Steel Panther - São Paulo 2023

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Às 18h, a cidade de São Paulo sentiu uma queda brusca de temperatura e na sensação térmica. Sob uma noite de céu limpo, os termômetros urbanos marcaram 17ºC naquele 19 de outubro, enquanto as ruas nos arredores do metrô Barra Funda já iam formando, a partir dos pedestres, um prelúdio de vida noturna da capital paulista.


Perto dali, a calçada da Francisco Matarazzo, na altura das costas do Espaço Unimed, era preenchida por burburinhos de aglomeração que iam aumentando conforme a Audio Club se aproximava. Em sua faxada, vendedores desfilavam diferentes oralidades mercantis, atraindo considerável número de pagantes por um souvenir do show que aconteceria, ali, em algumas horas.


Dentro da Audio, já às 19h30, os setores se encontravam encorpadamente ocupados por um público ansioso pelo gosto lascivo do Steel Panther. Entre bandeiras estendidas no mezanino, a casa já se encontrava com uma pista premium bem ocupada na marca de 20h24. A essa altura, a plateia se apoiava ao som do playback, repleto de clássicos do hard rock, como forma de suavizar a espera angustiante pelo início do show.   


Formada majoritariamente por um grupo de pessoas na faixa dos 30 anos, a plateia, sob o visual glam, com direito a bandanas, calças justas estampadas com listras de onça, e o look clássico do rock, à base de roupas pretas, se excitava a cada minuto andado rumo ao momento da apresentação.


Um cenário precário, porém, era visto na pista comum, que já às 20h46, se encontrava praticamente vazia. Sendo a hora, o dia ou o local marcado para dar vida ao aguardado espetáculo, vista do todo chegava a ser desanimadora por ter grandes diferenças de volume de público entre as pistas.


Às 21h e sob o som reverberante de um público ecoando "Steel Panther” em frases de ordem, o palco foi preenchido por uma iluminação avermelhada e o Steel Panther enfim entra em cena e introduz Eyes Of A Panther. Sexy, explosiva e contagiante, a canção fez com que a plateia, aos gritos e assobios, esboçaram sorrisos elétricos cantando em coro o refrão, além de responder à interação de Michael Starr, que entoava firmes ‘heys’ estendendo os braços em pose de comando.


Instigando o público a pular, o que foi prontamente obedecido, o grupo puxou Let Me Cum In, faixa cheia de zoação sexual entre Starr, Sacthel e Spyder que, inclusive, se posicionaram no centro do palco em um cenário cômico e debochado de encochamento coletivo.


Nesse aspecto, Satchel foi um verdadeiro personagem caricaturesco de um verdadeiro orador da turma de ensino médio, cheio de testosterona acumulada e um senso de excitação incontrolável. “This is amazing! We’re finally in Brazil, in my favourite city called São Paulo!”, comemora. “Nós amamos peitos!”, arrisca ele com seu português rígido.


Tomando o palco para si, o guitarrista ainda aproveitou para zoar o próprio vocalista. Com feição séria, mas animada, em um verdadeiro estado de deboche, ele pega o microfone para si e comunica: “I’d introduce you to the best singer in the world. But, sorry, here’s not here tonight”, disse ele rindo com os olhares mirados em Starr.


Depois de uma interação regada a risos e piadas, o Steel Panther reassume sua forma de banda e inicia Asian Hooker. Durante a execução da faixa, Starr fez seu primeiro grande feito: olhou para a plateia, em suas próprias palavras ‘à procura da garota mais asiática da cidade. Foi então que, ao seu comando, os seguranças puxaram ao palanque uma garota com as qualidades buscadas: olhos puxados e, portanto, aparência asiana. Em forma de uma figurante perdida, a menina acabou perambulando e dançando ao lado dos integrantes durante toda a canção.


Após executarem uma sequência potente e arrasadora de canções, como The Burden Of Being Wonderful, Friends With Benefits e um rápido solo de guitarra, foi chegado um grande momento. Com seus 14 anos, mas uma jovialidade invejável pelo seu caráter provocativo e menosprezante, Death To All But Metal foi introduzida. Cantada a plenos pulmões por uma plateia ensandecida, a faixa ainda foi sucedida, ao comando de Starr, por gritos de ordem da palavra ‘metal’, organizadamente divididos por setores do público.


Passadas as músicas 1987 e Ain’t Dead Yet, balada em que parte dos integrantes mudaram suas posições, tendo Starr ao violão e Stix Zadinia no teclado, outro momento memorável se anunciou. E foi como outro momento de uma interação impossível de manter as feições sérias.


Foi então que a banda puxou outra garota ao palco, a colocou sentada em um banco na frente do palco, e a fez de protagonista absoluta daquele momento. Chamada Kin, a garota foi inspiração para que Satchel, Stix Zadinia e Starr fizessem suas respectivas serenatas de amor, declarações direcionadas inteiramente a ela. Tal cenário acabou sendo um hilário interlúdio para Girl From Oklahoma.


Eis então que ocorreu o bizarro em sua forma mais denotativa possível. Uma balbúrdia lasciva. Uma farra absurda de tão insana. Para introduzir Community Property, a mando de Starr, qualquer garota que quisesse subir ao palco era bem-vinda. Resultado, o palco ficou cheio de garotas das mais diferentes personalidades, se tornando em um verdadeiro harém.



Com as garotas ainda no palco, a banda puxou Party All Day (Fuck All Night). Faixa teve grande receptividade pelo público, que pulou histericamente em seu início e cantou, a plenos pulmões, o refrão “Whoa, hey, hey, hey! Fuck all night and party all day!”. 


O curioso foi que, mesmo depois de a banda sair do palco, a plateia continuou, de própria vontade, a proclamar o refrão enquanto pedia, em frases de ordem, a volta do grupo para a realização do bis. 



Depois de uma brevidade, Zadinia, Satchel, Starr e Spyder retornaram aos seus postos e puxaram Gloryhole, canção que teve uma plateia aos pulos e fazendo dos braços uma extensão da mão chifrada em um desenho único que dominou a Audio.


Eis que Party Like Tomorrow Is The End Of The World foi introduzida como a canção que levaria a performance ao seu derradeiro fim. A canção foi responsável por também ter um público em estado insano, pulando e cantando todo o tempo, além de fazer valsas rígidas de mãos chifradas. Como grand finale, Starr tomou o microfone para si e perguntou ao público: “If we come back, will you see us gain?”, ao que foi respondido por um estrondoso ‘yeah’, o deixando com visível feição de satisfação e trabalho cumprido enquanto, às 22h41, deixava o palco junto aos seus companheiros de banda.



Como previsto, o show foi regado a excessos. Excesso de comicidade, de pontualidade, de sincronia, de pressão e qualidade sonora e, por que não, de verbalidade. Um verdadeiro cenário de descontração a ponto de parecer que quem estava no palco definitivamente não estava a mando do trabalho, mas, simplesmente, em prol da mais pura, honesta, lasciva, imatura e púbere diversão.


Não à toa que, durante, o show, o Steel Panther, a partir dos porta-vozes Satchel e Starr, se mostrou ser um exímio mestre de cerimônia. Com seus longos discursos majoritariamente realizados pelo guitarrista, a banda não apenas soube dominar o público com seu carisma, mas, também, soube fazer com que o próprio público fizesse parte da festa como protagonista e não apenas como mero espectador.


Nesse sentido, entre o simples ato de convidar a plateia a cantar junto, bater palmas ou entoar gritos de ordem, o grupo ousou por, em diversas vezes, fazer do público uma extensão do palco. Não por acaso, houve momentos em que o palanque foi completamente tomado.


A exemplos disso estão as faixas Asian Hooker, Girl From Oklahoma e a caótica Community Property. Afinal, durante as canções, não apenas o Steel Panther foi protagonista, mas, também, as convidadas. Cheios de lascividade, especialmente no momento em que Kin subiu ao palco, o grupo não se envergonhou em momento algum por seus insistentes pedidos para que a garota mostrasse seus peitos, o que aconteceu, mas somente o sutiã, desanimando especialmente Satchel e Starr.


De canções propriamente ditas, o show teve seis pontos altos. E as faixas responsáveis por eles foram Eyes Of A Panther, Let Me Cum In, Death To All But Metal, Party All Night (Fuck All Day), Gloryhole e Party Like Tomorrow Is The End Of The World. Durante as músicas, o público respondeu bem aos incentivos de Starr, pulando, cantando e transformando o ambiente em um verdadeiro festival de mãos chifradas. 


Na somatória das coisas, o Steel Panther provou ter dinamismo, química e um controle invejável da plateia, com seus discursos recheados de besteirol e atitudes lascivo-cômicas. Produzindo um som forte e potente, além de ser abraçado por uma iluminação de tons pasteis majoritariamente rosados, o grupo fez de sua segunda passagem pelo Brasil, e a primeira como atração solo, uma verdadeira festa.


Personificado como a figura de bobo da corte, o grupo, que proporcionou a Spyder experienciar o país pela primeira vez, fez o choro ser proibido, mas o riso, ser liberado, sem exceção, por toda a 1h41 minutos da mais pura interação cômico-musical.

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Sobre o crítico musical

Diego Pinheiro

Quase que despretensiosamente, começou a escrever críticas sobre músicas. 


Apaixonado e estudioso do Rock, transita pelos diversos gêneros musicais com muita versatilidade.


Requisitado por grandes gravadoras como Warner Music, Som Livre e Sony Music, Diego Pinheiro também iniciou carreira internacional escrevendo sobre bandas estrangeiras.