Greta Van Fleet - Lollapalooza 2019

NOTA DO CRÍTICO
Nota do Público 5 (1 Votos)

A escuridão do Autódromo de Interlagos abraçava a multidão que se aglomerava no gramado aguardando a chegada dos estrangeiros de Frankenmuth. O relógio tiquetaqueava. Os ponteiros marcavam 18h20, ponto exato em que os irmãos Kiszka e Danny Wagner subiram ao palco Budweiser. A estreia do Greta Van Fleet em solo paulistano estava começando.

Um estrondo é ouvido. Danny Wagner executava grooves intensos e pesados em sua bateria, cuja parte da frente foi decorada com uma bandeira do Brasil envolta em flores brancas. Instante de silêncio. Em seguida, os irmãos Kiszka entram no palco com Josh reverenciando a plateia com o gesto Roberto Carlos, jogando flores no público. Formalidades feitas, o quarteto se solta e puxa a intro de The Cold Wind, abrindo oficialmente a apresentação do Greta Van Fleet no Lollapalooza Brasil 2019.

A plateia logo mergulhou no swing da música. Josh, com sua roupa monárquica-retrô, pegava o microfone para si e, sem grandes esforços, lançava seus falsetes afinados. Enquanto isso, Jake concretizava seus riffs fazendo seu já típico movimento corporal. De longe já uma marca registrada.

É verdade, porém, que a plateia como um todo ansiava ver, entre outras coisas, se o vocalista conseguiria realizar seus gritos sem cair na malha fina. E foi já com The Cold Wind e seus "mamamamas" que Josh Kiszka deu seu primeiro recado àquele que, até então, foi o maior público do dia 07/04/19 no Lollapalooza.

Eis que o segundo single de From The Fires surge pelas mãos de Jake KiszkaSafari Song não arrancou apenas o gogó de quem ali se fazia presente, mas fez vários massagistas felizes devido ao intenso headbanging praticamente coreografado pela massa que ocupava os arredores da Bud Records.

Segurando firme no microfone e com a boca próxima ao instrumento, Josh Kiszka não fez diferente. Cantou fazendo caretas e com a mandíbula quase serrada, como de costume. E mais: Novamente seus gritos não saíram dos trilhos. Pelo contrário, saíram impecáveis. O mesmo aconteceu com Danny Wagner, que apresentou com maestria sua precisão nas baquetas.

Em seguida veio mais uma carimbada. Black Smoke Rising prolongou o barulho e a exaltação estimulados pela música anterior, levando a plateia a um euforismo extasiante. Outro ponto alto da presente performance foi a exalação da pureza e originalidade rítmica do quarteto de Michigan, que sem esforço e brilhantismo ímpar dominaram o Autódromo de Interlagos.

A balada country Flower Power deu continuidade à apresentação. Com uma singela rotatividade, Sam Kiszka deixou seu baixo de lado e se mostrou à frente do teclado. Lançando sorrisos tímidos e sinceros, Josh cantou caminhando por todo palco e fez com que os "mamamas" líricos fossem cantados em coro pela multidão, que em meio a uma escuridão, possuía clarões pontuais criados por isqueiros acesos nas mãos rítmicas dos fãs.

Prosseguindo com a sessão tranquila da apresentação surge Watch Me, o primeiro e único cover executado pelo Greta Van Fleet em seu repertório. De propriedade do compositor inglês Claudius Afolabi "Labi" Siffre, ou apenas Labi Siffre, a canção não causou comoção. Conquistou uma receptividade morna, funcionando como um singelo descanso aos vários gogós ali presentes.

Com uma intro de riff nada singelo, Black Flag Exposition trouxe um instrumental embriagante ao ter Sam Kiszka de volta ao baixo. Com picos de fervor e um refrão agressivo, a plateia foi novamente inserida numa agitação inquestionável. Uma agitação que dominou até mesmo o frontman Josh Kiszka, que golpeava insistentemente o pandeiro sobre suas pernas com um frenesi ímpar. Isso quando não estendia seus braços e abria suas mãos como se reverenciasse o momento.

Como um tranquilizante falso, a seguinte execução foi Watching Over. A canção na plateia uma movimentação à la Axl Rose com sua levada blues singular. É verdade, porém, que quem ali esteve também presenciou momentos de evolução eufórica causada pelas pausas da música e as caretas de Josh ao entoar os agudos crescentes da composição.

Entre os solos e instrumentais de extensão de Watching Over foi trazida, como um medley, a agressivo-melódica Edge Of Darkness. Foi nessa ocasião que, como um contágio, o headbanging dominou por completo a plateia que se amontoava cada vez mais para perto do palco. Josh, como de costume, balançava de forma ritmada sua perna direita enquanto, a cada frase cantada, olhava bruscamente para o lado, fazendo com que as penas presas em seu traje balançassem rapidamente.

Foi também na presente canção que houve momentos épicos. Durante os instrumentais, Josh se posicionava no limite do palco levantando seus braços ao alto com as mãos rigidamente entreabertas. Outro ponto foi o longo, contagiante e embriagante solo de Jake Kiszka. E o último, mas não menos importante, o instrumental que regia a base da performance do guitarrista. A pressão, precisão e compasso ali apresentadas causaram arrepios duradouros até para quem estava transitando entre os palcos do Lollapalooza.

Para fechar, a faixa selecionada pelo grupo foi Highway Tune. Não só o público cantou a música inteira em união aos vocais de Josh, mas criou, na região próxima à grade, uma espécie de corrente pula-pula que contagiou os outros cantos da plateia. Uma animação e participação indescritíveis que terminaram às 19h20, assim como previa a organização do Lollapalooza.

Volte sempre, Greta Van Fleet. As portas dos palcos paulistanos estão, agora, abertas a você!


Crítica postada originalmente no Allmanaque

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Sobre o crítico musical

Diego Pinheiro

Quase que despretensiosamente, começou a escrever críticas sobre músicas. 


Apaixonado e estudioso do Rock, transita pelos diversos gêneros musicais com muita versatilidade.


Requisitado por grandes gravadoras como Warner Music, Som Livre e Sony Music, Diego Pinheiro também iniciou carreira internacional escrevendo sobre bandas estrangeiras.