Julian Bachlow - Room Rock, Vol. 3

NOTA DO CRÍTICO
Nota do Público 5 (1 Votos)

Sua discografia é vasta e remonta o ano de 2009, momento em que anunciou Paradigm, seu material de estreia. Mas foi em 2018 que o canadense Julian Bachlow deu início à trilogia Room Rock, que chega agora em seu terceiro capítulo. Room Rock, Vol. 3 é o sexto álbum de estúdio do músico.


Uma calmaria reconfortante como o calor amornado do Sol em um entardecer de inverno banha o ouvinte durante os primeiros e solitários acordes do violão. Acompanhado de uma voz em tom e interpretação igualmente singela vinda de Julian Bachlow, o ritmo vai amadurecendo como algo sutil, mesmo com a entrada da bateria. Criando uma espécie de quebra rítmica duradoura, a bateria é também o instrumento que desperta um movimento melódico levemente swingado. É assim que City Sleeps Tonight, uma música que dialoga sobre separação, arrependimentos e uma vontade genuína de recomeço, se apresenta ao ouvinte. Minimalista em estrutura rítmica, a canção tem forte apelo juvenil, o que a torna redondamente perfeita como trilha sonora para filmes de romance adolescente.


De maneira tão serena quanto a de City Sleeps Tonight, a presente faixa tem seu despertar inclusive regido por coros formados por sobreposições vocais. Wondering Mind é uma canção que, construída sobre uma base de cordas adocicadas e singelas, traz consigo um recorte em que apresenta um personagem perdido em seu intenso estado de preocupação para com o outro. Entre agudezas de extrema sutileza e tilintares do pandeiro que são pincelados no decorrer da melodia, Wondering Mind também pode significar o desejo por companhia e a vontade de ver a pessoa amada em segurança chegando em casa.


Uma atmosfera mais vivaz e colorida se constrói rapidamente na introdução do novo horizonte. Embebido em uma roupagem aveludada que mescla indie rock com soft rock, Bachlow oferece contágio e swing sem romper com a sutileza instrumental, algo que já mostra ser a marca de suas composições. Porém, diferente das ambiências introspectivas oferecidas pelas canções anteriores, Distraction vem com ânimo e swing enquanto apresenta um enredo leve e divertido sobre as distrações do amor, ou melhor dizendo, o poder que o amor tem de tirar as pessoas do estado racional. Tendo inclusive frases líricas cantadas sob a estética R&B, Distraction traz consigo uma base melódica que muito lembra aquela de You Get What You Give, single do New Radicals.


Continuando com o ânimo contagiante, mas aqui em um degrau abaixo da excitação de Distraction, a melodia já captura o ouvinte com sua maciez contagiante e compasso regido no chacoalhar do pandeiro. Apesar de vir acompanhada de versos em que Bachlow aparenta um leve desafinar, Wait For Me segue a temática romântica teen de City Sleeps Tonight enquanto dialoga sobre o acaso de duas pessoas se esbarrarem pelo caminho. Mais do que isso, a música é como um alívio expresso pelo personagem lírico de que, finalmente, ele sabe que existe alguém o esperando.


Entre grooves que soam como tropeços, o soprar adocicado e floral da gaita oferece um ambiente romântico que beira o folk francês. Com a introdução do sonar agudo e levemente ácido e estridente do teclado, Seems So Real ganha até mesmo singelos contornos de new wave enquanto segue a temática do amor ao trazer um enredo em que o personagem percebe que tudo fica mais verdadeiro e real onde a pessoa por quem se apaixonou está.


Crescente como a luz do Sol banhando o gramado no amanhecer. Animada como um dia que promete grandes e bons acontecimentos. É assim, representando um grande e largo sorriso no rosto que Someone Magical tem seu despertar. Entre uma bateria abafada em levada 4x4 e uma guitarra distorcida que cria um riff com sutis semelhanças àquele criado por Paul Stanley em Strutter, single do Kiss, a faixa estimula o ouvinte a encontrar uma pessoa capaz de mexer profundamente com as emoções, alguém que, nas palavras do próprio vocalista, seja mágico.


Misturando new wave com pop, a canção funciona, sonoramente, como a chegada de um novo alvorecer. Travelling Hearts é uma canção leve, contagiante e com corpo graças à presença do baixo que instiga um senso de liberdade desmedido. Uma liberdade de ir e vir, mas sem esquecer da sensibilidade e da essência de cada um. Novamente, embebida em simplicidade, a melodia consegue reforçar a energia romântica trazida pelo enredo lírico.


Crescente, o amanhecer puxado pelas notas adocicadas e entorpecidas do teclado consegue, sozinho, recriar toda a melodia desenhada no refrão de Break Away, single do Gotthard. Amadurecendo como trilha sonora de danceterias e repleta de sobreposições vocais representando o coro de backing vocals, Dance All Night é mais uma música cuja temática está no amor, mas aqui há menos romance e, sim, um maior apelo para a dança, uma vez que o pop se funde com elementos eletrônicos que criam um perfeito convite para tal. Ainda assim, Dance All Night não deixa de ser uma faixa que, entre romances leves, demonstra o encontro de duas pessoas que procuravam por amor.


O novo despertar segue, mas em menor grau, com a temática dançante de Dance All Night. Ainda assim, a melodia se mostra cativante em seus minimalismos sonoros que, passada a introdução, fluem para um indie rock amaciado com mistura de new wave enquanto dialoga sobre solidão, desapontamento e um desejo de reviver boas experiências. Mantendo o ar romântico, Only For A Minute traz um personagem que sonha com o retorno da pessoa por quem se apaixonou, um retorno que basta durar um segundo para poder reexperienciar tudo o que a presença do outro pode oferecer. É possível, nesse aspecto, que o ouvinte sinta pitadas nostálgicas com a conjuntura lírico-melódica de Only For A Minute.


Já com um uníssono maduro entre voz e violão, I Was A Lost Kid é a perfeita demonstração do conceito de que menos é mais. Apenas com os dois elementos, Bachlow conseguiu construir uma atmosfera penetrante pelo enredo e contagiante pela maciez com que as linhas de violão foram desenvolvidas. Com pitadas folks, I Was A Lost Kid emana ares bucólicos em meio à busca do personagem pela pessoa pela qual a paixão aconteceu, a pessoa que traria de volta o conforto e a segurança de uma criança perdida.


Melancólica e até mesmo nauseante, a introdução da nova faixa segue o conceito do máximo minimalismo estruturado em I Was A Lost Kid, mas é rompido ao passo que novos elementos vão sendo introduzidos na roupagem melódica. Da condução do chacoalhar do chocalho à acidez do teclado, It’ll Happen Anyway tem o baixo de interpretação mais grave de todo Room Rock, Vol. 3, mas isso não faz da canção um produto dramático, apenas afasta o romantismo. Não por menos, a canção parece tratar, nas entrelinhas, sobre o término de relacionamento.


Entre instrumentações ocas da bateria, a canção vai crescendo de maneira paulatina. Aqui, curiosamente, o vocal de Bachlow consegue criar parentescos estilísticos com o de Robert Smith e o de Caleb Followill. Fora essas impressões, Just Take It Easy apresenta roupagem e lirismo inovadores ao álbum. Sem romance, amor ou certo drama, a faixa é como um mantra alegre que espanta a ideia de solidão e peso do cotidiano. No mais, a melodia consegue promover um misto de semelhanças entre a funkeada Fuck You, single do Cee Lo Green, e a alternativa Boys Don’t Cry, single do The Cure.


Um disco romântico, amoroso, delicado e que representa aquele primeiro relacionamento, puro e juvenil. Esse é Room Rock, Vol. 3, um disco suave, floral e contagiante em seus minimalismos melódicos que mostram muito da sensibilidade e delicadeza de Julian Bachlow.


Tratando quase que totalmente sobre assuntos segmentados do amor, da paixão e do relacionamento, o álbum consegue apresentar enredos que, por mais que pareçam semelhantes em temas líricos, trazem divergências rítmicas que a tornam singulares. Afinal, além de serem vendidas pela delicadeza de composição, elas vêm acompanhadas de roupagens mistas.


Apesar de Julian Bachlow ser um artista indie, Room Rock, Vol. 3 vai muito além do que simplesmente indie. Entre seus 12 capítulos, o álbum caminha, de fato, pelo terreno indie, mas se arrisca a se aventurar pelo R&B, pelo pop, pelo soft rock, pela new wave, pelo folk e até mesmo por leves misturas de rock alternativo e funk.


Mixado e produzido também por Bachlow, o álbum tem sim seus escorregões de desafinação e uma aparente linearidade melódica, coisas que não pesam e que são impressões meramente pontuais, não afetando no produto final. Afinal, o álbum é limpo e conceitual no diá-logo do amor.


Fechando o escopo técnico, vem a arte de capa. Assinada também por Bachlow, ela traz a mesma estética ilustrativa de seu antecessor. Oferecendo certo ar de pureza, ingenuidade e imaturidade, ela representa exatamente o que o amor oferece: uma espécie de retrocesso na maturidade e um encanto hipnótico fortificado pela reciprocidade do sentimento.


Lançado em 22 de maio de 2021 de maneira independente, Room Rock, Vol. 3 é como a trilha sonora de filmes de romance teens. Puro, simples, ingênuo e cativante, o álbum é a sonorização mais fiel a tudo o que o amor oferece ao outro. Desde companheirismo até proteção, o álbum é como a sonorização da nostalgia do primeiro amor.

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Sobre o crítico musical

Diego Pinheiro

Quase que despretensiosamente, começou a escrever críticas sobre músicas. 


Apaixonado e estudioso do Rock, transita pelos diversos gêneros musicais com muita versatilidade.


Requisitado por grandes gravadoras como Warner Music, Som Livre e Sony Music, Diego Pinheiro também iniciou carreira internacional escrevendo sobre bandas estrangeiras.