal, ele enaltece a felicidade em poder contar com uma paixão, um amor pelo resto da vida, fato que fica evidente quando o personagem pede “só promete não parar de me amar assim”. Varanda de Flores é, portanto, a música de teor mais romântico de Intro e aquela música que conta, entre o pré-refrão e o refrão, com um misto de forró e sonoridades espanholas a partir das linhas do violão, dos elementos percussivos de Rafael Vargas e da batida da bateria.
Curto sim, mas um EP suficiente para mostrar o potencial de João Gustavo & Murilo. Um potencial que foi bem trabalhado pelo produtor Schaefer e resultou em Intro, um produto melódico que consegue misturar melancolia, nostalgia e ânimo por entre imersões rítmicas que vão do sertanejo, transitam pelo forró e xaxado para enfim atingir influências espanholas.
Com vozes afinadas, boa sincronia e química, a dupla atrai o público para si com letras sobre amor, saudade e planos futuros. Claro que existe aqui pinceladas de cenários comumente vivenciados em baladas ou festas populares. Isso não tira o fato de que Intro seja um produto cativante.
Lançado em 20 de agosto de 2020 via Warner Music Brasil, Intro é um EP melódico, cativante e com lirismo de apelo ao público jovem. É um produto que une o sertão com o nordeste e que inclui levadas latino-europeias em uma conjuntura rítmica. Um esboço mais completo do que João Gustavo & Murilo promete fazer com o cenário do sertanejo.