Steven Lee Ebert - If Dreams Were Horses

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Um novo nome surge na indústria musical. Esse nome vem com o intuito de explorar novos sons e ambientes por meio da música folk. Steven Lee Ebert é um nome que, agora, encontra seu espaço no mercado por meio de seu álbum de estreia. Intitulado If Dreams Were Horses, ele tem, inclusive, respaldo de uma gravadora.


É como estar no alto de uma colina, na borda de seu desfiladeiro. O céu é de uma tranquilidade transcendental. Azul-turquesa, poucas nuvens. Metros abaixo, o mar transmite uma calmaria com o vaivém da maré, enquanto o Sol inicia sua despedida e a brisa do entardecer refresca timidamente a face do indivíduo que, de braços abertos e olhos fechados, busca captar a energia atemporal daquele instante. Eis então que o violãode Steven Lee Ebert entra em cena com ondulações macias e adoravelmente doces que ganham um ar aromaticamente transcendental com a união uníssona do violino de Richard Bowden e a guitarra lap steel de Bradley Kopp. Com a entrada do chimbal da bateria de Kevin Hall que, desenhando a cadência rítmica, é capaz de trazer sinais de uma breve lucidez ao torpor estrutural, a canção logo recebe a entrada de um vocal de timbre grave, delicadamente rouco e sereno, preenchendo a camada lírica. Ebert, agora na função de cantor, é capaz de amplificar o caráter bucólico que supera os limites do som e dar vida ao enredo de Time. Acústica em sua essência, mas grandiosa na proposta de oferecer generosas doses sensitivas, a faixa tem na guitarra de Kopp o elemento que entrega suaves toques solares à harmonia. Enquanto isso, com grande sentimentalismo e delicadeza, Ebert apresenta, na narrativa lírica, o tempo como um personagem onipresente que rege a diferença entre o protagonista e os demais indivíduos. Como um trabalhador, ele vive em função do tempo como guia do lucro e é assim que seus companheiros, de fato, o veem. Contudo, o personagem principal romantiza o tempo ao encará-lo como uma forma enérgica para o momento em que a Lua e as estrelas sobem ao céu. Não à toa que, a partir daí, Time se torna, verdadeiramente, uma canção amorosa. Porém, não em relação a outro alguém, mas em relação a uma experiência. Aqui, é onde o simples e o ordinário ganham olhares apaixonantes por meio de uma pessoa emotiva e de essência humanamente generosa.


Ela já começa macia e extasiante a um nível capaz de arrepiar o ouvinte com sua generosa delicadeza. Estruturalmente floral e serena, a canção não demora a comunicar uma energia romântica por meio de um folk aveludado e adoravelmente campestre. Assim que a bateria surge com um golpe duplo nos tons, causando um breve ressoar grave, o violão e a guitarra se fundem em uma sintonia nostálgica profunda, mas quem ganha destaque na introdução é, inquestionavelmente, o banjo de Tommy Joe Hill com sua delicadeza palpavelmente campestre. Deixando a melodia não apenas romântica, mas, sim, apaixonante, o instrumento torna o cenário charmoso, enquanto o primeiro verso encaminha para uma estrutura mais acústica. É aqui que, inclusive, o teclado de David Webb insere notas doces e gentis que tornam a base sonora inebriante e estruturalmente flutuante. Com essa verve, a faixa-título traz um Ebert novamente se enveredando por uma veia romântica em que sua interpretação não apenas sugere aconchego, conforto e proteção, mas, com o auxílio do escopo instrumental, incita certo grau de melancolia nostálgica que chega a ser tocante. Afinal, aqui ele saúda um amor fisicamente inexistente e, em meio ao frio incontrolável que vem junto à neve banhando um cenário rural, encontra no sono incentivado pelo calor do fogo a maneira de se ver livre e disposto para cavalgar na direção do reencontro da dona do seu coração.


É possível sentir a brisa fazer o cabelo valsar, enquanto reflete, entre seus brilhos naturais, a luz do Sol que se despede no horizonte. Com a areia proporcionando uma textura macia em uma temperatura agradavelmente fresca, o simples ato de caminhar na praia sustenta a ideia de tranquilidade e leveza. E é justamente isso o que o violão fornece ao ouvinte com o imediato despertar da canção. Ganhando corpo a partir da entrada do baixo de Glenn Fukunaga, a canção continua mantendo sua esplendorosa sutileza estética. Conforme a instrumentação vai aumentando seu escopo, bem como por meio da frágil levada da bateria de Kevin Hall e a maciez bluesada da guitarra, a faixa consegue chegar ao refrão com o máximo de frescor e fluidez. É também no refrão que All The Good Ones Are Taken recebe o charme e a delicadeza floral dos violinos de Gene Elders e Bowden. Porém, é justamente com o auxílio desses instrumentos, que a canção firma sua silhueta estética romântica lamentosa, enquanto se fixa, também, na seara da música folk. Com direito até do banjo perambular pelo ambiente junto às guitarras, a canção é um produto que apaixonante, mas que fala da garota ideal e da decepção de vê-la com outro.


O Sol é de um calor escaldante, mas o vento é forte e faz com que a poeira e a areia do deserto se juntem e formem uma densa camada enevoada que esconde a mais próxima forma. Até mesmo a pequena vila, no meio do velho oeste, em plena aridez, fica encoberta. Ainda assim, pessoas ousam a andar pelas ruas e, uma delas, é um cowboy forasteiro que, ao caminhar, evidenciando seu olhar confiante, astuto e alerta, faz com que o tilintar da espora de sua bota seja o único som audível além daquele do vento. Essa é a imagem imagética que o violão proporciona ao ouvinte logo no início imediato da canção. Logo em seguida, Ebert surge com uma voz ligeiramente mais aveludada e empostada, inserindo, cuidadosamente, o enredo da obra em meio ao seu minimalismo estético. Curiosamente, assim que o chimbal entra desenhando uma cadência rítmica amaciada, a guitarra faz nascer sensações de tensão no ambiente. Em meio à base flutuante e ácida do hammond é que a folk Hole In The Moon encontra seu ápice narrativo melódico. Amadurecendo, de fato, como um produto minimalista, a canção apresenta um novo personagem romântico, mas com a mesma dor do coração. A perda, a saudade. O fato de seu amor incondicional o fazer ter forças para viver mil vidas ao lado da pessoa amada não foi o suficiente para mantê-la ao seu lado. É esse o turning point narrativo. Quando os sonhos, as motivações e os propósitos perdem o brilho e o protagonista vira apenas um andarilho de mente vazia e coração enrijecido pelo sofrimento.


Ela é uma canção que nasce pronta. De harmonia madura, base melódica consistente e um adorável contágio sensual, a introdução tem na dupla de teclados de Webb e Robyn Robins a estrela do momento. Com sua doçura ácida, ela já cria uma cama harmoniosa firme a ponto de dar liberdade para que o restante da instrumentação se desenvolva em paralelo. Evoluindo para um folk de cadência 4x4, a canção tem gosto de sertão, mas não a ponto de sentir o calor do deserto. Afinal, American Song tem uma estrutura macia que acompanha o personagem lírico em uma espécie de aula de como fazer sucesso com a música americana e insistir no sonho de ser um expoente da quarta arte. É assim que American Song que, por entre fusões momentâneas de boogie woogie, se torna uma homenagem, uma ode ao gênero americana.


Ela é tão   quanto o calor do fogo estourando na lareira em uma noite fria. Tão acolhedora quanto um abraço materno quando o medo supera a razão. Tão protetora quanto a presença de um pai quando o perigo se encontra na espreita. É interessante como, apenas com o violão, uma série de paisagens emocionais é criada na mente do ouvinte. Ainda assim, o que salta aos ouvidos é a sua maciez estrutural e, no âmbito sensitivo, é uma confortável mistura de nostalgia e melancolia. Doce e fresca em sua essência, Home At Last é agraciada por uma harmonia tocante e delicada graças, não apenas, mas principalmente, pela contribuição do violino. Esse é o contexto do enredo de um personagem em busca de pertencimento e, talvez, também, de propósito. Tudo se encontra quando a pessoa amada cruza o caminho. Mais uma prova de como o amor, com sua força esplendorosamente sincera, supera os conflitos emocionais internos.


Seu início já vem densamente swingado graças ao amanhecer melódico puxado pela guitarra lap steel. O interessante é que, somente a partir da sonoridade construída em tal introdução, a canção conseguiu criar uma ligeira familiaridade estética com a estrutura de I’m On My Way, single do The Proclaimers. De bateria com frases macias e um violão capaz de fornecer frescor, a obra já se comunica como uma contagiante composição folk. E como tal, mesmo que sutil, o baixo está presente criando uma base sonora gentilmente encorpada que é perfeitamente audível. Narrada por uma voz ligeiramente nasal vinda de Ebert,  Harley Honey assume uma linearidade estrutural contagiante e, ao mesmo tempo, extasiante com sua maciez campestre. Trazendo ainda uma construção melódica capaz de traçar uma ligeira familiaridade com aquela elaborada pelo Lynyrd Skynyrd, a presente faixa acaba por flertar, enquanto destaca a sedução e a paixão presentes em seu enredo lírico, com outras temáticas musicais sulistas dos Estados Unidos, como o blues, o roots rock e o southern rock.


É como se estivesse em uma festa sertaneja. Tendo a Lua e o céu estrelado como norte, as fogueiras cuidadosamente espalhadas dão ao ambiente uma iluminação sintética agradável. Com direito a pessoas cavalgando dentro de um cercado, outras conversando entre as mesas e o aroma de comidas carinhosamente cozinhadas para o evento, a canção, definitivamente, amanhece como uma obra contagiante. O responsável desse clima quase fraternal é o violino, porém, a forma como a bateria se posiciona e a afinação da guitarra é que saltam aos ouvidos e deixam a energia calorosamente alegre. Estruturalmente simples, mas com notas florais, Too Blue To Be True é uma divertida história de uma menina que hipnotizou um garoto com seu beijo. A partir daí, o protagonista ficou rememorando o momento, enquanto maturava uma espécie de dependência daquele estado físico de êxtase. Ainda assim, como se dissesse a expressão popular muita areia para o seu caminhãozinho, ele tenta, a muito custo, se conscientizar e se conformar de que aquela garota era demais para si.


Como um veio de água escorrendo em direção ao manancial, o baixo se apresenta como primeiro elemento sonoro da canção. Com seu groove bojudo, ele abre espaço para que o restante dos instrumentos assumam suas posições e formem um belo horizonte de um Sol poente de verão, cujo aroma floral perfuma o ambiente a partir da contribuição delicada do hammond na base melódica. Fluindo para um primeiro verso macio dominado pela sutileza do violão, a canção continua destacando seu caráter aveludadamente cheiroso e aconchegante a partir da evolução simétrica entre ritmo e melodia. De cabíveis incursões blues, Diamonds apresenta um lirismo romântico e um personagem grato pelo amor que sente por outro alguém. É a sinceridade e a honestidade tangenciando linearmente a paixão, o êxtase e a felicidade de ter a pessoa amada ao lado de modo que o tempo já não existe da maneira cíclica e mecânica com que funciona no mundo real.


Sua macies delicadamente folk blues é estonteante a tal ponto que faz o ouvinte conseguir sentir o aroma da terra batida e a textura líquida das gotas do orvalho na ponta da folhagem do gramado umedecendo a superfície das mãos. Harmônica por conta do cuidadoso e floral sonar do hammond na base melódica, a canção assume silhuetas brevemente transcendentais até a chegada do primeiro verso. Nele, a estética acústica trazida pela bateria suscita um compasso sincopado e ligeiramente acelerado que dá uma fluidez interessante ao lirismo. Sem grandiosismo, o refrão fornece uma ambiência embriagantemente macia que, em compensação, faz surgir agradáveis sensos de frescor que abraçam todo o escopo rítmico-melódico. Com essa estruturação, Big Silver Bird é uma metáfora ao avião que, no contexto narrativo, é uma espécie de coadjuvante inanimado responsável por levar o protagonista de volta para casa. É saudosismo, é pertencimento. É a assumição de que o lar é onde o equilíbrio emocional e o bem-estar atingem seu ápice sensorial de maneira a funcionar quase como um complemento linear de Home At Last.


Romance. Essa palavra, que por si só já induz o ouvinte a reviver e desejar construir memórias afetivas com aquela pessoa por quem se nutre um mínimo de desejo e admiração, pode ser usada em diversos contextos. Pode ser trágica, pode ser reconfortante. Pode ser acolhedora, mas também traumática. Ou, ainda, pode significar a denominação de um estado de espírito imerso em uma profunda sinceridade emocional que não cabe apenas no dicionário.


Esse é o caso de If Dreams Were Horses, um álbum que, acima de tudo, explora as nuances mais puras e honestas da significância do que é romance, do que é amor. E para isso, é necessária uma conjuntura de enredos endereçados para serem narrados por alguém de alma igualmente romântica. Esse alguém é Steven Lee Ebert


Com esse encontro simétrico, tudo o que se tem dentro do álbum é amor, é pureza, é romance. É a beleza do ócio, a gratidão pela simplicidade e a veneração da reciprocidade emocional. É, também, uma espécie de dissecação de um coração com grandes sintomas de saudosismo.


Sempre explorando texturas florais, macias, swingadas e sertanejas a ponto de conseguir formular harmonias tocantes em seus minimalismos estruturais, Ebert fez de If Dreams Were Horses uma espécie de divisor quando o assunto é música folk, a cenografia sertaneja e seu senso de purismo. 


E isso acontece não apenas por fundir blues e repentinos traços de roots rock e boogie woogie em suas melodias, mas pelo fato de usar o gênero musical como uma extensão de seu sentimentalismo e como uma exortação da figura de uma mulher enigmática que roubou seu coração e é tema, mesmo que indiretamente, de grande parte das canções que formam a track list do álbum.


Por isso que Ebert teve se aliar com Kopp também para a função da mixagem. Nada melhor do que contar com alguém que também participou do processo criativo para assumir funções mais técnicas. Afinal, essa pessoa tende a estar mais em sintonia com as emoções exploradas e, por isso, tem mais facilidade em encontrar o som que melhor representa tais sentimentos.


E foi justamente isso o que Kopp fez. Além de deixar a sonoridade bem equalizada a ponto de o ouvinte poder ouvir todos os instrumentos tanto individualmente quanto em um contexto coletivo, ele destacou o charme da melodia folk criada pelo time de músicos recrutados por Ebert. Ele fez com que cada item sonoro fosse não apenas uma extensão da mente do cantor, mas a sua alma e o seu senso de gratidão.


Lançado em 14 de junho de 2024 via Lucky Dog Records, If Dreams Were Horses não é apenas romantismo. É gratidão. É a dissecação dos aspectos emocionais mais íntimos de um indivíduo de coração puro e regido pela máxima bondade. Um alguém que ama sem limites. Esse alguém é Steven Lee Ebert.

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Sobre o crítico musical

Diego Pinheiro

Quase que despretensiosamente, começou a escrever críticas sobre músicas. 


Apaixonado e estudioso do Rock, transita pelos diversos gêneros musicais com muita versatilidade.


Requisitado por grandes gravadoras como Warner Music, Som Livre e Sony Music, Diego Pinheiro também iniciou carreira internacional escrevendo sobre bandas estrangeiras.