ABSOLUTE - Wonderland

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Depois de lançar diversos singles, chegou a hora do disco cheio. A colab ABSOLUTE agora apresenta uma rave completa e cujo nome sugestiona um lugar no paraíso. Wonderland, em suas 18 faixas, parece querer entregar um remédio para o ócio da pandemia.


We need to create a humanity where everyone and everything is allow to exist, because it’s all we can do”. É com essa frase, quase de ordem, que Ravyn Wngz introduz o ouvinte para uma sonoridade que transita entre a divisa do synth-pop e do eletrônico. Traços do chiptune ainda podem ser percebidos nesse ambiente que mistura energia de liberdade e plenitude com beleza. Esse é o modo do ABSOLUTE dizer Welcome to Wonderland.


É como se um estímulo externo chamasse para a pista de dança. Em meio à fumaça, as luzes frias formam visões quase psicodélicas por aparecerem por todos os lados. Além do beat, notas de teclado dominam a cena com tons lineares e inebriantes. Subgraves também podem ser percebidos, mas não tal como acontece em gêneros como rap. Aqui ele é mais ameno, servindo apenas para dar mais peso à Can U Still Feel It?.


Mais agitada e com mais elementos, My Love – Mixtape Edit possui uma instrumentação mais cadenciada. Feita por Anthony McGinley, ela remete ao ambiente de academia, em que seu ritmo sutilmente rápido aumenta a frequência cardíaca em exercícios de aquecimento corporal.


O beat criado por Gilbert Vierich novamente remete às academias de ginástica. Seu ritmo é lento e melancólico, mesmo dispondo de subgraves e sons agudos perambulando em destaque pelo ambiente. De repente, uma voz imersa em falsetes entra em Convalesce. É Jason Levi Batchelor imprimindo doses extras de melancolia que incrustam na melodia mesmo quando esta inicia uma crescente e toma até mesmo ares épicos.


Uma mulher conversando com um homem sobre seu amigo, que aparentemente é mencionado como alguém que tem uma boa audiência. Essa é Studio 54 – Interlude, faixa que serve de passagem para Sage Comme Une Image (Good as Gold), uma música alegre, mas de ritmo repetitivo e linear que contém sample de Sage Comme Une Image, música de autoria de Lio. Uma cortesia da Sony Music.


Um homem declarando seu amor por uma mulher e a elogiando. Eis Walk, Walk, Live – Interlude, mais uma ponte, um intervalo para o ouvinte descansar. A música é uma passagem para Raw Silk – Do It To The Music, uma faixa remix groovada de The Feeling’ ’98, single de Pure Sugar.


Subgraves repetitivos e acelerados dominam a introdução. Assim como em Welcome to Wonderland, influências ao chiptune também podem ser percebidas em Rave 4 Love, a primeira de Wonderland a ser inteiramente cantada. E quem é o responsável por entregar o ingrediente vocal é Hard Ton e seu falsete afinado e agudo.


Um homem parece ter aparecido para verificar a normalidade e a legalidade do que está sendo feito em um determinado local. Chief Inspector – Interlude é mais uma faixa transitória. No caso, ela leva o ouvinte para Peace In The East, uma música de beat macio, mas contagiante. Se não fosse uma crescente sonora, a canção teria uma estrutura completamente linear.


Como o próprio nome sugere, String Theory (Mixtape Edit) é uma completa teoria de cordas. Complexa e dramática, a melodia da faixa é recheada de um sobrevoar de notas graves do violino. O beat construído para a música é simples, servindo apenas para dar cadência e compasso à canção e destaque absoluto às cordas.


Um homem proclama palavras para uma multidão alvoroçada. Eis Love as One (Interlude), rito de passagem para Piano Theory, faixa irmã de String Theory (Mixtape Edit). Na presente faixa, as notas do piano, apesar de repetitivas, se mostram agitadas e em tons alegres, o que propicia a criação de um ambiente enérgico e contente. 


Dance Boi (Interlude) é mais uma ponte. Aqui o diálogo é curto, uma conversa que passa rápida e quase despercebida. Ela leva o ouvinte para U4IA, uma faixa agitada, de grooves rápidos, subgraves acentuados e participação dos falsetes de Bklava no conteúdo lírico monossilábico. Definitivamente, de todo Wonderland essa é a faixa para fazer o ouvinte fritar.


Com sotaque britânico acentuado, as pessoas presentes no diálogo declaram, em Dancing Forever (Interlude), ter vontade de continuar dançando para sempre. Dessa conversa vem Fauna, uma música de sonoridade arrepiante no que se refere à tensão e ao suspense proporcionados por uma base melódica até então inexplorada. 


Como suposto, Wonderland é um disco para fazer as pessoas esquecerem os problemas, irem para a pista de dança e dançar para extravasar toda a tensão e nervosismo acumulados durante esse período de reclusão e incertezas proporcionadas pela pandemia.


Com as melodias do disco, o ouvinte pode ficar melancólico, agitado, animado e até mesmo inebriado. Um misto de sensações que também pode ser sentido em qualquer balada. Mas o interessante é que o álbum possui músicas de roupagem típica de ser ouvida em academia.


De outro lado, Wonderland é um trabalho que transita livremente entre três estilos principais: o eletrônico, em destaque absoluto, o synth-pop e o chiptune em igual distribuição, servindo apenas como incremento.


Lançado em 07 de maio de 2021 via BMG, Wonderland é, sem mais nem menos, um disco que serve como morfina para um tempo de crise. Um grande feito de ABSOLUTE.

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Sobre o crítico musical

Diego Pinheiro

Quase que despretensiosamente, começou a escrever críticas sobre músicas. 


Apaixonado e estudioso do Rock, transita pelos diversos gêneros musicais com muita versatilidade.


Requisitado por grandes gravadoras como Warner Music, Som Livre e Sony Music, Diego Pinheiro também iniciou carreira internacional escrevendo sobre bandas estrangeiras.