Blue Helix - Anti-Social Butterfly

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Seattle é, para muitos, a cidade mais consagrada do mundo por ter dado vida a uma das vertentes mais sujas do rock, o grunge. Nesse braço se apoiaram grandes grupos da cena rock n' roll, como Pearl Jam, Nirvana, Alice in Chains, Soundgarden, Stone Temple Pilots e Audioslave. Da nova leva, um dos representantes do subgênero é o Blue Helix, conjunto que em 01 de novembro de 2017 lançou Anti-Social Butterfly, seu mais recente EP.


É com a agressiva faixa homônima que se tem o start do EP. Com uma frase padrão já utilizada por nomes como Tré Cool e Pete Parada, a bateria de Marco Bicca é quem puxa, sozinha, o punch da introdução. A guitarra solo de Arman Birang, por sua vez, se utiliza de riffs mais sujos para empregar um ar de rebeldia que abraçam a canção e convidam o ouvinte a iniciar o headbanging. A música ainda traz uma grande participação do baixista Brandon Wolf Gebhardt no pré-refrão. Anti-Social Butterfly é um single com tudo necessário para ficar marcado na cabeça do ouvinte: ritmo envolvente e harmônico, momentos propícios da participação do público com os "heys" entoados entre os músicos e um crescente instrumental ímpar. A canção ainda apresenta grandes flertes com o estilo sonoro de grupos como Nickelback e Volbeat, mas sem deixar de lado a autonomia e a originalidade.


O início de Enemy é lento, quase quieto. A guitarra cumprimenta o ouvinte com um riff mais melancólico, evocando a entrada dos outros instrumentos, que atuam da mesma forma, sem exaltação. Surpreendentemente, com a chegada do refrão vem também a construção de uma balada que dá o protagonismo ao vocal de Sami Chohfi. Como a construção da música é de um instrumental mais contido que a anterior, é possível se ater aos detalhes e aos pormenores da voz do frontman. Limpo e com bom alcance, o vocal de Chohfi tem a potência e a firmeza necessárias para dar o tempero que faz crescer a composição.


Minimalista. É assim que pode definir o início de Despair, a canção mais curta de Anti-Social Butterfly. Majoritariamente construída à base de voz e guitarra, a música tem um ar sombrio que explode em um surpreendente instrumental que embala até os ouvintes desavisados.


Já em This Tragedy acontece o oposto. O começo já é crescente e os versos seguintes relembram vagamente frases de metal sinfônico. A mensagem lírica, por trazer uma crítica ferrenha tanto à falta de crenças quanto ao uso indevido da mesma, talvez seja a mais intensa do EP. De tão forte, por exemplo, o trecho "Fathers are praying for life without meaning. Children are screaming, and God's not listening" é gravado na mente do ouvinte simplesmente pela seriedade e agressividade do teor reflexivo de suas metáforas. Essa agressividade vem também de encontro com o solo, que atua como se estivesse gritando, pedindo ajuda. O instrumental, por sua vez, abraça esse desabafo como incentivo à fúria, sentimento que se faz presente nos arrebatadores versos seguintes.


Runaways chega trazendo no ouvinte uma remota lembrança à sonoridade empregada pelo grupo Velvet Revolver com um grunge mais leve. No entanto, aos poucos a música vai se distanciando à semelhança e vai trazendo um som mais e mais pesado. A letra, assim como em This Tragedy, traz uma mensagem forte, mas aqui especialmente ela permeia o universo de usuários de drogas e pensamentos suicidas.


Anodyne traz, logo de cara, algo impossível de não se perceber. A introdução feita na guitarra tem extrema semelhança à canção Everlong, do Foo Fighters. Com uma boa performance vocal, a música é mais uma balada com intuito de abranger outras audiências, mas com um lirismo novamente forte e até mesmo contestador.


É verdade que o Blue Helix é ainda pouco conhecido no Brasil, mas em Anti-Social Butterfly o grupo mostra competência, presença, pressão e vitalidade. Lançado de forma independente, o EP apresenta ao ouvinte seis faixas autorais e que reencarnam aquele grunge já conhecido e executado pelos grupos de Seattle. O frescor e a fusão de influências em um som audivelmente original imprimem ainda mais competência e precisão ao quarteto da Terra do Grunge. Quem ainda não ouviu o trabalho pode estar perdendo tempo com músicas de baixa qualidade.


O cenário do rock nacional esfriou e o do grunge igualmente, no entanto, os espíritos do gênero e subgênero ainda vivem e resistirão ao modismo fonográfico. O Blue Helix, que abraçou o Brasil até mesmo em sua formação, que possui o paulistano Marco Bicca no comando das baquetas, faz parte da resistência. Que venha o próximo EP ou disco, Blue Helix!


*​Crítica originalmente postada no Allmanaque.

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Sobre o crítico musical

Diego Pinheiro

Quase que despretensiosamente, começou a escrever críticas sobre músicas. 


Apaixonado e estudioso do Rock, transita pelos diversos gêneros musicais com muita versatilidade.


Requisitado por grandes gravadoras como Warner Music, Som Livre e Sony Music, Diego Pinheiro também iniciou carreira internacional escrevendo sobre bandas estrangeiras.