Plutão Já Foi Planeta - Plutão Já Foi Planeta

NOTA DO CRÍTICO
Nota do Público 3 (1 Votos)

Lá se foram seis anos desde o anúncio de seu segundo disco de estúdio. Daí para a frente, A Última Palavra Feche A Porta ficou como o material mais recente do trio potiguar até a chegada de 2020. Naquele ano, começava a ser gravado um novo material, que agora, três anos depois, foi oficialmente lançado. Autointitulado, o álbum consiste no terceiro disco de estúdio do Plutão Já Foi Planeta.


Fresco, macio, contagiante e fluído como uma brisa de vento fazendo valsar as folhas das palmeiras. Com notas de nostalgia, a melodia que se tem na introdução abraça o ouvinte com sua ingenua e tímida, mas educada atitude de, aos poucos, mostrar sua verdadeira essência. De compasso linear que já insere uma conotação sutilmente acelerada, a canção traz na sincronia entre as guitarras de Sepulha Campos e Gustavo Arruda a perfeita união entre aspereza e torpor como forma de ponderar duas importantes texturas ao enredo. Entre o indie rock, o rock alternativo nacional de veia do início dos anos 2000 e um embrionário pop punk, a faixa apresenta uma Cyz Mendes com um timbre mais maduro em seu caráter gélido e melancólico, de maneira a refrescar na memória do ouvinte a voz de Hayley Williams, que faz de Uma Canção Só Sua uma obra cujo ápice melódico oferece influências nítidas, mas talvez despropositadas, do som feito pelo NX Zero. Como uma canção que expõe possibilidades e a ação do destino associadas à vontade de ter um alguém com quem compartilhar as coisas simples do dia-a-dia, Uma Canção Só Sua pode até soar como algo romântico, mas em meio às suas questões expostas com uma doçura quase saudosista, ela traz consigo, além de um convite ao autoconhecimento, a eternidade de uns armazenada na memória de outros.


Enquanto o sonar do hammond, ao fundo, desfila notas ácidas e psicodélicas, a base melódica que é soprada pelo vento oferece uma calorosa e curiosamente reconfortante mistura entre melancolia e nostalgia. Ainda proporcionando, com seu timbre mais aberto, semelhanças estéticas aos vocais de Fernanda Takai e Pitty, Cyz transforma Em Todo Canto em uma interessante fusão entre uma MPB ao estilo Arnaldo Antunes e o rock alternativo que dialoga sobre a grandeza, a profundidade e a intensidade do amor. Romanceada, Em Todo Canto é a paixão, aquele sentimento que aboba todos e a todo o instante, que traz risadas em hora errada, sorrisos incontroláveis e olhares distantes apenas pensando naquela figura por quem o coração bate mais forte.


As guitarras elétricas dão pressões pontuais nas primeiras frases da introdução, inserindo um tempero que amplia os sabores de uma receita ainda em construção. Fluindo para um ambiente leve e de uma sensualidade ausente de libido, mas repleta de generoso poder de contágio, Tremeu Minha Solidão tem na bateria de Biel Moreira o elemento que arregimenta a densidade melódica, bem como dá precisão ao ritmo. De aroma e ambiências caiçaras, a faixa é mais uma do catálogo de Plutão Já Foi Planeta a ter um enredo amoroso. Apaixonante e de enredo positivamente juvenil, Tremeu Minha Solidão possui, mesmo que timidamente, um flerte de influências de Avril Lavigne em seu estilo de composição, com menção especial à faixa Smile. Aqui, o trio traz na paixão e no amor ingênuo o artifício que aquece o coração e afasta qualquer tipo de sofrimento ou ideias depressivas. Basta um olhar, o cruzamento dos caminhos em um caminhar despreocupado na rua, para fazer o dia melhorar. E é disso que se trata Tremeu Minha Solidão.


A guitarra nasce fresca e macia. De aroma convidativamente floral, ela logo é acompanhada por um baixo de linhas graves bastante presentes que inserem uma estridência capaz de salientar os sabores da melodia ainda em desenvolvimento. Evoluindo para uma levada macia em sua cadência 4x4, a canção vai se mostrando delicada a partir da inserção da agudez das notas do sintetizador, enquanto comove o ouvinte com seu caráter energizante e positivo de maneira a flertar com o estilo lírico-melódico das canções do Jota Quest. De refrão contagiante, Contramão é, assim como Tremeu Minha Solidão, uma faixa em que o Plutão Já Foi Planeta desenvolve ainda mais sua sensibilidade para com o coração ao manter o espírito juvenil, mas trazendo, nele, uma dose extra de liberdade. É a paixão junto ao incondicional infinito do ato de sonhar. Chiclete, melódica, enérgica e contagiante. Esses são artifícios que fazem com que Contramão, tal como a canção anterior, uma faixa com grande apelo popular.



A guitarra elétrica surge solitária como o Sol mostrando, a passos lentos, sua luz superando a barreira das montanhas no horizonte. Depois que a claridade atinge um ponto que as águas do mar refletem o azul límpido do céu, uma voz agridoce surge introduzindo as notas líricas da canção. É Campos entregando dulçor enquanto, entre rompantes de um baixo bojudo encorpando a melodia e as notas ácidas do sonar do hammond e do mellotron trazendo a harmonia, Se Eu Pudesse Te Dizer se torna uma canção aromática, solar e contagiante. Curiosamente, porém, diferente de composições como Contramão, Tremeu Minha Solidão e Em Todo Canto, a presente faixa traz um enredo saudoso em que o protagonista se vê na ânsia de reatar o relacionamento, enquanto embriagado pelas memórias afetivas de eventos acalorados. Não à topa que Se Eu Pudesse Te Dizer, além da saudade que extravasa de todos os poros, é a vontade de ter o controle do tempo para que os minutos não se transformem em horas e os dias em noites. É a necessidade do infinito para apenas viver novamente aquilo que o coração está carente.


De veia melancólica em seu rock alternativo, o Plutão Já Foi Planeta enfim foge das cores, da alegria e de uma vivacidade acaloradamente reconfortante e apaixonante para trazer um enredo mais delicado e intimista. Luz Do Dia, além de humanizar o personagem por mostrar que não estamos bem e felizes todos os dias, traz na perseverança e na própria esperança a verdade de que o novo amanhecer trará belezas capazes de reanimar o astral interior. Ainda que possa haver noções de relacionamento intrincadas em sua história, Luz Do Dia tem a mensagem de afastar o sofrimento a partir do Sol da manhã que desperta a vida e incentiva a quebra da monotonia.


Ela é macia e tocante. Doce e fresca a partir dos delicados dedilhares do violão em união ao veludo tremulante do sonar do teclado, a canção fornece uma energia bucólica, mas também intimista capaz de convidar o ouvinte a olhar para dentro de si. Entre rompantes harmônicos proporcionados pela entrada da guitarra e a companhia de backing vocals sustentando o vocal principal de Arruda, Um Pouco Mais De Mim traz frases melódicas que a aproxima à esfera melódica de Dias Melhores, single do Jota Quest. Ainda podendo ser percebida influências de Melim em sua estética, Um Pouco Mais de Mim é, melodicamente, a música mais bem trabalhada de Plutão Já Foi Planeta, pois possui teclas, cordas e uma combinação sonora que chega a ser tocante. Na presente faixa, o trio então dialoga sobre a busca pelo autoconhecimento como forma de atingir a felicidade plena. E no lugar onde a identidade sem filtro seja aceita, será onde raízes serão criadas. Casando com o enredo de Uma Canção Só Sua, Um Pouco Mais De Mim é a busca por aceitação, por liberdade. É a primeira faixa do álbum em que o coração não bate pelo outro e sim por si mesmo.


Entre a acidez do teclado e o corpo do baixo, é possível identificar o reggae como a base estética da canção, com seu swing típico e ensolarado. Abraçada inclusive pelo soft rock, a melodia da canção é o Sol, é o mar, é o vento. É o horizonte límpido. De refrão cativante, Deixa, ainda mais que Luz Do Dia, traz uma mensagem de persistência. Vida, energia e positividade, são fatores que exalam de sua conjuntura lírico-melódica que, além de contagiante, tem novamente no relacionamento, na paixão e na reciprocidade do amor, a base de seu enredo. E tanto quanto o viés construtivista também presente em Luz Do Dia, Deixa é também o enfrentamento do medo e da insegurança em prol da continuidade da vida.


Ele é, definitivamente, o material em que o Plutão Já Foi Planeta atingiu o ápice de sua maturidade. Não à toa que seu título é o nome da banda. Afinal, sob esse nome, o álbum extravasa, arregimenta e concretiza a essência de um grupo que saiu de um reality show e agora conquistou patamares de composição equiparantes ao de grandes nomes da cena popular brasileira.


Com Plutão Já Foi Planeta, o trio desfila frescor, mas também não teme em misturar com a brisa do mar e o calor do Sol conteúdos reflexivos e intimistas que convidam o ouvinte a pensar. Ainda que tenha se apoiado em questões de apelo popular, como amor, paixão e romance, a banda soube bem trabalhar esses artifícios em prol do pensar sobre si mesmo e do estímulo ao autoconhecimento. 


É verdade, portanto, que o disco é repleto de canções macias e encantadoramente contagiantes em seus enredos juvenis de amor. E são justamente neles que o trio explora sua sensibilidade estética e experimenta, sem qualquer tipo de filtro, inserir suas influências melódicas na construção de um som próprio e único.


Nesse processo, o grupo se aliou a Rodrigo Cunha no exercício da mixagem. Também aqui mostrando maturidade em um produto final de boa qualidade sonora, o profissional conseguiu salientar cada vertente melódica que moldou este que é considerado o disco mais rock da carreira do Plutão Já Foi Planeta. Não à toa que dele exalam o rock alternativo, o pop punk e o indie rock junto a gêneros secundários, mas igualmente importantes, como a MPB, o reggae e o soft rock. Tudo, inclusive, com toques de psicodelia.


Fechando o escopo técnico, vem a arte de capa. Assinada por Shiron The Iron, ela exala delicadeza e noções de uma psicodelia retro. Porém, o que mais salta aos olhos é a escuridão estrelada do universo como forma de dizer que, além de existirem várias paixões, vários novos amanheceres abraçarão a vida das pessoas com novas chances de recomeço para brindar a vida ante o sofrimento.


Lançado em 18 de agosto de 2023 via Algohits, Plutão Já Foi Planeta é o ápice do amadurecimento de um trio que, expandindo, exalando e contagiando com sua doçura delicada, sabe dosar melancolia e vivacidade por entre enredos saudosistas e ensolarados. Um álbum que fala pelo coração, mas cuja mensagem é de e para incentivar a conexão do indivíduo consigo mesmo.

Compartilhe:

Cadastre-se e recebe as novidades!

* campo obrigatório
Seja o primeiro a comentar
Sobre o crítico musical

Diego Pinheiro

Quase que despretensiosamente, começou a escrever críticas sobre músicas. 


Apaixonado e estudioso do Rock, transita pelos diversos gêneros musicais com muita versatilidade.


Requisitado por grandes gravadoras como Warner Music, Som Livre e Sony Music, Diego Pinheiro também iniciou carreira internacional escrevendo sobre bandas estrangeiras.