Rozzi - Berry

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Um ano após o anúncio de Hymn For Tomorrow, a californiana Rozzi retoma os holofotes ao lançar seu quinto EP. Intitulado Berry, o trabalho segue dando força ao trabalho musical da também atriz Rosalind Elizabeth Crane, descoberta por Adam Levine em 2010.


O macio melancólico que vai amanhecendo de maneira paulatina a partir das notas aveludadas do fender rhodes é como uma brisa de outono carregando os aromas das flores que ainda persistem em florescer. Rompendo esse embriagante e entorpecido conforto amaciado vem uma voz firme, grave e rouca. É Rozzi trazendo um lirismo que exala um torpor que incomoda o eu-lírico. Uma espécie de sentimento amorfinado que impede o experienciar das emoções. Entre falsetes e melismas imputando uma estética R&B à melodia, o que acontece em I Guess I’m The Bad Guy Now é a descrição de um alguém que ainda está vivenciando o sentir das cicatrizes de outro relacionamento, uma pessoa que ainda tem medo de sofrer as mesmas coisas e de tropeçar nos mesmos degraus. De sonoridade minimalista, I Guess I’m The Bad Guy Now é sobre o querer sentir e amar de novo.


De vocal mais aberto, Rozzi surge com um timbre que conota um ânimo maior em relação ao presente na canção anterior. Guiada por um riff melódico e elétrico vindo da guitarra executada por Nile Rodgers, a melodia em construção sugere um ritmo calcado na estética pop punk, algo que se concretiza no decorrer da estruturação sonora. Narrando a história de uma personagem complicada, impulsiva, platônica e superprotetora que desperta o coração de outro alguém paciencioso, Consequences é uma faixa que conta simplesmente a força do amor e o que a pessoa é capaz de fazer por aquele alguém que encantou seu coração. Tudo isso sob uma alegria extasiante que remete às melodias de músicas tanto da Katy Perry quanto da Carly Rae Japsen.


A melodia é macia como um travesseiro. Sua sensualidade remete ao veludo do lençol banhado pela luz morna de um Sol poente. Minimalista, a canção é puxada pela união do vocal com suspiros repentinos e amenos da guitarra de Eric Leva. Conforme a canção vai crescendo, a melodia vai tomando corpo e ganhando um novo elemento: um baixo suave e encorpado executado por Alex Wolff que amplifica a sensualidade presente na melodia. Não por acaso, Fflow é mais uma canção de Berry que tem como tema central o amor. Aqui, porém, o amor é paixão, o amor é entrega, o amor é calor. É a narrativa de uma paixão adolescente vivida já na maturidade.


O violão de riffs adocicados traz um aroma bucólico e uma roupagem folk que cativa e atrai o ouvinte com seu conforto irresistível. Acompanhado em seguida por um baixo encorpado que amplifica a sensação de pureza e suavidade, o instrumento segue sendo o guia sonoro da melodia. Com sonorização completa assinada por Wendy Wang, a faixa-título cria não apenas um cenário interiorano, mas também oferece um aroma juvenil que é sustentado por um enredo lírico sobre uma pessoa que se utiliza de artifícios ilícitos para mesclar a consciência da realidade do amadurecimento. É uma canção que fala de maneira genuína do medo de crescer.


A guitarra chega com um riff levemente azedo e embriagante. Eis que o que se segue é um canto que exala cansaço, um cansaço que beira a desistência e o puro esgotamento físico. Apesar da melodia linear e extremamente minimalista, existe uma dramaticidade latente que impregna o sentimentalismo do ouvinte, que se percebe fisgado pelo lirismo quase de desabafo de um personagem que se entrega para outro alguém, mas não recebe o mesmo valor. Rock Bottom é, sob outra perspectiva, uma música totalmente sonorizada por George Moore que trata de uma pessoa impulsiva que não consegue reconhecer a ajuda nem o amor que recebe de outro alguém. 


Com um veludo swingado e amaciado trazido pelas notas do fender rhodes, a melodia já insere certo grau de leveza que é acompanhada pelo vocal de cadência sutilmente acelerada. Fluindo para um pop misturado de R&B de maneira a trazer uma semelhança estilística com a melodia de So Sick, single do Ne-Yo, Clouds fala a respeito de uma relação desgastada pela diferença de maturidade entre as partes, mas cujo amor consegue deixar no ar a promessa de um possível reencontro.


Um trabalho macio e contagiante. Berry é um EP que exala ingenuidade e pureza, mistura jovialidade e os medos presentes na passagem para a vida adulta. Sem qualquer tipo de questionamento, este é um trabalho que representa a impulsividade e a intensidade juvenil.


Tendo na maioria das vezes o amor como tema das canções, Berry dialoga sobre entrega, sobre estímulo, sobre autovalorização. Liricamente, o extended play passa por todas as facetas de sentimentos que o amor pode oferecer a alguém. Sempre narrado, claro, com leveza e pitadas de swing.


Isso foi resultado do entrosamento entre o time de produtores composto por nomes como Leva, Rodgers, Moore e Wang com o engenheiro de mixagem Delbert Bowers. A comunicação entre eles fez com que sonoridade, energia e mensagem lírica se combinassem de maneira homogênea e equalizada. 


Foi dessa química que Berry conseguiu soar pop, R&B, pop punk e folk. Foi assim que o EP atingiu o feito de contagiar o ouvinte a partir de uma sonoridade agradável que sempre é abraçada pelo vocal forte de Rozzi, um vocal cujo timbre muito se assemelha ao de Adele.


Lançado em 22 de abril de 2022 via BMG, Berry é um EP que representa os anseios e os medos juvenis ao mesmo tempo que dialoga com todas as facetas do amor. É um trabalho honesto e que exala a pureza e a ingenuidade adolescente de maneira contagiante.

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Sobre o crítico musical

Diego Pinheiro

Quase que despretensiosamente, começou a escrever críticas sobre músicas. 


Apaixonado e estudioso do Rock, transita pelos diversos gêneros musicais com muita versatilidade.


Requisitado por grandes gravadoras como Warner Music, Som Livre e Sony Music, Diego Pinheiro também iniciou carreira internacional escrevendo sobre bandas estrangeiras.