Flerte Flamingo - Outras Duas Músicas de Flerte Flamingo

NOTA DO CRÍTICO
Nota do Público 5 (1 Votos)

Terceiro volume. Um susto. Nova estruturação para produção. De Salvador para Guarajuba, ambas na Bahia. O quarteto Flerte Flamingo levou, para a cidade, poucas roupas e instrumentos musicais. Imersão. Assim nasceu o terceiro capítulo da série Duas Músicas de Flerte Flamingo. Outras Duas Músicas de Flerte Flamingo já está, inclusive, disponível nos streamings.


Um clima de suspense new wave é instaurado. Sons ácidos se misturam com veludo. Teclado e guitarra criam uma dicotomia entre algo acústico e tecnológico. No instaurar do primeiro verso, a guitarra base de Rodrigo Santos perambula pela melodia com dedilhares quase como um personagem onipresente enquanto a bateria de Igor Quadros desenha uma métrica 4x4 no compasso do blues que, por vezes, até mesmo soa propositalmente truncada. De repente, o vocal completa a harmonia. De timbre agridoce e suave, Leonardo Passovi enfeita o ambiente com salpicares de drive, fator que dá um sabor mais acentuado à conjuntura rítmica de (Sozinho) A Gente Pensa no Conflito. É curioso que, em uma canção que trata, como o próprio nome sugere, de conflitos em um relacionamento e a busca dos motivos de suas causas, a estrutura sonora se divide entre momentos de caos a partir do misto de synth-pop e new wave, e de uma calmaria anestesiante por meio das linhas do violão em roupagem MPB.


Uma atmosfera de difícil caracterização. Há elementos psicodélicos, ao mesmo tempo em que o groove do baixo de César Neto imputa corpulência e cadência rítmica em meio a uma sonoridade suave e estimulante. De certa maneira, essa conjuntura construiu uma roupagem inclinada ao indie rock que, quando Passovi recebe a companhia de Neto e Santos nos vocais, esse coro espalha um tempero de sabor melancolicamente nostálgico em Rua Cidade Nova. A imersão nesse sentimento acaba evaporando de maneira rápida e indolor com a entrada definitiva do primeiro verso, momento em que a narrativa lírica se mostra a falar de amor. 


Como água acompanhando o curso de um rio. Como o vento caminhando por entre as frestas dos troncos e pedras. Como o barulho das ondas. Outro (Dia Sem Pôr do Sol em Guarajuba), uma música de coro monossilábico cuja em perfeita sincronia e afinação é rodeada por um violão de riffs lineares que bebem da escola MPB. 


Outras Duas Músicas de Flerte Flamingo mostra, acima de tudo, uma banda cuja sonoridade é competente e sincrônica. Apenas pela melodia, o ouvinte consegue notar a existência de uma química entre os integrantes que transborda por meio das notas instrumentais e pelo próprio ambiente macio e sutilmente alucinógeno criado pelas canções.


Apesar de apenas conter três faixas, o EP conseguiu transitar por gêneros musicais que vão do new wave, transitam entre o synth-pop e chegam ao indie rock. Produzido por Fernando Tavares, Outras Duas Músicas de Flerte Flamingo é um conforto sonoro inquestionável.


É curioso que esse conforto surja a partir até mesmo de uma arte de capa elementarmente simples. Feita por Gabriel Dantas, a junção do mar e de folhas tropicais em tons que transitam entre aspectos pasteis e quentes, ela transmite a ideia de fluidez, mas também de tranquilidade e beleza. Todos fatores encontrados no relacionamento, o tema lírico esmagadoramente majoritário do EP.


Falando de amor e seus consequentes conflitos, a obra do Flerte Flamingo é uma porta aberta às reflexões sobre atos impositivos e comportamentos desagradáveis em uma relação, mas também é uma luz sobre a beleza da partilha e do encontro de almas gêmeas.


Lançado em 28 de maio de 2021 via Rockambole, Outras Duas Músicas de Flerte Flamingo é um trabalho infelizmente curto. Mas sua qualidade de som e afinação vocal de todos os integrantes de Flerte Flamingo faz dele um produto audivelmente proveitoso e lança luz a um grupo de futuro promissor.

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Sobre o crítico musical

Diego Pinheiro

Quase que despretensiosamente, começou a escrever críticas sobre músicas. 


Apaixonado e estudioso do Rock, transita pelos diversos gêneros musicais com muita versatilidade.


Requisitado por grandes gravadoras como Warner Music, Som Livre e Sony Music, Diego Pinheiro também iniciou carreira internacional escrevendo sobre bandas estrangeiras.