Billy Idol - The Cage

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Aos 66 anos e um ano e seis dias após o anúncio de The Roadside, o inglês Billy Idol retoma suas atividades ao estúdio e divulga seu novo trabalho. No mesmo período em que quebra um hiato de 31 anos sem se apresentar no Brasil, Idol lança The Cage, seu terceiro EP.


Um amanhecer quente que, mesmo linear, consegue fazer crescer gradativamente a excitação, é exposto através de uma guitarra em riffs afinados e em processo de despertar. Steve Stevens, junto dos bumbos presentes de Zakk Cervini, quem começa a definir a cadência rítmica da canção ainda em maturação, consegue construir um ambiente ensolarado e contagiante a ponto de trazer o pop ao punk tão consolidado de Idol, que logo surge no comando do microfone. Afinado em seu timbre agudo, o cantor mostra raspas de drives enquanto entra em sincronia com a melodia de Cage, uma canção de refrão explosivo e enérgico cuja estruturação foi pensada na participação do público em suas performances ao vivo, algo visível a partir das palavras cantadas em coro e em tom de ordem combatente por nomes como Tommy English, Joe Janiak e Adam Hitchell. Com notável swing, Cage é um produto sensual que imerge na roupagem hard rock enquanto expõe a forma como o cantor lidou com o isolamento e os efeitos da pandemia em seu próprio estado emocional. Raiva, desilusão, desesperança e uma vontade desmedida por liberdade. Um grande abre-alas para The Cage.


Ao lado do piano de notas pausadas e graves exercidas por Janiak, Idol faz a introdução dramática e em pausas reflexivas de uma canção harmonicamente melancólica e sofrida que conta com uma instrumentação que desenha frases com flertes com o flamenco enquanto o coro vocálico traz uma harmonia épica, gélida e comovente. Silêncio repentino. De súbito, uma explosão áspera e potente dominada pela guitarra distorcida em graves riffs ácidos e pela bateria de Erik Eldenius, que introduz ainda mais pressão ao turning point melódico, é construída. Assim se faz a apresentação de Running From The Ghost, uma canção que narra a relação do personagem lírico com o passado, com as dores e a culpa de eventos que não mais podem ser experienciados ou mudados. Desolado, insensível, desesperançoso e consciente de um falso merecimento de salvação, tal como diz nos versos “don't you pray for me” e “It's too late for me”, o interlocutor de Running From The Ghost, como o próprio nome sugere, foge a todo custo de tais memórias como única forma de se ver livre do remorso. Curioso notar que, mesmo intensa e intensamente dramática, Running From The Ghost, faixa cuja estrutura harmônico-melódica se assemelha àquela de This I Love, single do Guns and Roses, assim como Cage, tem em si uma estruturação melódica cativante.


Um som de motor de moto sendo ligado é ouvido enquanto o sonar do andar da motocicleta vai ficando gradativamente distante é ouvido. Eis que uma levada popeada, mesmo com a presença de uma guitarra distorcida, é estruturada de maneira a já convidar o ouvinte a mergulhar naquilo que promete ser a melodia mais contagiante de The Cage. De vocal mais selvagem e ousado, Idol coloca notas selvagens que introduzem uma energia descompromissada, espontânea e até mesmo debochada para a canção. Convidando o ouvinte para imergir no reencontro de outro indivíduo tão ousado e embebido no mesmo desmedido senso de liberdade que o personagem principal, Rebel Like You tem um quê de romance cinematograficamente perigoso que tem, no pandeiro, o principal elemento na construção do compasso rítmico.


Alegre e misturando swing com sonares eletrônicos também criados pelo teclado de Grant Michaels, o novo cenário é embebido de um groove funkeado bojudo e generoso construído pelo baixo de Butch Walker que oferece uma melodia diferenciada a The Cage até mesmo em relação ao que foi oferecido em Running From The Ghost. Ainda mais radiofônica que Rebel Like You, Miss Nobody tem nos backing vocals de Zelma Davis o elemento que cria o contágio, quebra a acidez do timbre de Idol e representa a personagem central, a senhora Ninguém. De enredo penetrante, intrigante e envolvente, a canção conta a história de uma mulher imponente, graciosa, satisfeita em sua condição de solteira, mas aberta e disposta a conhecer pessoas que possam transformar sua vida.


Um trabalho que mostra e reafirma a capacidade de Billy Idol em compor canções cativantes e penetrantes. The Cage mostra, inclusive, que o inglês consegue fundir elementos de outros gêneros musicais sem perder aquela essência punk que fez seu nome nos anos 80. 


Introduzindo ares debochados, sensualidade e potência, The Cage dialoga sobre a pandemia e seus efeitos de forma a evidenciar, em todos os seus quatro capítulos, a vontade e a necessidade pela liberdade, bem como a saudade do senso de intensidade. Ainda assim, o EP também é agraciado por uma faixa intimista que surpreende o ouvinte.


Running From The Ghost é dramática, melancólica, sofrida e dolorosa. Uma faixa que explora outros tipos de harmonia que não aquelas típicas de Idol com seu punk-hard rock sensualizado como Rebel Yell. Até porque, ela traz uma melodia que insere frases melódicas flamencas que criam outra maneira der comunicar o sofrer.


Além do flamenco, The Cage é um EP que, com auxílio de Cervini também na mixagem, oferece ao ouvinte uma base punk embebida em sonoridades como a do pop, hard rock, do rock alternativo, new wave e pitadas de heavy metal. Uma estética rítmica que permite ao ouvinte se sentir novamente na passagem dos anos 70 com a era de 80.


Isso foi possível também graças à produção exercida em união entre Cervini e English. A dupla auxiliou o batizado William Albert Michael Broad a fazer um caminho que o permitisse a experimentação sem sair de sua zona de conforto. Um caminho que o ajudou a mostrar sua capacidade de composição e a ressolidificar seu nome na cena musical.


Lançado em 23 de agosto de 2022 via BFI Records, The Cage é um EP penetrante e enérgico. Um EP que consegue ser radiofônico sem ser apelativo. Um trabalho que traz Billy Idol como mais uma figura que auxilia a popularizar o rock em um período que o coloca às margens do mainstream. 











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Sobre o crítico musical

Diego Pinheiro

Quase que despretensiosamente, começou a escrever críticas sobre músicas. 


Apaixonado e estudioso do Rock, transita pelos diversos gêneros musicais com muita versatilidade.


Requisitado por grandes gravadoras como Warner Music, Som Livre e Sony Music, Diego Pinheiro também iniciou carreira internacional escrevendo sobre bandas estrangeiras.